Entidades médicas recomendam 'cautela' com cloroquina por riscos cardíacos
Nove entidades médicas nacionais afirmam em documento divulgado hoje que é preciso "cautela" no uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina em pacientes com covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, pois as drogas aumentam o risco de complicações cardíacas.
O documento foi elaborado por especialistas das nove entidades e afirma que até o momento "não há disponível um medicamento que tenha demonstrado eficácia e segurança no tratamento de pacientes com infecção por Sars CoV-2 [nome científico do coronavírus]", diz o texto.
O estudo "Orientações sobre Diagnóstico, Tratamento e Isolamento de Pacientes com covid-19" foi elaborado com a participação da Abih (Associação Brasileira dos Profissionais em Controle de Infecções e Epidemiologia Hospitalar), SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), SBA (Sociedade Brasileira de Anestesiologia), CBR (Colégio Brasileiro de Radiologia), SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), Instituto de Medicina Tropical da USP (Universidade de São Paulo), Sobed (Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva) e a Sociedade Brasileira de Nefrologia.
O objetivo do documento é reunir informações para orientar os profissionais de saúde no tratamento e diagnóstico de pacientes do novo coronavírus.
O texto traz um resumo do que hoje é consenso entre os especialistas que participaram do estudo.
Sobre o uso da cloroquina, os especialistas afirmam ainda não existir tratamento comprovado contra a covid-19, e dizem que o uso da droga pode aumentar o risco de problemas cardíacos nos pacientes.
"Em relação ao tratamento, até o momento, não há disponível um medicamento que tenha demonstrado eficácia e segurança no tratamento de pacientes com infecção por SARS CoV-2. Estudos estão em andamento e quaisquer medicamentos utilizados com o objetivo de tratamento devem ser administrados sob protocolo clínico mediante aplicação de termo de consentimento livre e esclarecido", diz o texto.
"Deve-se ter cautela ao usar cloroquina ou hidroxicloroquina em associação com azitromicina, pois pode aumentar o risco de complicações cardíacas", afirma trecho que resume a opinião de consenso entre as entidades.
Na França, a Agência Nacional de Vigilância de Medicamentos disse ter identificado problemas cardíacos em pacientes que utilizaram a hidroxicloroquina.
A hidroxicloroquina e a cloroquina são substâncias análogas, de aplicação e efeitos semelhantes, tradicionalmente utilizadas no tratamento de pacientes com malária, lúpus e artrite reumatoide. Elas passaram a ser utilizadas de forma experimental no tratamento de pacientes com a covid-19 e pesquisas tentam comprovar se o uso das substâncias pode ser benéfico.
A azitromicina é um antibiótico que vem sendo testado no tratamento em associação com a hidroxicloroquina.
Estudos indicam a eficácia da cloroquina contra o vírus em experimentos feitos em laboratório, ou seja, sem que a droga tenha sido utilizada por pacientes.
Mas ainda não há comprovação de sua eficácia no uso clínico e, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os estudos disponíveis sobre esses medicamentos não são conclusivos.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem sido um entusiasta da hidroxicloroquina e da cloroquina como alternativa de tratamento.
O Ministério da Saúde autorizou que médicos utilizem as substâncias para pacientes graves, que estão internados, e pacientes críticos, que estão em leitos de UTI. Também está em estudo a autorização de seu uso para pacientes com quadros leves.
A autorização, se concedida, não equivale à orientação de que o medicamento deva ser utilizado, mas apenas à permissão de que médicos prescrevam a substância no tratamento de seus pacientes.
Risco de arritmia
O secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos em Saúde, do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, afirma que o principal efeito colateral da hidroxicloroquina e da cloroquina é a possibilidade de causar arritmia cardíaca.
"O coração é uma bomba que depende da ativação de um sistema elétrico proprio. Esse medicamento pode produzir um prolongamento de uma dessas fases elétricas do coração e propiciar um ambiente favorável a uma arritmia que pode ser potencialmente fatal", disse Vianna, em entrevista no último dia 7.
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