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Coronavírus: Bolsonaro e ministros estão no grupo de risco; entenda

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em foto de arquivo - Cláudio Reis/Framephoto/Estadão Conteúdo
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em foto de arquivo Imagem: Cláudio Reis/Framephoto/Estadão Conteúdo

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

13/03/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Presidente e três ministros com mais de 60 anos fizeram o teste do coronavírus
  • Resultados dos exames devem ser divulgados nesta sexta-feira
  • Taxa de mortalidade do coronavírus é mais elevada em pacientes com mais de 60

A notícia de que parte da comitiva que acompanhou Jair Bolsonaro (sem partido) a uma visita aos Estados Unidos, poderia estar infectada pelo coronavírus preocupou Brasília ao longo da quinta-feira. O próprio presidente realizou um teste, cujos resultados devem ser divulgados hoje.

Por ter 64 anos, Bolsonaro se enquadra no chamado grupo de risco, que integra as pessoas que podem desenvolver a forma mais grave da doença. Além dele, outros três ministros da comitiva com mais de 60 anos fizeram o teste.

Logo após o retorno da comitiva, o Secretário Especial de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, se sentiu mal e testou positivo para o vírus, o que forçou o restante da comitiva a realizar o teste.

Wajngarten também se encontrou com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem 73 anos e se recusa a fazer o teste. Ele diz não estar preocupado.

Além de Bolsonaro e Wajngarten, estavam na viagem os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), que tem 52 anos, Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), que tem 72, Fernando Azevedo e Silva (Defesa), de 66, e Bento Albuquerque (Minas e Energia) com 61. Entre os senadores estavam Nelson Trad (PSD-MS) de 58 anos e Jorginho Mello (PL-SC) de 63.

Pacientes acima de 60 anos, pessoas com doenças crônicas e imunossuprimidos são considerados grupos de risco por órgãos internacionais de saúde devido à taxa de mortalidade mais alta registrada nesses casos.

Um estudo feito pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China mostrou que, nos casos registrados naquele país, a letalidade do novo coronavírus progride conforme a faixa etária. Em mais de 80% das ocorrências estudadas, os pacientes desenvolveram formas leves ou moderadas da doença e cerca de 14% apresentaram algum tipo de disfunção, como pneumonias.

De acordo com o infectologista do Emílio Ribas, Natanael Adiwardana, foi observado que as pessoas que desenvolviam as formas mais graves da covid-19 eram as de faixa etária mais elevada.

"A mortalidade já passa um pouco mais próxima de 3,4% [em pacientes moderados]. A partir dos 60 anos, passa para 8%. E, para aqueles que têm mais de 80 anos, ela se aproxima muito dos 15%", conta em entrevista ao UOL.

Ele acrescenta que a idade pode ser um agravante devido às outras doenças associadas. Muitos dos pacientes com mais de 60 anos que desenvolvem a forma grave geralmente já possuem alguma condição que debilita a saúde, como diabetes, doença renal crônica, problemas de coração, entre outros.

No entanto, o infectologista Leonardo Weissmann, também do Emílio Ribas, diz que não é porque uma pessoa pertence a um grupo de risco que ela deve apresentar quadro pior.

"Não significa que se a pessoa estiver no grupo de risco, obrigatoriamente, ela vai desenvolver formas graves. Tem gente do chamado grupo de risco que desenvolve formas mais leves da doença e pessoas que, às vezes, nem manifestam sintomas ou têm um quadro semelhante a um resfriado comum", explica.

Segundo os especialistas, compor um grupo de risco significa apenas que a pessoa deve ser monitorada com mais atenção que os demais. Mas, caso venha a desenvolver os sintomas, o tratamento vai depender da gravidade da situação.

"A conduta, mesmo nesses grupos de risco, vai depender da avaliação médica. Mas são grupos que o próprio nome já diz: 'risco'. São pessoas que merecem uma atenção especial", diz Weissmann.

O infectologista ressalta que é difícil dizer no momento qual deve ser a conduta com o presidente ou os ministros, já que eles permanecem assintomáticos.

Se for confirmada uma forma mais leve da doença, o procedimento deve ser o mesmo para os casos confirmados até o momento: isolamento e monitoramento constantes. Caso alguém desenvolva a forma mais grave, deve ocorrer a internação e a medicação de cada um dos sintomas que surgir.

Cirurgias

Não há informações sobre como a doença age em caso de pacientes que passaram por procedimentos cirúrgicos.

Desde que foi alvo de uma facada durante as eleições de 2018, Bolsonaro teve de passar por quatro procedimentos cirúrgicos. Ele também se submeteu a uma vasectomia no dia 30 de janeiro.

De acordo com Natanael Adiwardana, os procedimentos não devem influenciar no caso de Bolsonaro, já que eles aconteceram há algum tempo e não representaram risco às suas funções respiratórias.

O risco pode estar presente para aqueles pacientes que necessitam tomar algum tipo de medicamento imunossupressor após cirurgias de transplantes, por exemplo, mas mesmo nesses casos não há dados na literatura científica.

"Essas pessoas pode ser que tenham desfechos que a gente ainda não conhece", diz o infectologista. "Eu não posso falar que eles vão evoluir pior ou melhor, porque a gente não estudou isso ainda. Essa é uma das grandes lacunas que a gente ainda tem dentro desse conhecimento."

Além de Bolsonaro e dos ministros, estiveram na coletiva o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), de 35 anos, e Daniel Freitas (PSL-SP), 37. Além do assessor especial Filipe Martins, 31, do presidente da Embratur, Gilson Machado, 51, e o secretário especial de Pesca, Jorge Seif Júnior, 41.

Leornardo Weissmann lembra que as recomendações para proteção vale para todos, estejam eles no grupo de risco ou não.

"Atenção à higienização frequente das mãos, seja com sabão ou álcool gel, evitar aglomerações, manter os ambientes ventilados, manter uma alimentação balanceada, ingestão de líquidos. São condutas importantes de as pessoas manterem para evitar o contágio e evitar as falsas informações."

O Brasil já tem 77 casos confirmados de coronavírus e 1422 suspeitos, segundo dados do Ministério da Saúde publicados ontem às 16h. No mundo há 125.048 casos confirmados e 4.613 mortos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nenhum caso de morte foi registrado no país até o momento.

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