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Com 14 mil casos, Alemanha tem letalidade baixa; o que eles fizeram lá?

Pessoas fazem fila para serem testadas para o novo coronavírus em Frankfurt, na Alemanha - Kai Pfaffenbach - 18.mar.2020/Reuters
Pessoas fazem fila para serem testadas para o novo coronavírus em Frankfurt, na Alemanha Imagem: Kai Pfaffenbach - 18.mar.2020/Reuters

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

21/03/2020 04h00

Sexto país com mais casos do novo coronavírus no mundo, a Alemanha tem uma das menores taxas de letalidade entre as 166 nações com registro da covid-19: 0,3%, um morto a cada 328 casos. São 43 mortes até sexta (20) para 14.138 casos de contágio, registrados em todas as suas regiões.

Em comparação com a Itália, que tem sobrecarga em seu sistema de saúde, a Alemanha possui cinco vezes mais leitos de cuidados intensivos com assistência respiratória. São 25 mil no total em território alemão. A França, que também se encontra em situação crítica, possui 7.000.

O governo alemão quer duplicar essa quantidade. Ainda mais em razão de ter projetado que, no pior dos cenários, caso nenhuma medida tivesse sido tomada, os casos no país poderiam passar dos 10 milhões, cerca de um oitavo de sua população. Os alemães também projetaram uma duração de dois anos para a pandemia.

A aposta em testes para detecção da doença também é um ponto levantado por especialistas como razão para a baixa letalidade por covid-19 na Alemanha.

Terceiro maior número de casos na Europa

O número de casos deixa a Alemanha no grupo de europeus que enfrenta o pior cenário do novo coronavírus:

  • Itália: 41.035 casos
  • Espanha: 17.147 casos
  • Alemanha: 14.138 casos
  • França: 10.995 casos

Mas a letalidade nessas três nações é superior à taxa alemã. A Itália tem 8,30%, a Espanha, 4,47%, e a França, 3,38%.

Mestre em infectologista e professor de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Mateus Westin ressalta "a qualidade do sistema de saúde" e a estrutura médica da Alemanha.

"Acho que a Alemanha está conhecendo melhor o número real de casos que acometeu o país e, dentre aqueles que evolui com gravidade, o sistema deles está organizado o suficiente, com qualidade para atender rápido e, de forma eficaz, tratar os casos", diz.

Na comparação com a Alemanha, Westin avalia que nosso sistema de saúde está "muito estrangulado, com uma demanda sempre reprimida, em especial por leitos de terapia intensiva", diz.

"Isso, invariavelmente, vai fazer a mortalidade aumentar", comentou, referindo-se a países com problema em capacidade de atendimento na saúde.

Outras medidas

O país também fechou suas fronteiras com países como França, Áustria, Polônia e Suíça, além de fechar estabelecimentos culturais e escolas, colocar restrições em bares e restaurantes.

As medidas tiveram como meta promover o isolamento social a fim de barrar o avanço do novo coronavírus.

Para a chanceler alemã, Angela Merkel, o país passa por seu maior desafio desde a Segunda Guerra Mundial.

"Eu realmente acredito que podemos ser bem-sucedidos nessa tarefa [de combater o vírus], se todos os cidadãos realmente a entenderem como sua própria tarefa", comentou Merkel na quarta-feira (18).

Doentes mais jovens

Na Alemanha, a idade média dos pacientes diagnosticados com o novo coronavírus é de 47 anos. Além disso, a maior parte dos casos está concentrada em pessoas com idades que variam entre 15 e 59 anos.

Os mortos, segundo os últimos dados disponíveis, tinham mais de 65 anos de idade.

A Itália é um dos poucos países que aponta a letalidade por faixa etária. Com base nos dados italianos, a covid-19 é letal em:

  • 25,6% dos casos para quem tem mais de 90 anos
  • 23,2% nos casos de quem tem entre 80 e 89 anos
  • 15,3% nos casos entre que tem entre 70 e 79 anos
  • 4,9% nos casos a partir dos 60 anos e até os 69 anos

Nas faixas dos 30 até os 59 anos, a taxa de letalidade varia entre 0,4% e 1,2%.

Na Itália, a idade média dos pacientes com covid-19 é de 63 anos, 16 a mais do que na Alemanha.