Bolsonaristas ficam entre silêncio e reação acéfala após operações da PF
Sem uma voz de comando para estabelecer diretrizes e oferecer argumentos, o bolsonarismo reage às operações da PF com respostas confusas, reclamações e omissão de deputados.
O que aconteceu
Jair Bolsonaro tem uma lista de transmissão no WhatsApp pela qual repassa material para parlamentares aliados. As primeiras mensagens, muitas vezes notícias, costumam chegar antes das 6h. Foi assim na segunda, horas antes de a Polícia Federal realizar uma operação na casa onde estava o vereador Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente.
Mas, até agora, ele não enviou nenhuma orientação à base de deputados sobre como reagir às investigações. O resultado é uma resposta descoordenada em argumentos e carente de uma unidade de raciocínio.
A primeira medida prática só foi ocorrer 48 horas depois da operação. Ontem de manhã, um grupo de senadores, incluindo Flávio Bolsonaro (PL-RJ), se reuniu com o presidente do Congresso, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Eles cobraram uma resposta para o que chamaram de "perseguição" do STF (Supremo Tribunal Federal).
Sem 'missões' para os deputados
Aliados de Bolsonaro disseram ao UOL reservadamente que estão prontos para "cumprir missões". Mas eles se queixam de que não foram procurados pelo ex-presidente.
Sem comando, deixaram de dar entrevistas e responder sobre as ações. Como consequência, de acordo com os bolsonaristas, a Polícia Federal domina a narrativa, sem um contraponto da direita.
Os deputados afirmam que a falta de gestão e de organização não são novidades. Isso também acontecia quando Bolsonaro era presidente, durante a campanha eleitoral de 2022 e ainda em outros momentos.
Mas, desta vez, faz com que deputados tenham diferentes interpretações e explicações. Uns veem uma ofensiva jurídica do ministro Alexandre de Moraes, do STF, enquanto outros entendem como evolução lógica das apurações.
'Tempestade Moraes' se aproxima
Parte dos aliados do ex-presidente enxerga nas três operações recentes o começo de uma ofensiva. Polícia Federal e Procuradoria-Geral da República agiriam sob comando de Alexandre de Moraes num ataque direto à direita.
A "tempestade Moraes" estaria somente no começo, na avaliação de um bolsonarista sob investigação. Ele disse ao UOL que prestou depoimento no começo do segundo semestre de 2023, mas seu caso não andou desde então.
De agora até as eleições de outubro, haverá vazamentos e operações contra alvos ligados ao ex-presidente, segundo sua avaliação. O desgaste seria maior para os atingidos com essa rotina de dados sigilosos que garantiriam manchetes nos principais sites, repercussão nas redes sociais e um bombardeio ao capital político do bolsonarismo.
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Quero receberMoraes acumulou arsenal. Ele citou os casos da "Abin paralela", a delação do tenente-coronel Mauro Cid, a apuração sobre as joias sauditas e a falsificação do cartão de vacina de Bolsonaro.
Outra parte dos bolsonaristas pensa diferente. Enxergam as operações atuais como uma evolução lógica das investigações, ainda que também reclamem de perseguição e foco eleitoral.
Eles demonstram preocupação, mas apostam na resiliência de Bolsonaro. Ressaltam que monitoramentos não indicam a deserção de apoiadores.
Sanguessugas e sumidos
A falta de comando também gera reações individuais e divergentes. Enquanto uma fatia dos bolsonaristas raiz promete resistir, outros submergiram. Pessoas que convivem com Bolsonaro reclamam da reação de muitos parlamentares. Argumentam que vários se limitaram a fazer um post nas redes sociais e nem ligaram para o ex-presidente.
Alguns deputados são vistos como sanguessugas. Conseguiram votos colando sua imagem a Bolsonaro, engordaram as redes sociais com fotos abraçados a ele e agora sumiram.
Existe ainda queixa quanto a falta de trabalho nos bastidores. Um aliado de Bolsonaro ressaltou que os deputados não ligam para dar sugestões jurídicas, não investiram em criar pontes com a PF e o Judiciário e não promoveram agendas para defender Bolsonaro.
Grandes líderes mundiais sofreram perseguições implacáveis, com Bolsonaro, não é diferente. É incrível a resiliência que esse homem tem. O Flávio, o Carlos, o Eduardo e o capitão sairão vencedores desse entusiasmo injusto e cego que distorce, machuca, contamina e erra.
-- Valdemar Costa Neto (@CostaNetoPL) January 30, 2024
A?
Foi elogiada a atitude do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Ele é descrito como um aliado que mantém a fidelidade. Talvez apenas isso tenha evitado que integrantes do "PL centrão" tenham tentado abocanhar o poder do bolsonarista raiz. Nesta semana, por exemplo, as indicações de candidatos a prefeito não foram motivo de disputa.
Isso também foi visto como indicativo de um Bolsonaro empoderado no PL. O tamanho do prestígio do ex-presidente ocorreu na votação na Câmara sobre o fundo eleitoral turbinado. O PL fechou questão a favor do projeto, ou seja, deputados que votassem contra poderiam ser punidos. Muitos deles procuraram Bolsonaro dizendo que teriam prejuízos na base eleitoral. O ex-presidente deu a palavra que ninguém seria penalizado. Ninguém foi punido.
Especulação e zombaria
Advogado falou em "18 investigados". Na semana passada, Antônio Carlos de Almeida Castro, o "Kakay", deu esse número durante uma entrevista ao site de notícias ICL. Ele desfruta de intimidade com ministros do STF, por isso a informação foi levada a sério.
A afirmação repercutiu na base bolsonarista. A lista incluiria deputados mais radicais, mas muitos especularam quais nomes estariam na lista.
Somente neste mês, houve várias ações contra aliados do ex-presidente. Carlos Bolsonaro e os deputados Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Carlos Jordy (PL-RJ) foram alvos de buscas e apreensões. Já o general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI de Bolsonaro, foi convocado para depor.
Diante da situação, deputados fazem troça. Em ligações telefônicas, dizem coisas como: "Você sabe que o Moraes vai escutar nossa conversa". Outro deputado escreveu no WhatsApp: "Prefiro falar por escrito. Assim a PF consegue ter acesso sem precisar tirar meu celular".
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