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Projeto pretende agilizar cirurgias para vítimas de violência doméstica

Thamires Andrade

Do UOL, em São Paulo

04/10/2013 07h00

Mulheres vítimas de violência doméstica terão acesso mais rápido a cirurgias plásticas reparadoras pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A iniciativa, que a princípio funciona apenas em São Paulo, começou a valer na quarta-feira (2) com o lançamento de um projeto da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) em parceria com a empresa The Bridge.

O projeto conta com 11 hospitais públicos credenciados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - Regional São Paulo para realizar as cirurgias. A instituição já tem planos para, em 2014, expandir para o Rio de Janeiro e outros Estados. De acordo com o presidente da SBCP, José Horácio Aboudib, a previsão é que sejam realizadas 600 cirurgias anuais.

Aboudib conta que os ferimentos mais comuns entre as mulheres que sofreram violência doméstica são queimaduras, lesões por armas brancas, como facas, e fraturas provocadas por pancadas e socos. "Vamos identificar a gravidade do problema e tratar de acordo. Todo o acompanhamento será oferecido: consultas, cirurgia, curativos, entre outros", afirma o presidente da SBCP.

Ele também destaca que todas as mulheres com marcas serão atendidas, independente da gravidade do caso e da localização. "Não queremos formar mais uma fila, como a que já existe no SUS. Nós iremos atender todas que precisam com maior brevidade", aponta.

Como a cirurgia será realizada pelo SUS, as mulheres não precisarão arcar com os custos do procedimento. "Na rede privada, uma cirurgia reparadora tem um custo variado e que pode ser alto para algumas mulheres. A operação pode custar de R$2.000 mil até R$100 mil. Tudo depende do hospital, da lesão e do cirurgião. O tratamento de uma queimadura é muito caro", exemplifica Aboudib.

Sem condições financeiras para pagar uma cirurgia reparadora, Thaís (nome fictício), 47 anos, pretende se inscrever no projeto depois das agressões físicas e morais que sofreu do marido. "Não é a minha prioridade, pois quero lutar pelos meus direitos e pela segurança dos meus filhos. Mas essa cirurgia pode ser uma chance de reparar minha alma, melhorar minha autoestima e isso é importante para as mulheres que passaram por violência", destaca.

Ela terá que passar por um procedimento de reconstrução total da vagina. "Durante a separação, ele me deixou com as crianças sem nada e queria me controlar. Ele me estuprava e dizia que ia me colocar na rua, tiraria meus filhos de mim", conta. O marido cumpriu a ameaça e hoje a mulher, que vivia em outro país e se mudou com ele para o Brasil, luta na Justiça para conseguir a guarda dos quatro filhos.

Thaís, que  sofreu violência doméstica por 20 anos, encoraja as mulheres que passam pela mesma situação a dar um basta. "Nunca é tarde demais. Conte para alguém, procure ajuda e os órgãos competentes, pois se aconteceu uma vez, acontecerá de novo. Eu acreditava que ele se transformaria, mas não é nosso papel transformar alguém, mas sim ser uma mulher forte", aconselha.

"A violência doméstica deixa uma sequela emocional enorme na autoestima da mulher. Nós, os cirurgiões plásticos, não podemos tratar das cicatrizes da alma, mas podemos melhorar a dignidade dessa mulher, que já sofreu uma agressão injustificável, no ambiente em que deveria se sentir mais segura: o seu lar", comenta Aboudib.

Cartazes serão fixados em hospitais, delegacias e estações de metrô . As vítimas de violência doméstica deverão ter feito boletim de ocorrência e entrar em contato com o 0800-7714040 para encaminhar a queixa e aguardar a seleção para atendimento médico e, posteriormente, a cirurgia.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2001 e 2011 foram registrados cerca de 50 mil casos de mulheres mortas por violência doméstica e de gênero, metade por arma de fogo e 34% com armas brancas. E 29% morreram na própria casa.