Vida em Cuba, plástica e condenação: os altos e baixos de José Dirceu

O ex-ministro José Dirceu reuniu parte relevante da elite política do país em seu aniversário na noite desta quarta-feira (13). Segundo a colunista do UOL Thais Bilenky, o evento o ajudou a medir a temperatura de um possível retorno seu à política institucional.

Relembre os altos e baixos da vida de Dirceu

Fotos do Arquivo Nacional mostram José Dirceu (dir.) na época da ditadura
Fotos do Arquivo Nacional mostram José Dirceu (dir.) na época da ditadura Imagem: Alan Marques/Folhapress

Início da vida política e prisão na ditadura. José Dirceu começou sua atuação política como líder estudantil enquanto estudava direito na PUC de São Paulo. Ele foi preso em 1968, durante a ditadura militar (1964-1985), com centenas de outros estudantes que também participavam do 30° Congresso da União Nacional dos Estudantes em Ibiúna, no interior do estado.

Em 1969, o ex-ministro era um dos 15 presos políticos que foram trocados pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, sequestrado por opositores ao regime.

Então, ele foi enviado a Cuba, onde viveu como exilado político. Por sua atuação durante a ditadura, ele teve a nacionalidade cassada e foi banido do país. Em Cuba, participou do Molipo (Movimento de Libertação Popular), organização criada pelos chamados 28 da Ilha —exilados que fizeram treinamento de guerrilha e voltaram clandestinamente ao Brasil para tentar retomar a militância.

Cirurgia plástica para viver clandestinamente. Dirceu voltou ao Brasil duas vezes durante esse período: na primeira, ficou no país entre 1971 e 1972. Já na segunda, em 1974, chegou após passar por uma cirurgia plástica em solo cubano e mudar de nome —agora era Carlos Henrique Gouvêa de Melo, instalou-se em Cruzeiro do Oeste (PR) e se casou com Clara Becker, mãe do deputado Zeca Dirceu (PT-PR). Com a anistia, voltou à legalidade, em dezembro de 1979.

Dirceu foi um dos fundadores do PT, em 1980. Desde então, atuou ativamente na legenda, sendo secretário de formação política, secretário-geral do diretório regional em São Paulo e secretário-geral do diretório nacional. Em 1995, assumiu a presidência do partido e foi reeleito por três vezes.

Militância ao lado de Lula. Com a eleição de Lula, em 2002 —após participar de suas campanhas em 1989, 1994 e 1998— Dirceu assumiu o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, onde permaneceu até junho de 2005, quando o mensalão —esquema de corrupção protagonizado pelo PT— veio à tona. Então, ele deixou o cargo e retornou à Câmara dos Deputados —mas perdeu o mandato de Deputado Federal em 1º de dezembro de 2005.

13.fev.2023 - O ex-ministro José Dirceu (PT) nas comemorações do 43º aniversário da fundação do Partido dos Trabalhadores, em Brasília.
13.fev.2023 - O ex-ministro José Dirceu (PT) nas comemorações do 43º aniversário da fundação do Partido dos Trabalhadores, em Brasília. Imagem: REUTERS/Adriano Machado
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Condenação pelo mensalão. Em 2012, no julgamento do caso no STF, ele foi condenado pelo esquema de compra de votos a 7 anos e 11 meses de reclusão, mais multa, e foi preso em 15 de novembro de 2013. Porém, em 2016, a pena foi extinta com o argumento de que "o sentenciado [Dirceu] é portador de bom comportamento e não praticou infração disciplinar de natureza grave". Dirceu sempre alegou que é inocente e afirma que não há provas materiais deu seu envolvimento no esquema ilícito.

Em 2017, Dirceu foi acusado na Operação Lava Jato de lavar dinheiro de propina das empreiteiras UTC e Engevix. Durante a investigação, ele e o irmão, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, foram acusados de negociar e operacionalizar o recebimento de R$ 2,4 milhões em propinas, entre 2011 e 2014, por meio de contratos falsos de prestação de serviços de assessoria e consultoria. Ele foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Em dezembro do ano passado, o ex-ministro foi absolvido em uma ação penal da Operação Lava Jato que se arrasta desde 2017. O juiz federal Fábio Nunes de Martino, da 13ª Vara Federal de Curitiba, concluiu que o Ministério Público Federal errou na tipificação dos crimes.

*Com Estadão e reportagem publicada em 09/10/2012

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