Comunidade fitness se aglomera em praça a uma rua do escritório de Doria
Resumo da notícia
- Ao lado do Palácio dos Bandeirantes, onde Doria prorrogou a quarentena, há uma praça apinhada de gente
- As pessoas levam apetrechos fitness e personal trainer para manter a forma e acham que não estão em risco
- O grupo incui o ator Henri Castelli, que argumenta usar álcool gel e não se aproximar das pessoas
Cadeiras de praia, gente correndo, puxando ferro ao ar livre e uma barraca de coco. Parece Copacabana no verão, mas é São Paulo na quarentena — pelo menos um ponto da cidade.
Essa rotina fitness aconteceu ontem de manhã, numa praça vizinha ao terreno do Palácio dos Bandeirantes, local em que João Doria, governador de São Paulo e pregador do isolamento social, deu entrevista coletiva anunciando a prorrogação da quarentena até o dia 10 de maio.
A área verde é bastante grande, e a barraca de coco fica no chamado espaço fitness da Praça Vinícius de Moraes, no Morumbi. O local tem barras e bancadas de musculação, onde dois homens se exercitam num nível de cerrar os olhos e avermelhar o rosto. Uma garota amarra cordas, elásticos e fitas para concentrar o peso do corpo nos braços e tornear os bíceps e tríceps. No banco em forma de semicírculo, quatro homens conversam amistosamente, aguardando a vez para fazer força.
Esse grupo está numa margem da rua. No outro lado da calçada, fica o muro do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo e de onde vem os apelos por isolamento social. Eles são ignorados por centenas de pessoas, inclusive o ator Henri Castelli. Ele começou os exercícios de ontem com uma caminhada, engatou numa corrida e depois foi pular corda.
Os pedidos do vizinho João Doria ficam no vácuo, porque o ator se sente seguro. Ele argumentou que estava mantendo distância de dois metros dos demais frequentadores e usava álcool gel. Com esses cuidados, alegou que não se coloca em risco, nem existe a possibilidade de passar o coronavírus para pessoas na praça, caso esteja contaminado.
A gama de modalidades da praça é ampla. Em outra área, duas mulheres esticam seus tapetes de ioga. O murinho em que elas depositaram suas bolsas de academia é o limite para o espaço em que um homem treina com seu personal. Esses profissionais estão por toda a parte, embora a atividade não conste na lista de serviços essenciais liberados pelo governo.
Eles chegam com sacolas cheias de equipamentos para castigar abdômen, coxas, glúteos, peitoral. Um personal saca suas ferramentas e dita instruções que fazem o aluno bufar ao levantar as pernas com caneleiras amarradas nos tornozelos.
Idosos e crianças também frequentam a praça
No parquinho, as ordens para entreter as crianças são cumpridas por uma dupla de babás vestidas de branco, como as enfermeiras e médicos que aparecem em fotos e vídeos pedindo para as pessoas ficarem em casa. As babás assistiam a um grupo de garotos correr para dentro de tubos e sair com sorriso no rosto. No gramado ao lado, um menino muito pequeno chutava a bola com pouca força e nenhuma precisão. A babá era generosa e gritava gol, independentemente da direção que a bola tomava.
Tiago Chagas, 34 anos, admitiu que essa não é a situação recomendada para dias de pandemia. Ele trabalha de personal e sempre frequenta a praça. Ontem, disse que foi resolver algumas situações na Avenida Paulista e aproveitou para malhar. Ele falou que o movimento caiu 40%, mas concorda que ainda há muita gente no local.
A estimativa de frequentadores bate com a feita pelo vendedor de cocos. São Paulo teve adesão de 49% ao isolamento social no dado mais recente, referente a quinta-feira.
O bairro do Morumbi tem moradores da camada mais rica e com maior nível de instrução. O pessoal que se exercita no local é sempre o mesmo. Sejam os puxadores de ferro do espaço fitness, os corredores das calçadas ou quem usa a parte interna. O miolo da praça tem muitas áreas com grama e é usado para atividades mais leves.
O público inclui um casal bastante idoso. O senhor parece ter os cabelos brancos há uns 30 anos e mantém uma determinação ferrenha pelas caminhadas. Em cada passo, precisa vencer a dificuldade em dobrar a perna direita que o faz quase arrastar o tênis no chão.
Questionado se acha que está se colocando em risco, ele diz um sonoro não. Repete o advérbio de negação em seguida. "Não vou dar entrevistas também", declara, enquanto a mulher balança a cabeça aprovando a atitude.
O casal evita a entrevista por opção, mas é obrigado a evitar a área dos cachorros para manter a integridade física. Eles correm para todos os lados. Tem salsicha com perna curta, que vai na direção de seu dono quase arrastando a barriga no chão. Tem dogue alemão, que é tão forte e grande como um pivô de basquete. Se um salsicha tirasse uma selfie ao lado de um dogue alemão, apareceria somente metade das pernas do altão.
Esses animais que espalham brinquedos por todo o gramado têm em sua defesa o fato de não saberem da existência da quarentena por causa de uma doença que já matou mais de 2 mil pessoas no Brasil (de acordo com os números oficiais do Ministério da Saúde). Os cachorros também têm sorte. A doença só afeta os donos deles (ao menos no Brasil não há registro de cães infectados pelo novo coronvaírus).
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