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Serra Leoa confina 6 milhões de pessoas em casa para conter ebola

19/09/2014 08h56

Um toque de recolher de três dias foi iniciado em Serra Leoa para permitir que agentes de saúde encontrem e isolem novos casos de ebola, doença que já causou 2.600 mortes na África Ocidental.

O objetivo é manter as pessoas confinadas em casa durante a operação e prevenir que a doença se espalhe ainda mais. Críticos, no entanto, dizem que a medida diminuirá ainda mais a confiança entre público e autoridades médicas.

Seis milhões de cidadãos não poderão sair às ruas até domingo. Cerca de 30 mil voluntários farão uma busca de porta em porta para encontrar pacientes e vítimas.

Autoridades disseram que as equipes não entrarão nas casas, mas chamarão serviços de emergência para lidar com pacientes e corpos.

Equipes distribuirão sabonetes e informações para prevenir novos contágios.

Serra Leoa é um dos países mais atingidos pelo surto do ebola na África Ocidental, com mais de 550 mortos. Dos 14 distritos do país, 13 registraram casos da doença.

Nas horas que antecederam o toque de recolher, as ruas da capital, Freetown, ficaram congestionadas. Pessoas estocaram óleo de cozinha, arroz e outros mantimentos.

Segundo a correspondente da BBC Umaru Fofana, nem mesmo a forte chuva na cidade conteve as milhares de pessoas que lotaram mercados. Uma atendente disse que prateleiras tiveram que ser repostas cinco vezes em apenas dois dias.

A agência Médicos Sem Fronteiras (MSF) criticou a medida, dizendo que, no final, ela ajuda a espalhar a doença, e não a contê-la, já que oculta potenciais casos da doença.

Autoridades, no entanto, dizem que o toque de recolher reduz a disseminação da doença, e que milhares de oficiais serão deslocados para garantir que moradores cumpram as restrições.

A porta-voz do Ministério da Saúde, Sidie Yahya Tunis, disse à BBC neste mês esperar o cumprimento do toque de recolher. "Ou você cumpre ou você está descumprindo a lei. Se você desobedecer, você está desobedecendo ao presidente", disse.

Na vizinha Guiné, foram encontrados os corpos de nove agentes médicos e jornalistas desaparecidos e que participavam de uma campanha para conter o ebola.

Um porta-voz do governo disse que alguns dos corpos foram encontrados em uma fossa no vilarejo de Wome. A equipe foi atacada por moradores na terça-feira.

Correspondentes dizem que muitos moradores desconfiam dos esforços oficiais para combater a doença e o incidente mostra as dificuldades que equipes médicas enfrentam.

'Ameaça à paz internacional'

O Conselho de Segurança da ONU declarou o surto do ebola uma "ameaça à paz e segurança internacional" e adotou por unanimidade uma resolução pedindo por mais recursos para combater a epidemia.

Integrantes do Conselho foram informados que a resposta internacional tem que ser 20 vezes maior do que atualmente e que o número de casos está dobrando a cada duas semanas na África Ocidental.

A resolução também pediu que restrições a viagens sejam canceladas, dizendo que os países afetados necessitam ter acesso à ajuda ao invés de serem isolados.

Em uma apresentação em vídeo, um médico que estava na Libéria alertou que se a comunidade internacional não aumentar seus esforços, "nós seremos eliminados".