Covid-19: Ministério da Saúde projeta que casos acelerem a partir de maio
Resumo da notícia
- Ministério da Saúde estima que o Brasil entre na fase de aceleração descontrolada de casos de coronavírus em um mês
- Os casos da doença covid-19 devem começar a desacelerar a partir de meados de junho
- Caso seja adotado o distanciamento seletivo, como defende Jair Bolsonaro, mais pessoas serão contaminadas, aponta o Ministério
- Distanciamento social não impede a transmissão da doença, mas busca evitar que o sistema de saúde entre em colapso
O Ministério da Saúde estima que o Brasil entre daqui um mês na fase de aceleração descontrolada de casos do novo coronavírus. Segundo projeção apresentada ontem, o início desta etapa está previsto para a 19ª semana do ano, ou seja, entre 4 e 10 de maio. A quantidade de casos da doença covid-19 deve começar a desacelerar a partir de meados de junho, na 25ª semana.
A partir da fase de aceleração, o país deve começar a caminhar rumo ao pico de casos, previsto para o início de junho, de acordo com a projeção apresentada pelo Ministério da Saúde. O nível do pico, porém, depende do tipo de isolamento social adotado pelo país para conter a pandemia.
Caso nenhuma medida para conter o coronavírus fosse tomada, "teríamos uma explosão de casos e depois uma queda", disse o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira. "Porque, depois, as pessoas ou ficariam imunes ou morreriam em decorrência de uma doença", explicou ontem em Brasília.
O único instrumento de controle existente, possível, disponível é o distanciamento social."
Wanderson Kleber de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde
Mesmo com as medidas de distanciamento social, o número de casos irá crescer em maio. Entretanto, seria pior se não houvesse isolamento social, aponta o Ministério da Saúde. Caso seja adotado o distanciamento seletivo, como defende o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mais pessoas serão contaminadas pela covid-19 e o número de mortes também será maior do que no caso de isolamento ampliado.
"O paciente é o sistema de saúde"
O secretário deixa claro que o distanciamento social não impede a transmissão. "Equivoca-se quem acha que seja para isso."
O objetivo dessa estratégia é preservar o sistema de saúde, para que ele tenha condições de atender a alta demanda. "As medidas de distanciamento social são fundamentais para que o sistema de saúde se organize", pontua. "O paciente é o sistema de saúde, não é a pessoa."
Oliveira fez uma ponderação a respeito do distanciamento seletivo. "Não tem problema, do ponto de vista metodológico, desde que tivéssemos leitos, respiradores, equipamentos de proteção suficientes para que os profissionais pudessem trabalhar com segurança", comentou.
Ele argumenta que é preciso ganhar tempo para "ter testes para que os profissionais dos diversos setores da economia possam retornar ao seu trabalho com segurança, e não infectando aquele próprio que ele está servindo, que é o cliente, o consumidor."
Para evitar colapso
Neste momento da crise, na visão do membro do ministério, o objetivo principal é "montar os leitos, se organizar para implementar medidas esperando a fase de maior intensidade de transmissão".
São estratégias para evitar que os sistemas de saúde do país fiquem "sobrecarregados, com taxas elevadas de hospitalizações e mortes", diz documento do ministério.
"O Ministério da Saúde avalia que as estratégias de distanciamento social adotadas pelos estados e municípios contribuem para evitar o colapso dos sistemas locais de saúde, como vem sendo observado em países desenvolvidos, como EUA, Itália, Espanha e China, e, recentemente, no Equador", diz o boletim.
Para a pasta, o isolamento deve ser mantido até que o sistema de saúde mostre condições de ter equipamentos e profissionais de saúde suficientes para que se comece uma transição.
Transmissão mais intensa
De acordo com o boletim epidemiológico, hoje, o "risco imediato de ser exposto a esse vírus ainda é baixo para a maioria das pessoas, mas à medida que o surto se expande, esse risco aumenta". Por esse motivo, nos próximos três meses, a maioria da população do Brasil, "principalmente de grandes centros urbanos", será exposta à covid-19.
O ministério considera que algumas unidades federativas podem chegar à fase de aceleração antes do começo de maio. São elas: São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Amazonas e Distrito Federal.
"Nesses locais, a fase da epidemia pode estar na transição para a fase de aceleração descontrolada", diz o boletim epidemiológico apresentado ontem pelo Ministério da Saúde.
Essas unidades federativas possuem um índice de casos por 100 mil habitantes superior à média nacional, que é de 5,7. O pior número é do Distrito Federal, com 15,5. No grupo, o Rio de Janeiro possui o índice mais baixo, 8,4. "Estamos com alguns estados com transmissão mais intensa", explicou Oliveira.
Fases
Atualmente, o Brasil está na fase de epidemias localizadas. Nesta etapa, o ministério foca em identificar transmissão comunitária, monitorar cuidados e testar o máximo de pessoas. E busca "distanciamento social seletivo para reduzir a velocidade da transmissão e permitir a implementação das estruturas planejadas".
O distanciamento ampliado e até o bloqueio geral, também conhecido como lockdown, são previstos apenas para a fase seguinte, a de aceleração, estimada para o início de maio.
Já na desaceleração, projetada para a semana de 15 de junho, é prevista a recomendação do distanciamento seletivo. A partir de agosto, estima-se que o país chegue à última fase, de controle da doença, quando poderá ser feita a retirada gradual das medidas de isolamento.
O ministério lembra que, "no momento, não há vacina para proteger contra a covid-19 nem medicamentos aprovados para tratamento".
Sobre a cloroquina, mencionada por Bolsonaro, a pasta diz que são necessárias "mais duas semanas para recebimento de resultados preliminares de segurança e eficácia do uso deste protocolo para uso ampliado".
"Assim, a aplicação de medidas de distanciamento social, seletivo ou ampliado, são as únicas estratégias para tentar atrasar a disseminação do vírus, reduzir o impacto da doença e permitir a estruturação, reorganização ou recuperação do sistema de saúde", acrescenta o boletim.
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