Desvio em gabinete de Gayer era para empresa com nome 'Desfazueli', diz PF
Os desvios de verba do gabinete do deputado Gustavo Gayer (PL-GO), alvo de mandados de busca e apreensão em uma operação da PF nesta sexta (25), iam para uma loja que tinha o nome "Desfazueli", diz a PF. O nome faz referência ao slogan "Faz o L", que Lula usou na campanha de 2022.
O que aconteceu
Loja está registrada no nome de filho de Gayer. Segundo as investigações da PF, a empresa tem como sócio Gabriel Sander de Araújo Gayer, filho do deputado, e funcionava no gabinete de Gayer na Câmara. A loja atua no ramo de confecção de camisetas e adesivos e teria como funcionários os próprios secretários do gabinete do parlamentar, diz a corporação. A informação está em relatório da PF que teve sigilo quebrado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, após a operação de hoje.
Deputado "direciona e orienta a equipe" da loja, diz a PF. As investigações da corporação apontam que Gayer tinha a função de "monitorar o desempenho das vendas, demonstrando um compromisso com o sucesso do negócio". Mas, para afastar o parlamentar do esquema, a PF afirma que havia uma determinação interna de que "a pessoa responsável pela loja deveria estar desvinculada do gabinete" de Gayer.
Segundo a PF, loja funcionava antigamente com o nome "Bolsonarius". "Foi revelado que a loja [...] foi essencialmente uma continuação das operações realizadas anteriormente sob o nome de Bolsonarius", diz a corporação. O nome dela teria mudado quando foram criados uma nova conta bancária e novo CNPJ para a empresa em nome do filho do deputado.
Descobertas foram feitas pela PF em coleta de dados de homem preso no 8/1. Amigo de Gayer, João Paulo de Sousa Cavalcante foi preso preventivamente por financiar, incitar e participar dos ataques golpistas em Brasília. Através da quebra de sigilo telemático dele, a corporação diz que achou "elementos informativos" que evidenciaram os desvios de verbas em trabalho conjunto com Gayer. Uma empresa de João Paulo recebeu dinheiro de cota parlamentar.
A análise dos dados extraídos das mídias apreendidas demonstra indícios de que os secretários parlamentares de Gustavo Gayer utilizavam o mesmo espaço físico do gabinete para dar cumprimento a demandas afetas à Loja Desfazueli.
Trecho de relatório da PF
Escola de inglês no nome de Gayer também teria sido beneficiada no esquema. Segundo a PF, a escola se chama Gayer Language Institute e recebeu, desde fevereiro de 2023, quantias mensais oriundas de cota parlamentar que variam de R$ 6.000 a R$ 6.500.
Constatou-se, ainda, que as instalações físicas do gabinete parlamentar do deputado, custeadas com a rubrica de cotas parlamentares, possivelmente foram usadas simultaneamente para as operações da escola de inglês Gustavo Gayer Language Institute, pessoa jurídica de direito privado, e para as atividades comerciais da 'Loja Desfazueli', pessoa jurídica de direito privado, caracterizando uso inapropriado de recursos destinados ao serviço público.
Trecho de relatório da PF
O que diz o deputado
"Levaram meu celular e meu HD", disse deputado, que chamou os policiais federais de "jagunços". Gayer postou um vídeo nas redes sociais para se defender. Ele afirmou que a operação ocorre dois dias antes das eleições em que ele apoia o Fred Rodrigues à Prefeitura de Goiânia.
Gayer também criticou Alexandre de Moraes. O parlamentar afirmou que não sabe o motivo das buscas e que não teve acesso ao inquérito. Procurada pelo UOL, a assessoria de imprensa do deputado afirmou que está tomando as providências para ter acesso aos autos, mas que a decisão de Moraes está "em xeque" por ter sido determinado em meio a um processo eleitoral. A reportagem também enviou mensagem ao próprio Gayer, mas não teve retorno.
Um inquérito sigiloso foi aberto no mês passado, 24 de setembro. Não da para saber nada. Não tem nenhuma informação do que se trata. Sei que assessores meus também receberam busca e apreensão. Um deles trabalha em rede social, fazendo card, vídeo.
Gustavo Gayer (PL-GO), em vídeo nas redes sociais
Conta de Gayer esteve entre bloqueadas por Moraes
O X afirma que Moraes derrubou mais de 200 contas desde 2020. O UOL teve acesso com exclusividade à lista de perfis bloqueados que a plataforma enviou a STF e a conta de Gayer é uma das que está no documento, que é sigiloso.
Influenciadores e políticos bolsonaristas foram os principais alvos das ordens de bloqueio, motivadas por divulgação de fake news, incitações golpistas e ameaças. O X não informou as datas em que os perfis foram bloqueados ou suspensos, nem se foram depois liberados. Vários perfis bloqueados criaram novas contas, algumas até com nome semelhante, em uma corrida de usuários para fugir das determinações do tribunal.
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