Educação, tarifa de ônibus, apagões da Enel: os desafios da 2ª gestão Nunes
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tomou posse para seu segundo mandato no último dia 1º, e tem pela frente uma série de problemas e desafios que exigem respostas eficazes para a capital paulista. Com o maior orçamento da história, R$ 124 bilhões, e um novo secretariado, o emedebista terá de melhorar os índices educacionais das escolas municipais, lidar com possíveis aumentos da tarifa de ônibus, eventuais apagões, além de problemas históricos na saúde e transporte.
Educação
Apenas 38% dos alunos da capital paulista sabem ler e escrever no tempo certo. No Brasil, o índice é de 56%. Os números divulgados pelo MEC (Ministério da Educação) foram explorados ao longo da última campanha eleitoral. Ao ser questionado, o prefeito justificava dizendo que a mudança na metodologia do indicador feita pelo governo federal impedia que comparações fossem feitas.
Na época, mesmo com índices educacionais abaixo daqueles observados antes da pandemia, Nunes deu nota 9,5 para educação da cidade. Ao UOL, meses depois de vencer a eleição e perto de tomar posse, o emedebista disse que a educação era a única área que ainda não estava satisfeito e afirmou que quer dar atenção especial ao tema.
Os resultados, inclusive, quase o levaram a trocar o comando da pasta —no final, Nunes manteve Fernando Padula à frente.
CEUs atrasados
Pela primeira vez, um prefeito de São Paulo não entregou nenhum novo CEU (Centro Educacional Unificado). No plano de metas de 2024, Bruno Covas, de quem Nunes era vice, havia prometido 12 novas unidades. O emdebista conseguiu começar a obra em 4 dos 12, mas fechou o primeiro mandato sem concluir as construções.
Agora, a promessa de Nunes é entregar três unidades nos cem primeiros dias do segundo mandato. O prefeito deu mais espaço aos CEUs no início da gestão e também se comprometeu a iniciar a obra de outros seis novas unidades nos primeiros meses deste ano.
Aumento da tarifa e tarifa zero para mães
Congelada desde 2020, a tarifa de ônibus foi reajustada para R$ 5 apenas em dezembro do ano passado após as eleições municipais e no mesmo momento em que as prefeituras também realizaram reajustes. O valor da tarifa escolhido ainda ficou abaixo do estipulado pelo governo do estado para o transporte sobre trilhos (R$ 5,20).
Agora basta saber, como o prefeito deve atuar nos próximos anos nesse assunto, já que a administração municipal gastou recordes de subsídios às empresas de ônibus para manter a tarifa congelada.
O emedebista também tem apostado em programas de tarifa zero específicos. Nunes começou com o programa aos domingos, que está mantido até o momento, e afirmou que quer lançar nos primeiros cem dias de mandato o "Mamãe Tarifa Zero".
Apagões da Enel
Eventuais apagões na cidade de São Paulo após ventos e chuva são desafios para o segundo mandato de Nunes. Em 2024, o prefeito precisou lidar com a parte da população sem energia por três dias durante a campanha eleitoral.
O problema virou um jogo de empurra que envolve cinco grupos diferentes: a Enel, concessionária responsável pela distribuição da energia, a Prefeitura de São Paulo, o governo estadual, responsável pela Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), o governo federal por meio do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Nunes já chamou o ministro de "omisso", "vagabundo" e afirma que quer a Enel fora de São Paulo. O contrato, entretanto, envolve a fiscalização da Aneel, o governo federal e um processo longo até a caducidade. A prefeitura tem sua responsabilidade em ações preventivas, como poda de árvore e limpeza da cidade.
Explosão de obras sem licitação
Nunes é o prefeito de São Paulo que mais gastou com obras sem licitação em 14 anos, conforme mostrou levantamento exclusivo do UOL. O TCM (Tribunal de Contas do Município) apontou superfaturamento de R$ 80 milhões em 18 obras emergenciais —a maioria dos contratos foi feita com apenas dez empresas e, segundo a auditoria, mais da metade das obras descumpre o prazo de 180 dias para conclusão.
O tema foi explorado por adversários na campanha eleitoral e Nunes, em todas as ocasiões, negou qualquer irregularidade nos gastos ou nas obras. A secretaria de Obras, principal envolvida no tema, continua sob o comando de Marcos Monteiro.
UPAs cheias
Nunes avançou em metas previstas para área da saúde na periferia como construção de novas UPAs, mas ainda há problemas históricos na cidade como a fila de exames, consultas e cirurgias. Para isso, o prefeito prometeu um mutirão de procedimentos simples nos cem primeiros dias de mandato para amenizar a fila em 50%. Há também a conclusão de obras de novos postos de saúde.
Até 2024, o emedebista privilegiou bairros da zona sul, seu reduto eleitoral, conforme mostrou reportagem do UOL. As UPAs que serão concluídas nos primeiros meses deste ano estão localizadas na região leste da capital paulista.
Corredor de ônibus
Enquanto o investimento em asfaltamento de ruas aumentou, Nunes não bateu a meta de corredores de ônibus. Uma faixa exclusiva para transporte também está prevista para ser concluída nos cem primeiros dias de mandato. Os BRTs Aricanduva e Radial Leste, que já estavam previstos na gestão 2021-2024, aparecem agora como "início de obras".
O prefeito justificou que muitas dessas obras foram paralisadas por decisões do TCM. Estão previstas para os primeiros meses de mandato as publicações das licitações dos corredor de ônibus da avenida Itaquera trecho 2 e o corredor Celso Garcia trechos 2 e 3 —todos também já anunciados no passado.
Cracolândia
Problema histórico da cidade de São Paulo, a "cracolândia" terá ações gerenciadas na prefeitura pelo vice-prefeito Mello Araújo (PL). Ex-comandante da Rota, o coronel será responsável por comandar e acompanhar as ações das secretarias para a região, segundo o prefeito. No ano passado, a gestão Nunes chegou a colocar grades para "cercar" o fluxo de usuários —a medida foi alvo de reclamação dos moradores da região, porque provou espalhamento dos usuários pelas ruas próximas.
Durante a campanha, Mello Araújo sugeriu passeios com crianças na "cracolândia" como forma de prevenção. "Imagina a gente levar a criança das escolas, com ônibus, com a guarda, para passar num entorno e ver o que é uma pessoa que depende da droga, o que ela vira?", disse em sabatina da Record News.
Túnel Sena Madureira
A obra de um túnel viário na rua Sena Madureira gerou uma briga do prefeito com moradores do bairro. O assunto virou discussão na Justiça e no momento a obra está parada por uma liminar. O projeto prevê a remoção de 172 árvores —além disso, a área é considerada de interesse social para moradia popular e de proteção ambiental, segundo a última versão do Plano Diretor.
Cerca de 200 famílias que vivem em uma comunidade na Rua Sousa Ramos terão de sair de suas casas para dar lugar aos túneis. A conclusão da obra está prevista nos cem dias do início de mandato. "Eu vou até o fim para gente poder liberar isso aí", disse o prefeito na última quinta (2).
Enterramento de fios
Com apagões frequentes na cidade, o enterramento dos fios é visto como uma possibilidade para evitar esse tipo de acontecimento e também é um pedido frequente dos próprios paulistanos. O custo para executar o trabalho é alto, segundo especialistas, além de um trabalho complexo, que inclui obras estruturais.
Em janeiro de 2024, o número de fios que estavam em processo de enterramento ou que já tinham sido enterrados era de 38.410,76 metros. A previsão é de enterrar 65,2 km de redes aéreas na capital paulista.
Habitação
Bandeira de seu adversário na campanha eleitoral, habitação tem sido uma das áreas prioritárias da gestão Nunes e também um dos desafios da administração municipal. O prefeito disse na primeira reunião de secretariado que não vai aumentar o auxílio-aluguel de R$ 400.
"A prioridade é entregar casa", disse. Na sequência, Nunes pediu ao secretário de Governo, Edson Aparecido, que tirasse do plano de cem dias de mandato uma das metas que previa ampliar o valor.
São Paulo enfrenta um déficit habitacional de 369 mil domicílios e o valor do benefício não é reajustado há 10 anos. o prefeito afirma, entretanto, que é responsável pelo maior programa habitacional da cidade — entregou 48 mil habitações até o início de dezembro de 2024, a meta era 49 mil.
Em relação a regularização fundiária, até início de dezembro a prefeitura havia beneficiado 166 mil famílias — das 220 mil previstas no plano. A gestão Nunes afirma que fechou o ano com o objetivo concluído — mais de 224 mil procedimentos de regularização.