'Qual o problema?', diz Bolsonaro sobre Wassef pagar médico de Queiroz

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizou o fato de seu advogado Frederick Wassef ter custeado despesas médicas de Fabrício Queiroz, pivô do caso das "rachadinhas" envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

O que aconteceu

"Qual o problema?", questiona Bolsonaro em conversa com a advogada de Flávio. No diálogo, Luciana Pires relata ao ex-presidente que Wassef será investigado pelo pagamento. A conversa está em gravação feita pelo então chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). No encontro, se discute uma estratégia para proteger o senador no caso das "rachadinhas". O sigilo do áudio foi retirado hoje (15) pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

A advogada também questionou a investigação. "Pagou médico para Queiroz. Qual o problema? Me fala qual é o problema. Me fala qual é o problema pegar o meu dinheiro [inaudível]", responde Pires, segundo a transcrição do áudio feita pela Polícia Federal. A advogada responde a Bolsonaro que o pagamento foi feito via transferência bancária e que a atitude teria "zero" problema.

Relatório do Coaf (Conselho do Controle de Atividades Financeiras) identificou pagamento. O documento, revelado em 2020, apontou que Wassef desembolsou R$ 10,2 mil ao urologista Wladimir Alfer, primeiro profissional médico a atender Fabrício Queiroz no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Os pagamentos teriam sido feitos em dezembro de 2018, quando Queiroz iniciou os exames para o tratamento de um câncer no intestino. O médico também teria sido o responsável pelos pedidos dos exames clínicos feitos pelo ex-assessor de Flávio Bolsonaro.

Queiroz foi preso na casa de Wassef em junho de 2020. Ele foi liberado para prisão domiciliar quase um mês depois e, em março de 2021, ganhou liberdade por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça). O ex-assessor é suspeito de operar um esquema de "rachadinhas" — apropriação de salários de funcionários — no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O nome de Queiroz veio à tona em dezembro de 2018, quando O Estado de S. Paulo revelou que ele fez movimentações financeiras "atípicas".

Favorecimento a Flávio

O ministro do STF Alexandre de Moraes tirou o sigilo do áudio da conversa entre Bolsonaro e Ramagem, em que discutem uma estratégia para proteger Flávio no caso das rachadinhas. Um vazamento parcial ou a manipulação da gravação poderia gerar "inúmeras notícias incompletas ou fraudulentas, em prejuízo à correta informação à sociedade", disse o ministro na decisão.

PF encontrou áudio de reunião entre Bolsonaro e Ramagem, ex-diretor da Abin, em que eles falam sobre um plano para blindar Flávio. A informação consta no relatório da investigação sobre a "Abin paralela", divulgado na última quinta-feira (11).

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Na conversa, Ramagem propõe abrir procedimentos administrativos contra os auditores fiscais que investigaram Flávio para anular as investigações, e Bolsonaro concorda. A estratégia foi posta em prática, e o processo contra Flávio foi arquivado em 2022. Ele era suspeito de desviar recursos dos funcionários de seu gabinete quando era deputado estadual. A reunião entre o ex-presidente e o ex-diretor da Abin aconteceu em agosto de 2020, segundo a Polícia Federal.

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