O avanço na devastação na Amazônia colocou o governo Bolsonaro contra a parede de forma inédita nestes primeiros oito meses de mandato. O presidente da França, Emmanuel Macron, esteve à frente da pressão internacional nos últimos dias, que pode ter consequências práticas para a economia brasileira.
Ao afirmar que Bolsonaro mentiu sobre seu compromisso com o meio ambiente, Macron se manifestou contrário à adesão da França ao acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que passou mais de 20 anos sendo negociado.
Nossa casa está queimando. Literalmente. A floresta amazônica --os pulmões que produzem 20% do oxigênio do nosso planeta-- está em chamas. É uma crise internacional. Membros da Cúpula do G7, vamos discutir esta primeira ordem de emergência em dois dias!
Tanto Macron quanto a chanceler alemã, Angela Merkel, cobraram que a situação da Amazônia seja discutida na reunião do G7 (EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Canadá e Japão) marcada para este fim de semana em Biarritz, na França.
A Alemanha, por sinal, é uma das financiadoras do Fundo Amazônia junto com a Noruega, por meio do qual mais de cem projetos foram apoiados desde 2008, com investimento de R$ 1,8 bilhão. Os dois países interromperam repasses após o avanço do desmatamento na Amazônia.
Bolsonaro virou alvo de protestos nas ruas de capitais da Europa, e celebridades de expressão global --Madonna, Cristiano Ronaldo, Leonardo DiCaprio, Gisele Bündchen, Lewis Hamilton-- se manifestaram em defesa da Amazônia.
O presidente brasileiro reclamou principalmente de Macron, a quem atribuiu uma "mentalidade colonialista" e o interesse em "ter um espaço na região amazônica". Para o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), Macron "não tem conhecimento do que está acontecendo aqui".
O Itamaraty buscou apagar o incêndio na opinião pública internacional munindo seus diplomatas de dados positivos sobre o combate ao desmatamento no Brasil -- mas referentes a governos anteriores, do PT.
O filho de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), aspirante à embaixada do Brasil nos EUA, chamou o presidente francês de idiota.
"O Brasil é país que cuida muito bem do seu meio ambiente, não precisamos de lição de ninguém", afirmou o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM).
Após duas semanas de queimadas na Amazônia Legal, da pressão pública e internacional, Bolsonaro anunciou o envio das Forças Armadas para o combate aos incêndios --mas somente para os estados que pedirem ajuda.
Na noite desta sexta-feira, o presidente foi a rede nacional de TV para afirmar que os incêndios florestais, como as queimadas que atingem a região amazônica, acontecem em todo o mundo e não podem "servir de pretexto para sanções internacionais".
O discurso, de pouco mais de quatro minutos, foi recebido com um panelaço em algumas cidades.