Carlos Madeiro

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Estudo aponta nova linhagem do Oropouche em avanço 'silencioso' na Amazônia

Estudo feito por cientistas brasileiros aponta que uma nova linhagem do vírus Oropouche, que avançou de maneira silenciosa no país, e está por trás do surto iniciado em 2022 na região oeste da Amazônia. A doença tem 7 mil casos conformados em 13 estados do país, com ao menos duas mortes.

Segundo os cientistas, essa nova linhagem surgiu de um "rearranjo genético" entre os anos 2010 e 2014 na região central do estado do Amazonas. "Ela adquiriu segmentos genéticos de diferentes linhagens que circulavam anteriormente na América do Sul", diz.

Nesta quinta-feira, o Ministério da Saúde confirmou as duas primeiras mortes por Oropouche no mundo. As vítimas foram duas mulheres jovens da Bahia, que não tinham comorbidades.

Além disso, Pernambuco anunciou que dois fetos com 30 semanas de gestação morreram e tiveram o vírus encontrado em amostras analisadas em laboratório. Outros dois casos estão em investigação.

No dia 12, o Ministério da Saúde informou que quatro bebês com microcefalia tiveram exames positivo para Oropouche, o que confirma a transmissão vertical do vírus (ou seja, de mãe para filho no útero).

Combinação de vírus sul-americanos

Para chegar à conclusão de que uma nova linhagem circula, os autores do estudo analisaram 382 genomas do vírus Oropouche de pacientes.

Descobriram que a linhagem tem relação com o vírus que circulou na região leste da Amazônia entre 2009 e 2018, associado a outros originários de Peru, Colômbia e Equador achados entre 2008 e 2021. "Essa combinação de segmentos de diferentes origens geográficas resultou em um novo rearranjo genético", explica.

O estudo afirma que esse nova variante circulou desde 2015 de "forma endêmica e silenciosa na região amazônica", até causar o surto a partir de 2022. A primeira detecção dessa linhagem, diz, ocorreu em 2015 em Tefé, Amazonas.

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Entre os fatores que ajudam a explicar a disseminação do vírus, os autores sugerem:

  • Desmatamento
  • Invasão agrícola
  • Eventos climáticos extremos, como El Niño
  • Mudanças climáticas

Ainda de acordo com o estudo, não há evidências conclusivas de que a nova linhagem seja mais transmissível que as anteriores. "Estudos adicionais são necessários para comparar o potencial replicativo e infeccioso entre as linhagens."

Isso pode estar criando condições favoráveis para a propagação do Oropouche. No entanto, mais pesquisas são necessárias para estabelecer uma relação causal direta entre esses fatores e o surto.
Artigo científico

Entre o final de 2022 e 2024, dizem os cientistas, o Brasil registrou seu maior surto de Oropouche, com mais de 6 mil casos confirmados por laboratório na região oeste da Amazônia.

Esse surto em andamento é o maior e mais difundido geograficamente já documentado, afetando mais de 140 municípios nos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima.
Artigo científico

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Para os pesquisadores, a disseminação do vírus foi impulsionada principalmente por movimentos de curto alcance, ou seja, pela própria atividade de voo de mosquitos infectados.

Entretanto, migrações de longo alcance também foram detectadas, o que ajuda a entender a doença ter se espalhado pelo país este ano. "Isso sugere que atividades humanas, como viagens, também contribuíram para a disseminação do vírus."

Mais casos, mas gravidade

Pesquisador Felipe Naveca, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia, descobriu 4 linhagens inéditas do coronavírus no país
Pesquisador Felipe Naveca, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia, descobriu 4 linhagens inéditas do coronavírus no país Imagem: Divulgação

Segundo o pesquisador Fiocruz Amazônia e um dos autores do estudo, Felipe Naveca, quanto mais casos da doença, mais chance de aparecer algo grave. Entretanto, ainda é preciso mais estudos para saber se a nova linhagem é responsável por uma doença mais grave.

"Não temos como afirmar nesse momento que a linhagem atual é mais ou menos perigosa. O que podemos dizer é que certamente o vírus está circulando em áreas onde nunca havia sido detectado", afirma.

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Segundo ele, o grande volume de genomas sequenciados para chegar à conclusão aumentou bastante a compreensão sobre a evolução desse vírus.

Mostramos também que o perfil da população atingida não difere daquela infectada por dengue, por exemplo; e que os casos aumentaram na região Norte no período chuvoso.

A doença

A febre oropouche, causada por vírus de mesmo nome, tem se espalhado pelo país este ano e sua transmissão já foi confirmada em 16 estados. A doença é transmitida pelo inseto Culicoides paraensis, também conhecido como maruim, meruim ou mosquito-pólvora, dependendo da região.

Os sintomas são parecidos com os da dengue e da chikungunya: dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, náusea e diarreia.

Segundo o Ministério da Saúde, até agora foram 7.044 casos confirmados no Brasil, com transmissão autóctone em 16 estados. Outros três estados estão com essa transmissão em investigação.

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Não há terapias específicas para o manejo clínico da febre oropouche. O tratamento visa o alívio dos sintomas.
Ministério da Saúde

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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