Saúde acha vírus oropouche em bebês com microcefalia e alerta gestantes
O Ministério da Saúde informou em nota técnica que exames de laboratório apontaram a presença do vírus oropouche em quatro bebês que nasceram com microcefalia, o que levou o órgão a fazer alerta às secretarias de saúde e gestantes de todo país. Os casos ainda estão sob investigação.
A febre oropouche, causada por vírus de mesmo nome, tem se espalhado pelo país este ano e já tem transmissão confirmada em 16 estados (leia mais abaixo). A doença é transmitida pelo inseto Culicoides paraensis, também conhecido como maruim, meruim ou mosquito-pólvora, dependendo da região.
Os sintomas são parecidos com os da dengue e da chikungunya: dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, náusea e diarreia.
Segundo a pasta, a evidência aponta que a doença pode estar sendo transmitida de maneira vertical —ou seja, passando da mãe para o feto durante a gestação.
A relação entre o vírus oropouche e problemas no sistema nervoso central de fetos de mães infectadas é algo inédito. "Existem vírus da mesma família que causam quadro semelhantes em animais, mas não há relato de transmissão vertical do vírus oropouche", diz o virologista Felipe Naveca, responsável pelo protocolo desenvolvido na Fiocruz Amazônia que está sendo usado em todo país para diagnosticar a febre oropouche.
Segundo o documento do ministério, os casos foram detectados pelo Instituto Evandro Chagas, que realizou análise de amostras de soro e líquor (líquido que envolve cérebro e medula) armazenadas na instituição.
Nesse estudo, foi detectada em quatro recém-nascidos com microcefalia (três com um dia de vida e um com 27 dias de vida) a presença de anticorpos da classe IgM contra OROV [oropouche] em amostras de soro (2 casos) e líquor (2 casos). Essa é uma evidência de que ocorre transmissão vertical do OROV
Nota do Ministério da Saúde
Diante do cenário, a pasta faz quatro recomendações a gestantes:
- Evitar áreas onde há muitos insetos, se possível, e usar telas de malha fina em portas e janelas;
- Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente nas áreas expostas da pele;
- Manter a casa limpa, incluindo terrenos e locais de criação de animais, e recolher folhas e frutos que caem no solo;
- Se houver casos confirmados na sua região, seguir as orientações das autoridades de saúde locais para reduzir o risco de transmissão.
Além dos casos, a pasta também investiga a morte de um feto com 30 semanas de gestação, que tinha vírus no sangue de cordão umbilical, placenta e diversos órgãos. O caso, segundo apurou a coluna, ocorreu em Pernambuco.
Vigilância deve ser aumentada
Felipe Naveca diz que os cientistas já tinham conhecimento de que o vírus oropouche infectava o sistema nervoso central e que, na possibilidade de transmissão vertical ser confirmada, pode ocorrer dano ao feto.
Diante do cenário, ele defende que é urgente que as autoridades aumentem a vigilância para perceber eventuais casos de microcefalia.
Devemos aumentar o alerta para a possibilidade de casos graves relacionados à transmissão vertical do oropouche. Ainda não temos confirmação, mas a evidência de que isso ocorreu é forte.
Felipe Naveca
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Segundo o Ministério da Saúde, até agora foram 7.044 casos confirmados no Brasil, com transmissão autóctone em 16 estados. Outros três estados estão com essa transmissão em investigação.
Para Naveca, o aumento no número de casos pode ser explicado pelo período atípico, de muito calor seguido de chuvas, desde o ano passado.
A questão climática e o avanço de áreas de desmatamento certamente contribuíram para alterar o comportamento do vetor, aumentando o contato com o hospedeiro humano.
Felipe Naveca
Além disso, outro fator que está pesando é que a vigilância epidemiológica melhorou, porque todos os estados têm testes para a detecção do oropouche.
Na nota técnica, o ministério pede a "intensificação da vigilância de transmissão vertical do vírus oropouche."
Também cita que deve ser feito acompanhamento do bebê "em mulheres com suspeita de arboviroses durante a gravidez, com coleta de amostras e preenchimento da ficha de notificação".
Devem ser observados ainda "casos de abortamento, óbito fetal e malformações neurológicas congênitas, com coleta de amostras de soro, sangue, sangue de cordão, líquor e tecidos para pesquisa de marcadores da infecção pelo OROV."
Não há terapias específicas para o manejo clínico da febre oropouche. O tratamento visa o alívio dos sintomas.
Ministério da Saúde
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