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Reinaldo: Responder a protestos com violência agride essência da democracia

O colunista Reinaldo Azevedo disse no Olha Aqui! desta quinta (22) que reações truculentas em manifestações, como a da Polícia Militar contra estudantes na Alesp (Assembleia Estadual de São Paulo), ontem (21), são um atentado à democracia. Estudantes, contrários ao projeto de lei que institui escolas cívico-militares, foram agredidos com bombas e cassetetes.

Se você me perguntar: 'Você apoia esse negócio de invadir assembleia e fazer pressão física contra parlamentares? Não, e nunca apoiei. Isso justifica esse comportamento absolutamente truculento e descontrolado da polícia? Não. É um absurdo. Por mais que o outro lado seja radical — se estava votando a aprovação das escolas cívico-militares —, por mais que os estudantes pudessem ser agressivos, por mais que tenha havido um dano ou outro na assembleia em razão das pessoas que estavam ali, esse tipo de resposta, com esse grau de violência indica uma incapacidade de conviver com o contraditório, de uma polícia —e os policiais estão obedecendo ordens— que, infelizmente — e a polícia de São Paulo já foi considerada a melhor do país — demonstra incapacidade de diálogo do próprio governo e intolerância com a diferença. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Reinaldo chamou atenção para o fato de que bolsonaristas foram às redes sociais exaltar a reação da PM.

É o que essa gente quer, que o adversário tome porrada. E, nessa hora, nenhum deles vai falar de liberdade de expressão. Eles gostam de falar de liberdade de expressão quando é pra defender golpe de Estado. E, aí, eu tenho que lembrar ao governador [de SP] Tarcísio [de Freitas] que ele sobe no palanque do [Jair] Bolsonaro pra defender anistia para os caras que depredaram o Congresso, que depredaram o Supremo, que depredaram o Palácio da Presidência. Então, qual é a lógica de se alinhar com quem defende anistia para criminosos presos em flagrante, que fizeram o que fizeram no 8 de janeiro, e depois tratar manifestantes que entram na assembleia desse modo? Por mais que os estudantes tenham exagerado na sua manifestação — eu não estava lá, eu não vi, mas dou de barato que nessas coisas algum exagero sempre há. Só que aí, quem é a autoridade ali? Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

A polícia representa naquele momento a autoridade do governador. Precisa esse espetáculo de truculência, de violência? Isso responde a quem? Isso atende a que espírito? Isso atende a que visão de mundo? 'Reinaldo, você acha que tem de ter escola cívico-militar?' Claro que eu acho que não, escola não é quartel, a não ser nos casos em que a escola é pra quem quer fazer carreira militar, o que não é o caso das escolas cívico-militares. É só uma ideia de disciplina que se implanta em algumas escolas apenas, não se implanta no conjunto, e aí você quer usar duas ou três que ficam submetidas à disciplina militar como elemento de comparação com as outras escolas. Por que não vai colocar escola cívico-militar em algumas escolas que ficam em área sob influência do crime organizado? Eu quero ver se alguém tem coragem de fazer. Não vai fazer, né? E, lá, a população continuará submetida à influência do crime organizado. Então, eu sou contra a tese, mas a questão não é essa. A questão é que a democracia não comporta a violência, de lado nenhum. A democracia e a violência não combinam. A divergência, sim, a violência, não. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Reinaldo comparou com a invasão da Esplanada dos Três Poderes.

Eu pergunto ao governador Tarcísio e a todos. Se, numa manifestação como essa, a polícia age desse modo, o que o Tarcísio acha que deveria ter acontecido na invasão do Congresso, do Supremo e da Presidência? Algumas dezenas de corpos? Estou pegando aqui a questão da proporcionalidade. Se isso é uma ação justificável, naquele caso o quê seria justificável? Passar fogo? O Brasil estaria melhor hoje? Claro que deixar quebrar tudo como se deixou, não. Mas, ali [em Brasília], iam pra quebrar tudo, aqui havia uma votação, era uma reivindicação. Havendo gente que exagera, que a polícia esteja preparada para pegar essas figuras, isolar essas figuras, pra responsabilizá-las. E ainda que na hora do vamos ver se justifique uma coisa ou outra, aquele corredor [polonês] que fizeram — e tem as imagens — descendo o porrete em estudantes, em pessoas que estavam correndo e fugindo, é absolutamente inaceitável. Infelizmente, o incentivo a esse tipo de comportamento, depois, o que acontece na rua, você vê policial constrangendo pessoas indefesas. Não dá. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Ele criticou as postagens do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para quem as escolas cívico-militares são uma resposta aos estudantes que protestavam.

É o raciocínio circular da estupidez. Você quer justificar a estupidez e aí você diz: 'E o único modo de justificar a estupidez é a estupidez'. É o cara que pede anistia pra aqueles que depredaram os respectivos prédio do Supremo, da Presidência. É a conversa de sempre da extrema direita. Então, se esses alunos, se essas pessoas tivessem estudado em escolas militares, elas não fariam isso. O pai dele estudou numa escola militar e tentou dar um golpe de Estado. Aliás, ele próprio defendeu durante a campanha em 2018, falou sobre a possibilidade de fechar o Supremo, não é mesmo, Eduardo? Aliás, o Alexandre deu hoje uma resposta: 'O cabo e o soldado que tentaram fechar o Supremo estão na cadeia'. Esse é o ponto.

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Então, fala em pluralidade, pluralidade debaixo de porrada? Pluralidade desde que concorde comigo? Cadê a defesa da liberdade de expressão? Essa gente defende liberdade de expressão quando é pra defender golpe de Estado, mas não defende liberdade de expressão quando as pessoas estão se manifestando contra um projeto? Eu insisto, ainda que tenha havido manifestações impróprias, a polícia tem que estar preparada pra enfrentar isso. Porque, se não, a toda manifestação que houver, você vai responder com porradaria. E aí, então, você aposenta a democracia. É inaceitável o que aconteceu, mais uma vez. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

O Olha Aqui! vai ao ar às segundas, quartas e quintas, às 13h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja abaixo o programa na íntegra:

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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