Carlos Madeiro

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Reportagem

Morte de feto com vírus oropouche fez governo ligar microcefalia a febre

A morte de um feto no município de Rio Formoso (PE) é o ponto de partida de uma apuração que revelou que o vírus oropouche pode ser transmitido de mãe para filho durante a gestação. O registro de um feto com o vírus é inédito no mundo e alertou autoridades sanitárias do país.

Os possíveis impactos da infecção pela febre oropouche ainda estão sendo investigados, mas o Ministério da Saúde informou que ao menos quatro bebês com microcefalia tinham o vírus em seus organismos. Isso é uma evidência —a ser comprovada— de que a infecção da gestante pode causar danos ao sistema nervoso do feto.

O material colhido do feto, com 30 semanas de gestação, e da placenta da mãe foi analisado no Instituto Evandro Chagas, ligado ao Ministério da Saúde, em Belém. O exame concluiu que o feto tinha o vírus. O resultado foi enviado à SES (Secretaria Estadual de Saúde) de Pernambuco no último dia 5.

"Acionamos de imediato o Ministério da Saúde porque foi um achado importante, de um óbito em gestação avançada, que nos ligou um alerta para algo novo", conta Bruno Ishigami, secretário executivo de Vigilância em Saúde de Pernambuco.

A febre oropouche, causada por vírus de mesmo nome, tem se espalhado pelo país este ano e já tem transmissão confirmada em 16 estados (leia mais abaixo). A doença é transmitida pelo inseto Culicoides paraensis, também conhecido como maruim, meruim ou mosquito-pólvora, dependendo da região.

Os sintomas são parecidos com os da dengue e da chikungunya: dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, náusea e diarreia.

Instituto Evandro Chagas, em Belém
Instituto Evandro Chagas, em Belém Imagem: IEC/Divulgação

Autoridades de saúde alertam gestantes

Logo após receber a confirmação da presença do vírus no feto, a SES produziu duas notas técnicas e pediu prevenção às gestantes e medidas de monitoramento e vigilância a gestores municipais.

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Tendo em vista que este é o primeiro caso de perda gestacional passível de descrição na literatura científica, sua conclusão requer um conjunto investigativo robusto, bem analisado e descrito.
Nota técnica da SES

No último dia 12, citando o caso em Pernambuco, o Ministério da Saúde divulgou nota técnica com alerta às secretarias de saúde e gestantes de todo país. Todos os casos ainda estão sob investigação.

Como se chegou ao caso?

Segundo Bruno Ishigami, a informação da morte do feto chegou à equipe da vigilância ambiental da SES em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) que atuava em Rio Formoso e repassou a notícia de que uma gestante com sintomas de arbovirose sofreu aborto. A cidade é uma das que mais registravam casos de oropouche.

Ao sermos informados, entramos em campo. Como o nosso antecedente pelo que houve com a síndrome da zika é muito sensível, a gente decidiu coletar material para mais análises. Esse é um caso, mas outros podem estar ocorrendo sem que saibamos.
Bruno Ishigami, secretário executivo de Vigilância em Saúde de Pernambuco

Ele explica que mais exames estão sendo feitos para saber se o vírus foi o responsável pela morte do feto —o que elevará o nível de alerta.

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A gente ainda não consegue estabelecer uma relação de causalidade entre o vírus e o óbito. Estamos aguardando exames, mas se isso for confirmado, muda o nível de alerta porque não existe nenhum caso de óbito registrado por oropouche.
Bruno Ishigami

Mosquito maruim, transmissor da febre oropouche
Mosquito maruim, transmissor da febre oropouche Imagem: Fiocruz

Apuração de casos

Antes mesmo da conclusão dos exames, a SES decidiu fazer uma investigação interna. A secretaria está realizando uma busca retrospectiva de casos de morte de fetos e abortamento nas regiões onde há casos de febre oporouche.

Agora, junto com as secretarias municipais de saúde das cidades que têm casos da doença, os relatos de oropouche passaram a ter uma investigação epidemiológica mais profunda.

Acionamos o ministério e estamos em conversas com a Opas [Organização Pan-Americana da Saúde, ligada à OMS] e a Fiocruz para entender melhor o que se passa, enquanto damos seguimento às investigações. Esse cenário nos coloca em uma situação de preocupação alta, com potencial de escalar para um alerta internacional.

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Toda vez que se identifica um caso, a gente vai na casa da pessoa para fazer uma cadeia de casos. Vamos procurar sempre mais, aumentamos a testagem e estamos tendo aumento no número de registros.
Bruno Ishigami

Febre se espalha

Segundo o Ministério da Saúde, até agora foram 7.044 casos confirmados no Brasil, com transmissão autóctone (no local onde foi feito o diagnóstico) em 16 estados. Outros três estados investigam essa transmissão.

Em nota técnica, o ministério pediu a "intensificação da vigilância de transmissão vertical do vírus oropouche."

Também citou que deve ser feito acompanhamento do feto "em mulheres com suspeita de arboviroses durante a gravidez, com coleta de amostras e preenchimento da ficha de notificação".

Devem ser observados ainda "casos de abortamento, óbito fetal e malformações neurológicas congênitas, com coleta de amostras de soro, sangue, sangue de cordão, líquor e tecidos para pesquisa de marcadores da infecção pelo OROV."

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Não há terapias específicas para o manejo clínico da febre oropouche. O tratamento visa o alívio dos sintomas.
Ministério da Saúde

Diante do cenário, a pasta faz quatro recomendações a gestantes:

  • Evitar áreas onde há muitos insetos, se possível, e usar telas de malha fina em portas e janelas;
  • Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente nas áreas expostas da pele;
  • Manter a casa limpa, incluindo terrenos e locais de criação de animais, e recolher folhas e frutos que caem no solo;
  • Se houver casos confirmados na sua região, seguir as orientações das autoridades de saúde locais para reduzir o risco de transmissão.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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