Eleições em SP: Boulos se aproxima de empresariado, e Nunes, da periferia

Empatados tecnicamente na disputa pela Prefeitura de São Paulo, segundo o último Datafolha, Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) têm adotado estratégias para conquistar grupos diferentes de eleitores na capital.

O que aconteceu

Boulos tem dedicado parte da agenda ao empresariado nas últimas semanas. Derrotado no segundo turno nas eleições de 2020 por Bruno Covas (morto em maio de 2021), o deputado federal tenta se descolar da pecha de radical que ganhou dos adversários pela atuação no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) —seu berço político.

A ideia é ter encontro com o segmento semanalmente, dizem aliados. O UOL apurou que uma dessas reuniões ocorreu no último dia 25 com investidores da Faria Lima, o centro financeiro de São Paulo. Em dezembro do ano passado, ele esteve com um grupo de empresários na casa de José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp e dono da Amil.

Boulos também começou a se reunir com agentes ligados à segurança pública. Apesar de as polícias militar e civil serem de responsabilidade do estado, a GCM (Guarda Civil Municipal) fica sob o comando da administração municipal.

O pré-candidato terá reuniões com empresários e profissionais ligados à área de TI. Além de estreitar laços, o objetivo é receber ideias que colaborem com a elaboração de propostas para o plano de governo, de acordo com a pré-campanha.

Enquanto isso, Nunes amplia presença na periferia. O prefeito repete com frequência que cresceu no Parque Santo Antônio, bairro periférico da zona sul, frequentou escola pública e usou serviços públicos. As falas são uma provocação ao psolista, que nasceu em Pinheiros, bairro nobre da zona oeste, e se mudou para a periferia quando começou a militância política.

Nunes tem a máquina pública a seu favor. Os interlocutores do prefeito afirmam que ele pretende usar programas executados por sua gestão para se aproximar de lideranças nos bairros periféricos. Para a equipe do emedebista, a vantagem de Nunes entre o eleitorado periférico de baixa renda é sinal de que as ações têm sido notadas.

O pré-candidato à reeleição inaugurou, em maio do ano passado, um programa de visita aos bairros. A ideia é que o prefeito, ao lado dos secretários, visite um bairro por semana para realizar ações de zeladoria e prestação de serviço, além de inaugurar obras e ouvir moradores.

Em uma dessas visitas, Nunes ligou por videochamada para o funkeiro MC Don Juan. Ele falou com crianças e adolescentes que participavam do evento. "Em tudo que for pra ajudar conta com nois prefeito" [sic], comentou o músico na publicação de Nunes, em meados de fevereiro.

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No início do ano, a produtora de funk GR6 anunciou um acordo com a prefeitura para revitalizar quadras esportivas. A empresa produz músicos como o próprio MC Don Juan. "Vamos escolher 40 bairros para realizar esse projeto, cada bairro será 'apadrinhado' por um artista da GR6", escreveu a produtora nas redes sociais. A reportagem tentou contato com a empresa e o MC, mas não teve retorno — o espaço fica aberto.

A aproximação de Nunes com a periferia preocupa aliados de Boulos. Mas a pré-campanha do psolista diz que, em paralelo aos encontros com empresários, ele mantém laços e diálogo com as regiões mais distantes. Os aliados do pré-candidato acreditam que a presença do presidente Lula (PT) é um ativo importante para atrair o voto dos eleitores mais pobres — que, na avaliação deles, é um grupo que "se interessa pela eleição às vésperas do pleito".

Voto periférico deve ser alvo de intensa disputa entre os adversários. Segundo o Datafolha, Boulos se sai melhor que Nunes nos estratos de maior renda familiar (43% a 31% das intenções de voto na faixa de 5 a 10 salários mínimos e 41% a 17% na faixa superior a 10 salários). Entre as pessoas com renda de até dois salários mínimos (R$ 2.824), o resultado se inverte, e o emedebista tem 30%, contra 24% do psolista.

Como a periferia votou em eleições passadas

Progressistas têm histórico melhor na periferia. O mapa eleitoral da capital paulista das últimas disputas mostra, por outro lado, um desempenho melhor dos candidatos conservadores nas regiões centrais. Foi assim em 2004, quando Marta perdeu para José Serra (PSDB); em 2008, quando a petista foi derrotada novamente por Gilberto Kassab (então DEM); e em 2012, quando Fernando Haddad (PT) venceu Serra.

Em 2016, João Doria venceu no primeiro turno em 56 das 58 zonas eleitorais da cidade. Ele perdeu em Parelheiros e Grajaú para Marta, à época filiada ao PMDB. Em 2020, Covas venceu Boulos em 50 zonas —o psolista se saiu melhor em regiões periféricas da zona leste, como São Mateus e Cidade Tiradentes, e na zona sul, em Campo Limpo, Parelheiros, Grajaú, Capão Redondo, Piraporinha e Valo Velho.

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