Demitido da Abin diz que apurações sobre software começaram sob sua gestão
Exonerado da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o ex-número 2 do órgão, Alessandro Moretti, disse que as apurações sobre software de espionagem começaram sob sua gestão.
O que aconteceu
Moretti afirmou que investigações começaram após determinação dele, à época como Diretor-Geral em exercício. "Com a instauração de sindicância investigativa pela Corregedoria-Geral", disse, em nota após ser exonerado por ter o nome ligado à chamada "Abin paralela".
Segundo ele, a Abin colaborou diretamente e enviou informações à PF. "Todo o material probatório coletado e produzido pela Abin foi compartilhado com a Polícia Federal, que também teve atendidas todas suas solicitações à Agência. Por esta razão, grande parte do material que instrui o inquérito da PF é fruto da apuração conduzida com total independência na Abin", afirmou.
O delegado agradeceu ao chefe da Abin "pela confiança e profissionalismo". "Agradeço a oportunidade de trabalhar nesta Agência que tanto respeito e de ter podido contribuir com seu processo de modernização, do modo como sempre atuei nos meus 33 anos de serviço público, na proteção da sociedade brasileira, como servidor de Estado", escreveu.
O conhecimento estratégico difundido pela Abin, indispensável para o país e essencial para a proteção de nossa sociedade, é produzido por profissionais altamente capacitados e compromissados. O fortalecimento da Abin, como instituição de Estado, deve ser uma busca constante, e não dispensa o reconhecimento e respeito aos seus dedicados servidores Alessandro Moretti
Exoneração
O presidente Lula assinou a exoneração do número 2 da Abin no início da noite de ontem. Uma edição extra do DOU (Diário Oficial da União) foi publicada nesta terça-feira (30).
O cientista político Marco Aurélio Cepik já foi nomeado para o cargo. Atual chefe da Escola de Inteligência da Abin, ele é historiador, doutor em ciência política e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É visto como referência acadêmica na área de inteligência.
Outros quatro servidores da diretoria da Abin foram dispensados, porém os nomes não foram divulgados. Sete servidores também foram designados para cargos na diretoria.
'Abin paralela'
Alessandro Moretti foi citado nominalmente pela PF por suposto conluio com investigados em esquema de monitoramento ilegal na agência durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). A decisão para demiti-lo foi tomada após uma longa reunião com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) na segunda-feira (29).
No Planalto, Moretti é visto como "bolsonarista", mas Lula justificou sua manutenção em 2023 por indicação do atual chefe da Abin, Luiz Fernando Corrêa. A demissão de Corrêa chegou a ser debatida na reunião, mas o presidente decidiu segurá-lo no cargo — pelo menos por ora.
Lula já havia afirmado que não havia clima para Moretti continuar. Segundo o presidente, foi "provado" que Moretti mantinha relação com ex-integrantes do governo passado, a exemplo do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foi chefe da Abin.
A Abin, tradicionalmente parte do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), foi transferida por Lula para a Casa Civil. Quando tomou essa decisão, o presidente esperava diminuir a tendência de "bolsonarização" do órgão.
Esse companheiro [Corrêa] montou a equipe dele, dentro da equipe dele tem um cidadão [Moretti] que é o que está sendo acusado, que mantinha relação com o Ramagem, que é o ex-presidente da Abin no governo passado, inclusive relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin. Olha, se isso for verdade, e isso está sendo provado, não há clima para esse cidadão continuar na polícia.
Lula, em entrevista
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Quero receberQuem é Moretti
Delegado da PF, ele foi braço direito de Anderson Torres. Moretti atou como secretário-executivo da Segurança Pública do Distrito Federal entre 2019 e 2021, na primeira gestão de Torres.
Moretti foi diretor de Inteligência Policial (2022 a 2023) e de Tecnologia da Informação e Inovação (2021 a 2022) da PF na gestão Bolsonaro. Também foi diretor de Gestão e Integração de Informações da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), em 2020.
No início dos anos 2000, Moretti foi um dos responsáveis por investigar a guerra dos caça-níqueis no Rio de Janeiro. Ele também atuou na investigação que prendeu o maior contrabandista do país, o empresário Law Kin Chong, em São Paulo.
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