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Pacientes com suspeita de coronavírus em SP poderiam ir para casa?

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

30/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • SP determinou isolamento domiciliar de casos suspeitos de coronavírus
  • Para especialistas, protocolo é correto para pacientes jovens e sem outras doenças
  • Orientação aos familiares e um bom monitoramento são suficentes nos casos
  • Dados indicam até o momento que letalidade do coronavírus é baixa

A decisão das autoridades de saúde de São Paulo de deixar que os três pacientes com suspeita de contaminação pelo coronavírus fossem para casa é correta, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

Os três casos, anunciados ontem pela Secretaria de Saúde do estado, estão na capital paulista. De acordo com o protocolo estabelecido, eles deverão ficar em isolamento domiciliar.

As suspeitas estão no quadro clínico de duas crianças, de quatro e seis anos de idade, e no de um homem de 33.

"Até o momento, a maioria das pessoas que estão morrendo são idosas ou apresentam alguma outra comorbidade [outra doença grave ou crônica]. Os casos descritos não têm indicação de internação", afirma o médico infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Letalidade menor

Os dados mais recentes divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que houve, até o momento, 170 mortes entre 7711 pessoas diagnosticadas com o coronavírus —uma letalidade de 2,2%.

O número é mais baixo que os 10% da epidemia de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Severa), em 2003, e próxima à epidemia do H1N1, em 2009, que registrou cerca de 3%, aponta o sanitarista Claudio Maierovitch, do núcleo de epidemiologia da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), em Brasília, e ex-diretor da Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.

O sanitarista afirma que, apesar de os dados disponíveis ainda não serem totalmente suficientes para uma previsão mais completa sobre a evolução da epidemia, a perspectiva para a evolução dos casos do coronavírus, quando comparada com a SARS, por exemplo, "é boa".

Stanislau concorda: "a impressão que a gente tem é que parece grave ao ver o número, mas é menos preocupante que parece quando analisadas a letalidade e a expansão, que, no momento, parecem pequenas", disse.

Orientação e monitoramento

Para Maierovitch, a decisão das autoridades sanitárias de São Paulo de isolar em casa os pacientes é correta. "É adequada uma boa orientação aos familiares e um bom monitoramento".

"Se a pessoa estiver sem febre alta ou outro problema mais grave, em uma semana ela deve se recuperar com o tratamento adequado", afirma Maierovitch.

Como opções de monitoramento, após uma boa orientação aos familiares, o médico sugere contato telefônico diário e visita domiciliar para acompanhamento da evolução do tratamento.

Por que não internar?

Para Stanislau, o isolamento com internação hospitalar só seria indicado se os casos suspeitos tivessem atingido doentes crônicos, idosos ou pessoas com outra indicação de internação, como uma pneumonia grave, por exemplo".

"Em princípio, internar é para quem precisa de cuidados hospitalares", afirma Maierovitch. "Cuidar e tratar não é uma prisão. Se você segrega e impõe algo para as pessoas, elas não vão procurar os serviços de saúde".

O especialista da Fiocruz lembra da política de isolamento de pacientes nos primórdios da Aids teve um efeito oposto ao desejado no combate inicial à epidemia nos anos 1980. "Muitas pessoas escondiam suas condições de doente por temerem ficar isolados do mundo", lembrou.

Segundo Maierovitch, "salvo em situações especiais, se não há indicação de internação, as pessoas devem ir para casa".

Como situação especial, o médico cita como exemplo alguém com suspeita da doença, mas que more sozinho e não tenha ninguém que possa, portanto, cuidar dela em casa. "Num caso como este pode se propor para a pessoa a internação".

Riscos desnecessários

Stanislau lembra ainda que uma internação sem necessidade pode expor nos hospitais pessoas que, se contaminadas, podem apresentar um quadro mais grave de infecção pelo coronavírus.

"Levar uma pessoa para o hospital sem necessidade, com o intuito de isolar, pode ser pior se houver uma falha no protocolo hospitalar, por exemplo, e atingir um doente crônico", afirma o infectologista.

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