Após pressões, Pacto Global da ONU demite diretores acusados de assédio

O Pacto Global da ONU no Brasil demitiu o CEO Carlo Linkevieius Pereira e o diretor Otávio Toledo, acusados de assédio moral, nesta sexta-feira (22).

O caso foi revelado pelo UOL no fim de outubro. A reportagem apurou que os líderes foram desligados por causa das denúncias, após pressões, inclusive internas.

O que aconteceu

Pacto Global não quis se manifestar sobre motivo das demissões. A instituição é uma iniciativa das Nações Unidas para engajar empresas no desenvolvimento sustentável.

Diretor nega, CEO não responde. Toledo negou "veementemente as supostas acusações de assédio moral ou de qualquer outra irregularidade". Pereira não quis comentar o assunto.

Advogada considera "avanço". Para Daniela Laurentino, que representa o grupo de denunciantes, trata-se de "um avanço na construção de uma agenda sólida em defesa da dignidade do trabalhador".

Doze profissionais denunciaram casos de assédio moral no fim de outubro. Denunciantes notificaram o MPT (Ministério Público do Trabalho), a matriz do Pacto Global, em Nova York (EUA), a ONU Brasil, em Brasília, e a ONG Anistia Internacional.

MPT abriu inquérito civil no dia 11 de novembro. Segundo a denúncia, revelada pelo UOL, há relatos de episódios de ordens dadas aos gritos, humilhações públicas e jornadas de trabalho de mais de 12 horas por dia. Também há acusações de conflito de interesse, falta de transparência, "greenwashing" e uso indevido da marca "ONU".

MPT intimou Pacto Global no dia 12 de novembro. Notificou a instituição para, no prazo de dez dias, manifestar-se sobre a denúncia e tomar outras providências.

Pacto Global demitiu diretores no dia 22 de novembro. Em nota à imprensa, a instituição informou que Guilherme Xavier assumirá interinamente como diretor executivo, e que abrirá vaga afirmativa para contratar um novo CEO.

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'Quem é o Pacto?'

Pacto Global foi alvo de pressões. Após a revelação das denúncias, profissionais receberam mensagens de solidariedade de diversas organizações — mensagens externas, mas não internas. Segundo eles, o Pacto Global parecia mais preocupado em proteger a reputação dos acusados de assédio do que em acolher as vítimas.

Profissionais pediram mais transparência junto às lideranças em 30 de outubro. "Quais são as ações que a gente tá pensando de combate ao assédio dentro desse ambiente? A gente tem um ambiente seguro para as pessoas se posicionarem? E eu tô falando isso aqui com medo, tá?", disse uma gerente, durante uma reunião interna, que foi gravada — a reportagem teve acesso aos áudios.

'Quem é o Pacto?', ingadou outra funcionária na reunião. "Pergunto porque não quero proteger assediador", acrescentou. "A responsabilidade [de propor políticas de combate ao assédio] é de quem está na alta liderança do conselho de administração, de quem estiver agora no comitê especial. Desculpa a sinceridade, mas só tem adulto aqui e a gente precisa falar sério sobre isso."

Comitê Jovem do Pacto Global publicou carta aberta em 19 de novembro. "Estamos solidários aos denunciantes que tiveram a coragem de expor essas irregularidades [...]. Acreditamos que somente com ações firmes e transparentes será possível resgatar a confiança no Pacto Global da ONU", escreveram os integrantes do comitê, que pediram o afastamento imediato do CEO e do diretor.

Pacto Global divulgou novas iniciativas em 22 de novembro. Entre elas, um comitê de integridade e governança. "A proposta é reforçar políticas que promovam o bem-estar e a segurança dos colaboradores, fortalecendo o compromisso da organização com um ambiente de trabalho saudável e seguro", afirmou, em nota.

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