Lula ironiza rejeição de 90% do mercado: 'Já ganhei 10%'

O presidente Lula (PT) ironizou a rejeição que o governo tem sofrido por parte do setor financeiro em discurso em Mato Grosso do Sul nesta quinta (5).

O que aconteceu

Uma pesquisa, divulgada na quarta (4), apontou que a rejeição do governo entre operadores do chamado mercado chegou a 90%. Os embates entre a gestão e os interesses do segmento têm sido um dos principais motivos para que o dólar tenha batido recordes, operando acima de R$ 6 nos últimos dias.

Ontem, a pesquisa deu que 90% do mercado, daqueles que acompanham a Faria Lima, são contra o meu governo. Eu já ganhei 10%, porque, nas eleições, eles eram 100% contra. Então, eu já cresci, já ganhei 10% dele.
Lula, em Mato Grosso do Sul

A ironia não condiz com as pesquisas. O levantamento feito pela Quaest aponta que houve um crescimento de 26 pontos percentuais na rejeição entre os operadores financeiros em relação ao ano passado. Em julho de 2023, 64% do mercado rejeitava o governo.

Lula não tem escondido que não quer se pautar por pressões externas. O último grande ruído entre o governo e o mercado, causado na semana passada pelo anúncio do pacote de corte de gastos, foi mais uma prova disso: ele não escondia que era contra parte das medidas e decidiu incluir a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 no pacote.

O mercado reagiu, se dizendo surpreendido. Com isso, o dólar explodiu e atingiu seu maior valor nominal, acima de R$ 6.

Lula refutou as críticas com o resultado positivo de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), também divulgado nesta semana. A economia brasileira cresceu 4% ante o mesmo período do ano passado. Na comparação com os três meses anteriores, perdeu força ao avançar 0,9%, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (3) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado fez com que o dólar acalmasse e voltasse a ser operado abaixo de R$ 6 nesta manhã. Outra vez, algumas pessoas do mercado vão começar a anunciar que a economia brasileira não ia crescer mais que 1,5%. E, para a nossa bela sorte, a economia brasileira vai crescer neste ano 3,5%", disse Lula.

Apesar da fala debochada, as altas do dólar têm estressado o governo pelo impacto inflacionário. Com a subida, os preços de produtos importados são os primeiros a serem afetados, mas a desvalorização do real pressiona a inflação geral da economia brasileira em efeito cascata.

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O aumento também tem rendido críticas de governistas à atuação do Banco Central quanto à moeda. Como o UOL mostrou, o BC atuou 113 vezes no mercado para baixar o preço do dólar nos quatro anos da gestão de Jair Bolsonaro (PL), enquanto só interferiu uma vez na gestão Lula.

Não parece ser uma opção apenas de Roberto Campos Neto, atual presidente, que foi indicado por Bolsonaro. Em evento nesta semana, o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, indicado por Lula, afirmou que não vai segurar o dólar "no peito". Ele assume o cargo no final do mês.

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