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Estudo projeta esgotamento de leitos de UTI a partir da próxima semana

Paciente chega no Hospital de Campanha no Estádio do Pacaembu em São Paulo (SP) - Ettore Chiereguini/Futura Press/Estadão Conteúdo
Paciente chega no Hospital de Campanha no Estádio do Pacaembu em São Paulo (SP) Imagem: Ettore Chiereguini/Futura Press/Estadão Conteúdo

Juliana Arreguy

Do UOL, em São Paulo

07/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Estudo de pesquisadores da UFMG, de Harvard e de secretaria do Ministério da Saúde aponta colapso do sistema de saúde ainda este mês
  • Nove cidades tiveram previsão de esgotamento de leitos de hospitais, leitos de UTI e ventiladores mecânicos a partir deste mês
  • O estudo considera 12 cenários possíveis de datas para o colapso em cada cidade
  • Nos casos mais otimistas, o esgotamento ocorre em maio; nos mais pessimistas, deveria ter iniciado em março

Um estudo publicado por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), na última semana, alerta que serviços hospitalares do Brasil devem começar a sofrer escassez de leitos (tanto de baixa complexidade como de UTI) e ventiladores mecânicos ainda este mês por causa da pandemia de coronavírus.

O levantamento "Demanda por serviços de internação de pacientes com Covid-19 no Brasil" foi feito em parceria com a Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard e com a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde e leva em consideração 12 cenários distintos, com datas diferentes para o colapso nos sistemas de saúde de nove regiões metropolitanas.

Cada região tem suas especificações, que levam em consideração quantidade de hospitais e leitos disponíveis, assim como aumento na quantidade de casos confirmados de covid-19. Os detalhes da metodologia podem ser conferidos na íntegra em inglês.

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Aglomeração de pessoas durante pandemia de covid-19
Imagem: Alex de Jesus/O Tempo/Estadão Conteúdo

No melhor dos cenários previstos pelo estudo, São Paulo, capital do estado com maior quantidade de casos do país, tem o esgotamento de leitos de baixa complexidade previsto para o dia 19 de abril; no pior dos cenários, a escassez chegaria no dia 12 deste mês.

Publicado na última quarta-feira, o texto alerta para a necessidade de se construir hospitais de campanha com novos leitos e ventiladores, intensificar o isolamento social e aumentar os testes feitos na população. Com essas medidas, seria possível adiar ou mesmo evitar o colapso no sistema de saúde.

Confira as nove cidades que entram no levantamento e um compilado de datas nas quais os esgotamentos foram previstos. Cada um dos 12 cenários projeta uma data diferente. Em ordem decrescente, o UOL apresenta o intervalo a partir do pior cenário.

São Paulo

  • Leitos de baixa complexidade: 12 a 19 de abril
  • Leitos de UTI: 5 a 19 de abril
  • Ventiladores Mecânicos: 18 de abril a 29 de abril

Rio de Janeiro

  • Leitos de baixa complexidade: 19 a 23 de abril
  • Leitos de UTI: 10 a 21 de abril
  • Ventiladores Mecânicos: 23 de abril a 2 de maio

Brasília

  • Leitos de baixa complexidade: 12 a 16 de abril
  • Leitos de UTI: 29 de março a 13 de abril
  • Ventiladores Mecânicos: 14 de abril a 23 de abril

Fortaleza

  • Leitos de baixa complexidade: 16 a 22 de abril
  • Leitos de UTI: 5 a 13 de abril
  • Ventiladores Mecânicos: 16 de abril a 26 de abril

Belo Horizonte

  • Leitos de baixa complexidade: 27 de março a 1º de maio
  • Leitos de UTI: 1 a 13 de abril
  • Ventiladores Mecânicos: 18 a 28 de abril

Porto Alegre

  • Leitos de baixa complexidade: 20 a 23 de abril
  • Leitos de UTI: 7 a 17 de abril
  • Ventiladores Mecânicos: 18 a 26 de abril

Curitiba

  • Leitos de baixa complexidade: 22 a 26 de abril
  • Leitos de UTI: 7 a 15 de abril
  • Ventiladores Mecânicos: 17 a 29 de abril

Salvador

  • Leitos de baixa complexidade: 26 a 30 de abril
  • Leitos de UTI: 8 a 20 de abril
  • Ventiladores Mecânicos: 24 de abril a 2 de maio

Manaus

  • Leitos de baixa complexidade: 26 a 30 de abril
  • Leitos de UTI: 8 a 18 de abril
  • Ventiladores Mecânicos: 26 de abril a 4 de maio

Colapso em abril

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em entrevista coletiva concedida em 20 de março, já havia alertado para o colapso do sistema de saúde em abril.

"Claramente, ao final de abril, nosso sistema entra em colapso", disse Mandetta. Ele também explicou que, em colapso, "você pode ter o dinheiro, pode ter o plano de saúde, pode ter a ordem judicial, mas simplesmente não há sistema para você entrar".

O estudo também alerta que, com o sistema em colapso, médicos brasileiros teriam de enfrentar o dilema de escolher quais pacientes receberiam ventiladores mecânicos e quais ficariam sem — situação já vivida por profissionais de saúde na Itália.

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Vista de corredor superlotado em unidade de saúde da Espanha

Estatização

Diante da possibilidade de sobrecarga, o estudo indica que o ideal seria, em forma de urgência, "colocar temporariamente todos os hospitais privados sob o controle do Estado, uma medida adotada pela Espanha."

Na última sexta-feira, o Ministério da Saúde já admitiu a possibilidade de precisar de leitos da rede privada, embora o SUS (Sistema Único de Saúde) esteja dando suporte os hospitais particulares na atual fase da pandemia de coronavírus.

"Se (o SUS) precisar (de leitos privados), vai usar", declarou Mandetta.

A estatização de hospitais privados já foi adotada na Espanha, na mesma semana em que a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretou a pandemia de coronavírus.

O Ministério da Saúde espanhol alegou que as instituições públicas não conseguiam lidar com a demanda de necessitados e que, portanto, os serviços privados seriam colocados à disposição da população.