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Em plena pandemia de covid-19, 4 postos de saúde de Maceió estão sem água

Unidade de Saúde da Família São Francisco de Paulo, no bairro de Cruz das Almas, em Maceió - Reprodução/Google Maps
Unidade de Saúde da Família São Francisco de Paulo, no bairro de Cruz das Almas, em Maceió Imagem: Reprodução/Google Maps

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

20/03/2020 19h27

Em meio à pandemia de coronavírus, quatro postos de saúde de Maceió estão funcionando sem água. São eles: UBS José Guedes de Farias, no bairro Santa Amélia; UBS Geraldo Melo, no bairro Bom Parto; Centro de Saúde Doutor Hamilton Falcão, no bairro Benedito Bentes; e Unidade de Saúde da Família São Francisco de Paulo, no bairro de Cruz das Almas.

Atualmente, Alagoas tem cinco casos oficiais de covid-19, segundo balanço do Ministério da Saúde, e o governo do estado decretou situação de emergência hoje.

Três dos quatro postos de saúde que estão sem água ficam localizados na periferia de Maceió - apenas o de Cruz das Almas está em um bairro da orla marítima da capital.

Um profissional de saúde que trabalha no Centro de Saúde Doutor Hamilton Falcão contou que a demanda de pacientes com viroses e atendimentos normais, como ginecologia, está prejudicada, pois "foi necessário usar álcool em gel em tudo, onde poderia ser usado água e sabão."

"Não temos estoque em grande quantidade de álcool em gel e, mesmo assim, tem procedimento que não é o adequado. Houve demora e muita gente foi embora", disse o profissional, que não será identificado a pedido por temer sofrer represália.

O secretário municipal de saúde, Thomas Nonô, admitiu que os postos abastecidos pela Casal (Companhia de Saneamento de Alagoas) estão sem água, mas afirmou que o município está contratando carros-pipas para que ainda hoje a água seja levada para as unidades. "Nenhum deles está com atendimento comprometido", disse. Nonô afirmou ainda que os postos que estão desabastecidos de água têm álcool em gel em substituição.

"Estamos fazendo esforço de guerra. As pessoas precisam se lembrar que a covid-19 mata e qualquer omissão pode acarretar em morte. O estado, o município, a União, ou seja, o poder público em geral está fazendo um esforço para que todos os obstáculos sejam superados."

O governador Renan Filho (MDB) afirmou, em entrevista, que a Casal possui serviço de abastecimento de carro-pipa e que a água será levada ainda hoje para os postos de saúde.

O UOL entrou em contato com a Casal para saber o porquê da falta de água. Um dia após a publicação da reportagem, a Casal informou que as quatro unidades de saúde foram abastecidas com água de caminhão-pipa enviado na tarde de ontem. A companhia explicou que a falta de água nos quatro postos não era culpa da Casal."Duas delas [unidades de saúde] possuem abastecimento próprio por meio de poços, ou seja, não são abastecidas pela rede da Casal. Mesmo assim, a companhia também forneceu a elas caminhão-pipa", disse a Casal, explicando que o desabastecimento de água nestes dois postos de saúde ocorreu por "problemas internos" e que "não competem à Companhia solucionar, mas à própria administração das unidades".

A companhia não informou quais postos têm abastecimento próprio e quais recebem água da Casal. Além disso, a Casal não explicou o porquê da falta de água nas outras duas unidades de saúde que recebem água da companhia.

Decreto

Hoje, o governo de Alagoas decretou situação de emergência no estado para ações de contenção e enfrentamento da covid-19. O anúncio foi feito pelo governador Renan Filho, durante transmissão ao vivo junto com o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), e os dois secretários de Saúde, Alexandre Ayres (estado), e Thomaz Nonô (município).

O governo determinou que, a partir da meia-noite, todas as pessoas que apresentarem sintomas de gripe deverão ficar em casa durante 14 dias. O serviço de transporte rodoviário intermunicipal de passageiros, regular e complementar, assim como o serviço de trens urbanos não irão funcionar no período do decreto.

Também foram fechadas divisas com inspeção da Polícia Rodoviária Estadual a "todo e qualquer veículo de transporte rodoviário de passageiros, regular ou alternativo, proveniente de estados onde já foi decretada situação de emergência por causa do novo coronavírus". Os passageiros serão examinados se estarão com sintomas do Covid-19.

A prefeitura de Maceió informou que a frota de ônibus urbanos que circulará na capital não será limitada. Entretanto, foram repassadas as orientações necessárias sobre limpeza dos veículos de transporte urbano coletivos.

As pessoas que chegarem pelo aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares, localizado em Rio Largo, na região metropolitana de Maceió, e pela rodoviária de Maceió, serão examinadas e, caso apresentem sintomas de covid-19, serão encaminhadas, imediatamente, para as unidades de saúde de referência.

As medidas determinam, ainda, o fechamento, por dez dias, de restaurantes, bares, barracas, lanchonetes e similares. Ficou proibida a presença de clientes nestes estabelecimentos, mas o serviço de delivery, inclusive por meio de aplicativos, ficará liberado. "Automaticamente, a partir de meia-noite, todos estarão fechados, e teremos fiscalização da guarda municipal e da Polícia Militar", informou o prefeito de Maceió.

O Estado informou que Alagoas recebeu R$ 6,8 milhões de reais do governo federal para ações de combate à covid-19, o que representa 6% do que o governo do estado investe na saúde, mensalmente. "Precisamos de auxílio reforçado. Alagoas vai se reunir com governadores do nordeste para discutir esse aporte", afirmou Renan Filho.

O prefeito de Maceió disse que o município não recebeu aporte financeiro do governo federal. "Vamos precisar reforçar nossas equipes com mais médicos, mas até agora não houve nada do governo federal", reclamou Palmeira.

As feiras-livres não serão afetadas e funcionarão normalmente. Estão suspensos o funcionamento de centros de compras, galerias comerciais e estabelecimentos similares, com exceção de supermercados, farmácias e estabelecimento que prestem serviços de saúde.

"A medida serve também para feiras e exposições e a indústria, com exceção daquelas do ramo farmacêutico, químico, alimentício, de bebidas, produtos hospitalares ou laboratoriais, gás, energia, água mineral, produtos de limpeza e de higiene pessoal, bem como os respectivos fornecedores e distribuidores", informa o decreto.

Além disso, deverão ser fechados igrejas, templos religiosos, museus, cinemas e outros equipamentos culturais, públicos e privadosc academias, clubes, centros de ginástica e congêneres. Todas as barracas de praia, lagoa, rio e piscinas públicas ou quaisquer outros locais de uso coletivo e que permitam a aglomeração de pessoas estarão fechados, temporariamente.

Estarão funcionando no período do decreto: órgãos de imprensa e meios de comunicação e telecomunicações, estabelecimentos médicos, odontológicos para emergências, hospitalares, laboratórios de análises clínicas, farmacêuticos, psicológicos, clínicas de fisioterapia e de vacinação; distribuidoras e revendedoras de água e gás, distribuidores de energia elétrica, serviços de telecomunicações, segurança privada, postos de combustíveis, funerárias, estabelecimentos bancários, lotéricas, padarias, clínicas veterinárias, lojas de produtos para animais, lavanderias, oficinas mecânicas e supermercados / congêneres.

"Fica decretado também ponto facultativo para os servidores e empregados dos órgãos e entidades da Administração Pública Estadual até o dia 27 de março. Serão mantidos, entretanto, os serviços de fornecimento de água e aqueles prestados pelas secretarias de Saúde, Segurança Pública, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Perícia Oficial e da Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas", informa o decreto.