Marielle: Delegado diz que fez 'devassa em vida de Brazão', e PF descartou

O delegado Rivaldo Barbosa, preso por suspeita de obstruir as investigações dos assassinatos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, afirmou ao STF que a Polícia Federal descartou provas colhidas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro.

O que aconteceu

"Devassa na vida dos Brazão" foi ignorada, diz defesa do delegado. Na defesa preliminar que Rivaldo enviou ao Supremo, os advogados dizem que a PF descartou a investigação feita pela Polícia Civil sobre Domingos Brazão (conselheiro do Tribunal de Contas do Rio) e o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ.) Os irmãos e o delegado estão presos e denunciados por suposto envolvimento nos crimes de 2018, o que eles negam.

A defesa afirma que "a Polícia Federal ignorou toda a prova produzida" nas investigações da Civil. Os advogados Marcelo Ferreira e Felipe Dalleprane entregaram a defesa preliminar do delegado às 23h50 de ontem.

A PF teria ignorado até o conteúdo de interceptação telefônica de Chiquinho Brazão, segundo a defesa. "Foram ouvidas mais de 230 pessoas (...), realizadas diversas medidas cautelares, como interceptação telefônica, quebra de sigilo de dados telemáticos, interceptação ambiental, buscas e apreensões", argumentam os advogados.

Um pedido para quebrar o sigilo de Chiquinho Brazão indicaria que não houve favorecimento aos irmãos. O delegado Giniton Lages, nome escolhido por Barbosa para as investigações, teria apontado a necessidade de quebrar o sigilo do deputado em 3 de abril de 2018, "apenas 20 dias após a prática dos crimes", afirmam os advogados, "indicando que não havia qualquer tipo de favorecimento ao citado parlamentar".

É certo, portanto, que houve uma verdadeira devassa na vida privada dos irmãos BRAZÃO e de seus familiares.
Defesa do delegado Rivaldo Barbosa

Outro lado: procurada, a Polícia Federal não respondeu até a publicação desta reportagem.

Delegado Rivaldo Barbosa com os irmãos Brazão
Delegado Rivaldo Barbosa com os irmãos Brazão Imagem: Arte/UOL

PF queria "os louros" do caso

Apesar da "devassa", diz a defesa, Flávio Dino, ainda ministro da Justiça, federalizou as investigações. A "única" novidade apresentada pela PF, no entanto, teria sido a delação do ex-PM Ronnie Lessa que incriminou Rivaldo, acusado de blindar os irmãos Brazão no inquérito aberto no Rio.

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Apesar de aceitarem a delação, a PF também teria ignorado a quebra de sigilo de Lessa pela Polícia Civil do Rio.

Os advogados dizem ainda que seis delegados ficaram à frente da Polícia Civil depois dos assassinatos. "Foi justamente no período da gestão de Rivaldo Barbosa, como Chefe de Polícia, e do delegado Giniton Lages, como autoridade policial, que os executores do crime foram identificados e presos", afirmam.

No afã de obter os louros do desfecho do caso, a Polícia Federal, de forma açodada, divulgou em cadeia nacional o encerramento das investigações, apontando os supostos mandantes.
Defesa de Rivaldo Barbosa

Defesa pede suspeição de Dino

A defesa de Rivaldo também pediu a transferência do caso para a Justiça do Rio. Alegam que o delegado não tem foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal, conforme noticiou a colunista do UOL Raquel Landim.

Os advogados pedem ainda que o ministro Flavio Dino se declare impedido de participar do julgamento se o tema permanecer no STF. Eles argumentam que, enquanto ocupava o ministério da Justiça, Dino teve "papel preponderante" na deflagração das investigações, já que esclarecer as mortes de Marielle e do motorista Anderson Gomes era uma "promessa de campanha" do presidente Lula (PT).

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Por que o delegado foi preso?

Barbosa foi apontado como "peça-chave" na consumação dos homicídios de Marielle e Anderson Gomes. O delegado teria cuidado para que os suspeitos não fossem incomodados pelo inquérito aberto para investigar o crime, segundo a delação de Lessa.

Os irmãos Brazão teriam avisado Barbosa sobre o plano de mandar matar Marielle. Segundo a denúncia da PGR, o delegado usou seu cargo de chefe de Polícia Civil "para oferecer a garantia necessária aos autores intelectuais do crime de que todos permaneceriam impunes".

Rivaldo [Barbosa] ocupava, ao tempo do planejamento do crime, a função de diretor da Divisão de Homicídios, tendo sido empossado, no dia imediatamente anterior às execuções, como chefe de Polícia Civil.
Hindenburgo Chateubriand Filho, vice-procurador-geral da República

O aval do chefe da Polícia Civil seria parte do plano dos irmãos Brazão. "Ele detinha o controle dos meios necessários para garantir a impunidade do crime", continua Chateubriand Filho, que assina a denúncia.

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