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EUA passam de 2 milhões de testes e fazem casos de coronavírus explodirem

EUA registram mais de 430 mil casos de coronavírus. Números cresceram após testes em massa - Alexi Rosenfeld/Getty Images
EUA registram mais de 430 mil casos de coronavírus. Números cresceram após testes em massa Imagem: Alexi Rosenfeld/Getty Images

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

10/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Os Estados Unidos já ultrapassaram a marca de 2,2 milhões de pessoas testadas para o novo coronavírus
  • Essa quantidade é uma das explicações para a explosão de casos de covid-19: mais de 430 mil pessoas contaminadas, segundo o ECDC
  • Donald Trump disse que os EUA têm mais casos porque "mais testes foram feitos"
  • Especialistas dizem que, se fossem feitos no Brasil testes na mesma escala dos EUA, os números brasileiros estariam no mesmo patamar

Os Estados Unidos já ultrapassaram a marca de 2,2 milhões de pessoas testadas para o novo coronavírus. A quantidade de exames é uma das explicações para, em um mês, o país ter visto o número de casos de covid-19 explodir, sendo multiplicado por mil.

Entre 4 e 7 de março, primeiro período com dados disponíveis, os EUA realizaram 2.150 testes. No mesmo intervalo, o país registrou 235 novos casos da doença, totalizando 338 com os que haviam sido identificados em janeiro e fevereiro.

Hoje, com mil vezes mais testes, o número de novos casos por dia passou para o patamar de cerca de 30 mil. No total, até ontem, mais de 430 mil pessoas estavam contaminadas com a covid-19 em território americano, de acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle das Enfermidades (ECDC, em inglês). O número de mortos pela pandemia nos EUA passou de 15 mil, segundo divulgou ontem a universidade americana Johns Hopkins.

A quantidade cresceu praticamente na mesma proporção do número de exames realizados. O presidente Donald Trump disse que os EUA têm mais casos porque "mais testes foram feitos". O país ainda aguarda o resultado de mais de 17 mil exames, que estão pendentes de análise.

"Já estavam lá"

"Os casos já estavam lá, só foram confirmados", observa o professor doutor Fábio Klamt, pesquisador do Departamento de Bioquímica da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Ele ressalta que, com mais testes, é possível "estimar com maior segurança os números de casos, a progressão da pandemia, se as ações de isolamento estão funcionando, prever se — e quando — o sistema de saúde irá colapsar e tomar atitudes para evitar".

"O planejamento de enfrentamento é todo baseado nos números de caso e progressão deles", acrescenta Klamt.

Os estados com mais testes nos Estados Unidos até o dia 7 de abril eram:

  • Nova York: 340.058
  • Flórida: 138.162
  • Califórnia: 131.229
  • Washington: 91.775
  • Pensilvânia: 91.278
  • Texas: 88.649

Entretanto, os EUA seriam "meio um ponto fora da reta", na análise do professor doutor Alessandro dos Santos Farias, coordenador da frente de diagnóstico da força-tarefa contra a covid-19 da Unicamp (Universidade de Campinas). "Porque, apesar de eles estarem testando muito, estão testando tarde", explica.

Farias compara com o que ocorreu na Alemanha e Coreia do Sul, países que começaram a realizar os exames logo no início da pandemia e em larga escala. "Você vai ver que eles estão conseguindo fazer o que a gente está querendo fazer [no Brasil], que é achatar a curva". A Coreia do Sul, inclusive, já está em tendência de queda em sua curva.

De acordo com dados da Universidade de Oxford coletados até o dia 7, o número de 2 milhões de testes nos Estados Unidos é o mais alto entre todos os países — quase três vezes mais a quantidade de exames feitos na Itália, segunda colocada no levantamento.

Proporcionalmente, porém, a Itália é o país que mais testa. São 12,2 testes a cada mil habitantes. Na sequência, aparece a Coreia do Sul, com 9,06. Nos Estados Unidos, são 5,78 por mil pessoas.

Testes no Brasil

No Brasil, o Ministério da Saúde informa ter distribuído até terça-feira (7) cerca de 138 mil testes pelo país. O governo ainda prevê distribuir mais 295 mil testes. Anteontem (8), o Ministério da Saúde informou pela primeira vez o número de testes realizados: 62.985.

O país tem 17.857 casos oficiais e 941 óbitos em decorrência da covid-19, segundo divulgou a pasta ontem.

"O Brasil tem um número muito menor de casos porque está testando pouco", avalia o professor doutor Alexandre Barbosa, chefe do departamento de infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista). "Quantos mais testes forem feitos, maior vai ser o controle sobre a epidemia."

Todos os especialistas consultados pelo UOL concordam que, se fossem feitos no Brasil testes na mesma escala dos Estados Unidos, os números brasileiros estariam no mesmo patamar dos americanos.

Até o dia 7, os Estados Unidos registravam cerca de 1.218 casos por milhão de habitantes. Já o Brasil, 65 casos por milhão.

"Eu acho que, se a gente testasse, estaria com números muito, muito, muito, muito maiores do que está", diz Farias. "Bem provável que estivéssemos na mesma escala [dos Estados Unidos]. Se a gente estivesse testando realmente, teria outra realidade agora."

Testes e isolamento

Para o professor da Unicamp, caso o Brasil tivesse mais testes, os resultados poderiam ajudar na manutenção do isolamento social. "Todo mundo consegue ficar 15 dias em casa. Só que o problema é: se isso for durar dois meses, ninguém vai aguentar. Mas você aguenta quando algum conhecido é positivo, porque a realidade chega perto de você."

Já o professor Klamt tem vivido o isolamento na pele. Com 44 anos e sem histórico de problemas de saúde, de acordo com o seu último check-up, o pesquisador da UFRGS contraiu o coronavírus em março e está no final de seu período de quarentena. "Eu sou um exemplo de que o vírus não tem estereótipo. Pega todo mundo, todas as classes."

Para ele, os dados que temos hoje no Brasil "devem ser provavelmente uma foto de uma semana ou dez dias atrás. A falta de testes é a única informação segura que temos disponível".