Lula, sobre autor da 'PL do aborto': E se a filha dele fosse estuprada?

O presidente Lula (PT) voltou a criticar duramente o projeto de lei que equipara o aborto a homicídio em entrevista hoje à rádio CBN.

O que aconteceu

"Eu quero saber, se a filha dele fosse estuprada, como ele ia se comportar. Não é um tema simples", disse Lula, em referência ao deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). O ex-líder da bancada evangélica é o autor da proposta. Ele é próximo ao pastor Silas Malafaia.

O presidente da República afirmou que é preciso "respeitar o direito das mulheres". "Por que uma menina é obrigada a ter um filho de um cara que estuprou ela? Que monstro vai sair do ventre dessa menina?", questionou em entrevista à CBN.

Lula já chamou o projeto de "insanidade" e indicou que deverá vetá-lo, caso aprovado. A mudança da legislação após 22 semanas de gestação mesmo em casos de gravidez derivada de estupro está em debate na Câmara. Com a aprovação de urgência, a proposta pode ser analisada no plenário a qualquer momento, sem a necessidade de passar pelas comissões temáticas.

Você não pode continuar permitindo que a madame vá fazer aborto em Paris e a coitada morra em casa tentando furar o útero com agulha de tricô. Esse é o drama que estamos vivendo.
Lula, sobre PL do Aborto

Ele voltou a reforçar que é pessoalmente contra o aborto. "Mas, enquanto chefe de Estado, o aborto tem de ser tratado como saúde pública", ponderou.

O projeto ainda não tem data para ser votado no plenário da Câmara. Lira disse à colunista Raquel Landim que vai indicar uma "mulher moderada" para relatar o PL do aborto e que será discutido com a bancada feminina. Caso seja aprovado, seguirá para análise do Senado.

O que pode mudar?

A proposta em tramitação na Câmara mudaria quatro artigos do Código Penal. Atos que hoje não são crime ou que têm pena de até quatro anos passam a receber tratamento de homicídio simples - punição de seis a 20 anos de cadeia.

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Até mesmo os médicos poderão ser presos. Hoje, eles são considerados isentos de responder por qualquer tipo de crime. Pela proposta, poderão ser punidos em caso de interromper a gravidez de feto que não seja anencéfalo.

Situações em que aborto é permitido por lei

  • Para salvar a vida da mulher;
  • Gestação resultante de estupro;
  • Feto anencefálico - defeito na formação do tubo neural que resulta em bebê natimorto ou capaz de sobreviver apenas algumas horas.

Mudanças por artigo

Abaixo, veja como é cada artigo atualmente e como fica se o projeto for aprovado no Congresso:

Artigo 124

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Como é hoje: Proíbe a mulher de fazer aborto ou consentir que alguém faça aborto nela, exceto em situações permitidas por lei.

Como ficaria: Quando houver viabilidade do feto em gestações acima de 22 semanas, as penas serão iguais ao crime de homicídio. A pena é cancelada quando as consequências do aborto forem tão graves que a punição se torna desnecessária.

Artigo 125

Como é: Caracteriza como crime provocar aborto não-legal sem consentimento da gestante. Pena de três a 10 anos.

Como ficaria: Em casos de feto viável, a interrupção da gravidez feita após 22 semanas de gestação será crime com pena igual ao homicídio - seis a 20 anos -, mesmo em gravidez derivada de estupro.

Artigo 126

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Como é: Prevê pena de um a quatro anos de prisão para quem provocar aborto com consentimento da gestante depois de 22 semanas.

Como fica: Estipula punição igual ao crime de homicídio

Artigo 128

Como é: Não pune o médico que interromper uma gravidez consequência de estupro.

Como fica: Se a gravidez resultante de estupro tiver viabilidade e passar das 22 semanas, o médico não estará isento de punição.

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