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Sakamoto: Bolsonaro usa caso Adélio como espantalho de estimação

Jair Bolsonaro evoca frequentemente o caso Adélio para tentar manter seus apoiadores mobilizados e reforçar a pose de vítima de um complô jamais comprovado, disse o colunista Leonardo Sakamoto no UOL News desta terça (11).

A Polícia Federal reafirmou hoje que Adélio Bispo de Oliveira agiu sozinho quando atacou a faca o então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, em 2018. A PF reiterou não haver provas que liguem o crime organizado ao atentado.

Houve todo um repúdio ao ataque contra Bolsonaro e a polícia foi célere na investigação. Houve uma série de crimes políticos por conta daquele clima que o Brasil estava vivendo e que os políticos são responsáveis por esticar a corda. Mas não havia um mandante nesse crime [da facada desferida por Adélio].

Bolsonaro, contudo, continuou usando esse caso do Adélio como uma espécie de espantalho, um elemento para unificar seus seguidores em torno dele e fazer algo que o ex-presidente faz muito bem: a vitimização. Ele foi alvo de um atentado horrível, mas continuou se vitimizando e mostrando que há um grande complô contra ele.

E não havia complô; o que existia era simplesmente um maníaco que foi julgado e preso. A Polícia Federal mostra isso novamente nessa decisão. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL

Sakamoto criticou a postura de Bolsonaro por comparar o caso Adélio ao assassinato de Marielle Franco e cobrar a mesma repercussão.

Houve grande repúdio nos veículos de comunicação em relação ao atentado dele. E só agora a PF está chegando à conclusão em relação ao caso Marielle, que ficou escanteado. Então pare de se comparar o tempo inteiro com uma mulher que foi assassinada para tentar juntar seus eleitores e torno de si. Isso é feio, horrível.

A questão do caso Adélio é sempre utilizada pela família Bolsonaro quando eles querem encobrir alguma coisa e jogar uma cortina de fumaça. Virou uma espécie de espantalho, de pedra filosofal, de resposta para tudo.

O caso foi resolvido. Bolsonaro pode espernear à vontade e seus seguidores continuarem usando isso para tentar melhorar sua imagem pública, mas o fato é que há uma decisão da Justiça. Esse complô interessa ao ex-presidente, familiares e apoiadores, com teorias da conspiração que vêm espalhando. Isso não deixará de existir e esse argumento será usado até o fim do bolsonarismo. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL

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Raquel Landim: Diretor da PF põe fim a caso Adélio, mas não a narrativa

Embora o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, tenha mais uma vez reforçado que Adélio agiu sozinho, os bolsonaristas insistirão na tese de que um mandante ordenou o ataque, comentou Raquel Landim. A colunista frisou que as investigações já deveriam se encerrar, uma vez que há evidências claras e suficientes sobre o caso.

[A fala do diretor da PF] Coloca um fim na investigação, mas nunca na narrativa, que não será abandonada. Vivemos em um tempo no qual cada grupo político tem sua narrativa e insiste nela. É disso que eles se alimentam para arregimentar seus seguidores. Ao esticar essa investigação, a PF tenta acabar com a narrativa, mas ela não terminará. A não ser que surja outro elemento muito concreto, investigar isso ad eternum é desperdício de dinheiro público. Raquel Landim, colunista do UOL

Josias: Câmeras não funcionam adequadamente e Tarcísio está sendo filmado

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O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) mantém uma postura inadequada sobre o uso de câmeras corporais por policiais, mas está sob a mira do STF (Supremo Tribunal Federal), disse o colunista Josias de Souza.

As câmeras corporais da Polícia Militar de São Paulo não estão funcionando adequadamente, como seria o desejado, mas o governador Tarcísio de Freitas está sendo filmado. Desde que tomou posse, as ações da PM mostram que não é intenção do governo paulista fornecer material para que os fiscais da polícia, seja na Ouvidoria ou no Ministério Público, exerçam sua atribuição. O risco de não dar certo é enorme. Josias de Souza, colunista do UOL

Sakamoto: Congresso violentará vítimas de estupro com projeto de lei

O Congresso vai violentar mais uma vez as vítimas de estupro se aprovar o projeto de lei que prevê aumentar a pena para as mulheres que decidirem abortar, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto.

O PL nº 1.904/2024 equipara o aborto acima de 22 semanas de gestação ao homicídio simples, o que aumenta de dez para 20 anos a pena máxima para quem realizar o procedimento.

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É um absurdo completo. Grosso modo é o seguinte: o Congresso brasileiro pode acabar violentando mais uma vez vítimas de estupro, ou seja, se essa legislação for aprovada, os fundamentalistas do Congresso vão conseguir que as vítimas de estupro passem por sua segunda violência. É inacreditável, mas é basicamente isso que está sendo colocado aqui.

Isso acontece porque o Supremo Tribunal Federal está discutindo casos que estão surgindo. Por quê? Porque chega no hospital, a pessoa tem o direito, por lei, de fazer a interrupção de gravidez, porque ela foi vítima de estupro. Está lá garantido em lei, ninguém está falando de ampliação de lei, está escrito na letra da lei. Vai chegar lá, aí a pessoa fala: 'Não, não vai fazer. Aqui não vão fazer'. Até que a polícia entra na jogada, Ministério Público entra na jogada, entra juíza e tenta impedir a pessoa de fazer o aborto.

Sakamoto lembrou do caso de uma menina de 10 anos que engravidou após ser estuprada pelo tio no Espírito Santo. Ela precisou fazer o procedimento no Recife após negativa de atendimento na cidade capixaba onde vive, mesmo com aval da Justiça.

O caso que ficou famoso da menina de São Mateus do Espírito Santo, que era estuprada dos 6 aos 10 anos pelo tio, e aí descobriu-se que ela estava grávida entre 3 e 4 meses, não queriam fazer o aborto lá em São Mateus, ela teve que fazer a interrupção da gravidez lá no Recife. E ainda assim, com um monte de fundamentalista religioso na frente, ameaçando de morte o médico, ameaçando de morte a família, ameaçando de morte a menina. Tipo: 'Vão matar em nome da vida. Ah, isso é o aborto'." Não! A vida da pessoa, tem uma pessoa andando na sua frente, pedindo pelo amor de Deus, uma criança franzina, que não vai conseguir ter uma vida viável.

É interessante que isso aí era do governo Bolsonaro, gerou muita repercussão, porque inclusive, na época, a ministra Damares Alves, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, mandou representantes, inclusive, para convencer a família menina de não realizar o aborto.

Uma menina de 10 anos, estuprada pelo tio desde os 6. Meu Deus do céu! Aí o que acontece? Começaram a pipocar outros casos, porque isso aqui existe desde que o mundo é mundo, infelizmente, a diferença é se a gente vai ser civilizado diante disso ou não. A gente começou a ver como o avanço do ultraconservadorismo violento entre instituições públicas está fazendo com que o Estado brasileiro se especialize na tortura de crianças estupradas, e provando que pode ser muito competente.

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