Nem maior pedido de impeachment resolveu; Zambelli segue escanteada no PL
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi consagrada nas urnas com quase 1 milhão de votos, ficando à frente até de Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Mas o capital político se esvaiu com o episódio da arma na véspera da eleição, do qual ela nunca se recuperou.
O que aconteceu
Passado um ano e meio, Zambelli não foi perdoada. Sua atuação parlamentar também ficou ofuscada. Um deputado ouvido pela reportagem classificou como "injustificável" sacar uma pistola e perseguir um homem nas ruas de São Paulo. Disse ser uma mancha que a direita não consegue apagar.
Caciques do PL afirmaram ao UOL que escolher a deputada para assumir uma comissão causaria um racha interno. No ano passado, ela também não foi indicada para nenhum cargo importante.
Isso não significa aversão completa, mas o número de desafetos da deputada é bem maior do que o de aliados. Há ainda reservas ao comportamento da parlamentar, considerada "biscoiteira" e individualista, que aumentam sua rejeição. Ela rebate as críticas (leia mais ao final do texto).
A deputada é descrita por muitos colegas, incluindo conservadores de outros partidos, como uma pessoa incapaz de pensar no coletivo. Eles dizem que, antes de qualquer atitude, ela se pergunta: "O que eu ganho com isso?".
Existem ainda reclamações sobre o "estilo trator" de Zambelli. Reconhecida pela enorme capacidade de trabalhar e ser incansável na busca pelo que pretende alcançar, ela é descrita como alguém incapaz de mensurar as inimizades que faz pelo caminho.
A essência de Zambelli
Fora de cena em 2023, a deputada voltou em alto estilo em fevereiro deste ano. Ela organizou a coleta de assinaturas para o maior pedido de impeachment de um presidente na história.
Arregimentou 140 deputados pedindo a saída de Lula. O documento foi apresentado numa entrevista no salão verde da Câmara. O evento passou de 1 milhão de visualizações no YouTube da TV legislativa. Críticas a Lula e número alto de cliques são o combo preferido do bolsonarismo.
Parecia um sucesso, mas a deputada fez mais inimizades na organização da lista. Os métodos para fazer os colegas aderirem foram comparados a coação e chantagem.
As queixas incluem, por exemplo, ter usado as redes sociais para pressionar quem não tinha assinado. Constrangido pela suspeita de traição lançada por ela, o deputado assinava sob desconfiança do eleitor e sob um cenário de quem não fez mais do que a obrigação.
Outra reclamação é a insistência inoportuna. Há relatos de que Zambelli manda mensagens de forma desmedida, como um call center, escrevendo textos no WhatsApp em todos os períodos do dia.
Um deputado relatou ao UOL ser vítima das duas estratégias. Ele disse que não ia usar adjetivos para não falar mal de ninguém.
Tantas assinaturas pode virar um tiro no pé para o processo de impeachment. Há uma linha jurídica que aponta que os acusadores não poderiam julgar. Com isso, os deputados que assinam a petição estariam fora das votações, impossibilitando o avanço do pedido. O ex-ministro Miguel Reale Jr., envolvido nos pedidos de impeachment de Fernando Collor e Dilma Rousseff, é um dos que defendem essa tese. Nos casos anteriores, apenas entidades da sociedade civil assinaram os pedidos, como movimentos sociais e associações de advogados.
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Quero receberPara o jurista, os deputados renunciaram à competência de julgar os crimes de responsabilidade ao aderirem ao pedido como signatários. "Quem assina o impeachment é parte acusadora, portanto, está impedido de julgar", diz. Zambelli rebate essa tese.
Em defesa de Zambelli
A deputada não está totalmente sozinha. Aliados justificam que seu tamanho eleitoral faz com que as situações envolvendo a parlamentar tomem proporções maiores.
Dizem que foi opção dela não ter cargo em comissão no ano passado. Ela foi aconselhada a sair de cena por ter se tornado mais alvo da esquerda e precisar se defender.
O foco foi se livrar de punições no Conselho de Ética e na Justiça. A primeira parte deu certo. Diante da falta de resultados em relação aos processos no STF (Supremo Tribunal Federal), resolveu retomar o protagonismo na política. O pedido de impeachment de Lula é o começo deste processo.
Mas um deputado afirma que Zambelli está mudando. Ele considera natural um parlamentar pensar primeiro em si, mas ressalta que muitos desenvolvem a capacidade de agregar, caminho que vê a colega começando a seguir.
O aliado justifica que Zambelli tinha Jair Bolsonaro como modelo. O ex-presidente já repetiu várias vezes ter sido um deputado isolado em seus tempos na Câmara.
Esse entrevistado avalia que o processo no Conselho de Ética foi pedagógico para Zambelli. Ela precisou conversar com pessoas de outras vertentes políticas e fazer sua opinião prevalecer pelo convencimento, e não pela pressão nas redes sociais.
Mas capacidade de arregimentar likes também é vista como uma maneira de reatar relações. Aliados afirmam que muitos parlamentares procuram Zambelli para pedir orientações sobre como obter engajamento —e sempre são atendidos. A deputada também é descrita como coordenadora de uma equipe competente.
Outra oportunidade a ser explorada é a defesa da causa de Israel. Zambelli já declarou ser "metade judia", defendeu o país em discursos e disse que tem uma bandeira em seu gabinete. Pesquisa da Quaest mostra o estrago que declarações de Lula contra os ataques israelenses causaram em sua popularidade.
Como conseguir a reabilitação? Os caminhos passam por adotar um estilo mais suave no trato e ter momentos de dividir os holofotes. Com isso, o PL poderia fazer por ela o que fez por Nikolas Ferreira, deputado içado a presidente da Comissão de Educação e que rodará o país pedindo votos na eleição deste ano.
Mas ela enfrenta outro problema. A deputada está afastada por questões de saúde. Não é a primeira vez. No ano passado, foi internada duas vezes. Em 2020, a parlamentar passou por tratamento laparoscópico de endometriose profunda e adenomiose uterina.
O que diz Zambelli
A deputada afirma que não se sente escanteada. A comprovação disso seria o fato de ter angariado 140 assinaturas para o "maior pedido de impeachment da história".
Zambelli também nega ser individualista, usando o pedido de impeachment como argumento também. "Essas são apenas narrativas destinadas a prejudicar minha imagem entre meus colegas de bancada."
Sobre não ter cargos no partido, ele fiz que tem outro foco. "Eu pedi para não ter qualquer cargo no partido, pois este ano me dedicarei às eleições municipais."
Por fim, Zambelli diz que concentra sua atuação em pautas conservadoras e foi considerada uma das três maiores oposicionistas. É uma referência ao Radar do Congresso em Foco. "Em 87% das deliberações, votei em desacordo com as orientações do governo Lula e sua base."
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