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'Nem tive coragem de ler', diz Caiado sobre decisão de censurar livro em GO

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), afirmou que não ter lido todo o livro "O Avesso da Pele", que foi recolhido ontem das escolas estaduais.

Caiado disse que só leu uma parte da obra e a classificou como "promiscuidade plena". "Eu nem tive a coragem de ler, eu li o pedaço que foi publicado [nas redes sociais]", afirmou o governador.

O governador participou do UOL Entrevista, com apresentação de Diego Sarza e dos colunistas do UOL Josias de Souza e Carla Araújo.

Realmente, eu até ler aquilo que está lá, eu não acreditava. Não posso imaginar que aquilo seja censura. Aquilo é promiscuidade plena, aquilo ali não tem nada educativo, aquilo ali é um absurdo, aquilo que está ali publicado. Quer dizer, onde se quer chegar com o texto daquele na formação de uma criança, onde quer chegar com aquilo? Aqueles termos chulos ali colocados, como se isso fosse método educativo. Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás

Obra está na mira de bolsonaristas

Ao mandar retirar o livro, o governo de Goiás segue a mesma determinação do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), que pediu o recolhimento dos exemplares na segunda-feira (4) — ambos são aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Goiás afirma que o recolhimento tem o objetivo de "assegurar" que a obra possa "efetivamente contribuir com o desenvolvimento" dos alunos. O Paraná também afirmou que fará uma análise do livro.

O livro faz parte do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) e foi incluído na lista de obras literários para o ensino médio em 2022 — durante o governo Bolsonaro. O livro passou por uma análise de professores, mestres e doutores que fazem parte do banco de avaliadores do MEC. Após a avaliação, o título foi aprovado e apresentado às escolas junto de mais de 500 outras obras literárias.

O programa do MEC também dá autonomia para que os professores e gestores escolham os livros que chegarão às escolas. "O Avesso da Pele" faz parte também das obras literárias abordadas no vestibular do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), considerado o mais difícil do país.

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Vencedor do Prêmio Jabuti em 2021, o livro é do escritor e professor Jeferson Tenório, colunista do UOL. Na obra, ele retrata a história de um jovem negro que teve o pai, um professor de literatura também negro, morto pela polícia em Porto Alegre — o racismo e a violência são temas centrais da narrativa.

As críticas ao livro começaram após a publicação, em redes sociais, de uma diretora de uma escola do Rio Grande do Sul. Ela afirmou que a obra apresenta "vocabulários de tão baixo nível para serem trabalhados com estudantes do ensino médio". A secretaria da Educação do RS afirmou que o livro está mantido nas escolas.

Assista à íntegra do UOL Entrevista com Ronaldo Caiado

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