Covid-19 encarece importações, e hospitais esperam até 90 dias por insumos
A pandemia do novo coronavírus (covid-19) tornou a importação de insumos hospitalares mais cara e demorada, com alguns produtos levando até 90 dias para chegar ao país.
A redução da atividade aérea e o grande número de navios de cargas parados nos portos têm atrasado o fornecimento de material e causa preocupação na área, segundo relatos colhidos junto a importadores, entidades hospitalares e ao Instituto Butantan, que produz vacinas.
"Tem muitos voos cancelados, e estamos dependendo de uma só companhia. Há aumento de até 300% no custo para transporte e mesmo assim sem garantia de embarque no mesmo dia", relata uma funcionária que trabalha com o fornecimento de insumos para indústrias farmacêuticas. Ela pediu para não ser identificada.
Um dos produtos travados são indicadores químicos e biológicos, usados para descontaminar centro cirúrgicos.
Mais caro
O cenário atual já causa preocupação à Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).
A entidade afirma que hospitais estão apreensivos pela subida de preços de medicamentos e insumos, "além do longo prazo de recebimento, que gira em torno de 90 dias". A Anahp também aconselhou a Agência Nacional de Transportes (ANTT) a não fechar as fronteiras terrestres estaduais, para evitar "prejudicar o abastecimento de insumos essenciais para o atendimento da população" — a Agência manteve o transporte interestadual após reunião na sexta-feira (20).
A chegada de insumos ao Brasil já vinha sendo impactada pela suspensão de voos da Europa para os Estados Unidos, medida tomada pelo presidente Donald Trump no último dia 12. Agora, o problema deve aumentar com a proibição de entrada de estrangeiros de alguns países por via aérea no Brasil. Fornecedores costumam despachar cargas menores em aviões comerciais, mas, com cada vez menos voos sobre o Atlântico, há menos espaço disponível.
Funcionário do Butantan projeta gargalo
"Provavelmente vai acontecer um gargalo nos Estados Unidos, por causa da escassez de voos. E muitos dos navios de carga estão parados, então falta contêiner nos portos de origem", diz um funcionário do Instituto Butantan, o principal produtor de imunobiológicos do Brasil.
Em suas palavras, o Instituto "por enquanto" recebe os insumos mais importantes dentro do prazo, mas o coronavírus começa a ter consequências. "Ainda nada que seja urgente, mas não estamos tendo liberação de novas cargas por parte dos fornecedores", diz.
De acordo com o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), neste momento há estoque suficiente de medicamentos e matéria-prima, "mas com a evolução da demanda, que tem sido crescente, este cenário pode mudar".
Na aviação, a crise que nasceu com o coronavírus é considerada a mais grave da história.
Semana passada, o Governo Federal restringiu a chegada de estrangeiros em voos internacionais. A diminuição dos voos faz companhias aéreas estudarem um corte drástico de funcionários e oferecer afastamento não remunerado por três meses.
Já o transporte marítimo vive meses difíceis desde que a China sofreu uma paralisação quase total por causa do coronavírus. Navios ficaram parados nos portos chineses por semanas, o que abalou a cadeia de suprimentos no mundo inteiro e causou escassez de contêineres no Ocidente. Agora que a China está voltando a operar, o problema da escassez pode se transformar no de acúmulo, pois outros países começam a entrar em quarentena e as operações nos portos de destino podem ser prejudicadas.
A reportagem procurou as maiores indústrias farmacêuticas, mas só a Pfizer se pronunciou sobre o assunto: garantiu ter um "sistema sofisticado" e contar com um "estoque de segurança de seis a 12 meses de insumos".
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