Bairro de SP com pico de mortes por covid-19 tem lojas e academias abertas
Brasilândia, São Paulo, capital. Observando a fachada, uma academia de musculação na av. João Paulo 1º parecia desativada. Os portões de ferro abaixados até o chão.
Um homem chega, faz uma ligação e de repente uma portinha se abre. Dentro do espaço, tudo funcionava normalmente: um aglomerado de pessoas malhava, enquanto no Brasil números oficiais apontam mais de 30 mil infectados pela covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus.
Vila Brasilândia foi na última semana o bairro paulistano com mais óbitos relacionados à covid-19, segundo a prefeitura. Foram 33 mortes.
Junto com a Freguesia do Ó, na zona norte da cidade, os dois bairros compõem o sexto distrito que contabiliza mais óbitos em decorrência do novo coronavírus: são 55 mortes, contra 79 da Penha, na zona leste, que lidera o ranking.
Na Brasilândia, a impressão de quem chega é a de que não existe pandemia. As pessoas estão nas ruas, as lanchonetes estão abertas; até uma grande loja de materiais de construção atendia clientes na tarde de quinta-feira (16). Eram poucos os espaços comerciais que pareciam cumprir o decreto de quarentena. Entre eles, nem todos, efetivamente, cumpriam.
Desinformação perigosa
A subprefeitura do distrito contratou um carro de som que passa pela região central dos dois bairros. O veículo alerta sobre a necessidade de ficar em casa, cumprir a quarentena; lavar as mãos, usar máscara e álcool em gel. No entanto, o carro não chegou às vielas das comunidades que ficam no "fundão" de Brasilândia.
Por isso, Veronica Machado, 50, coordenadora da ONG Mensageiros da Esperança, contratou um veículo com o mesmo intuito. Nesta semana próxima, vai dar continuidade à ação de conscientização. "Pedi à subprefeitura o mapeamento dos lugares por onde passaram. Então, decidi nosso destino: todos os lugares que não entraram na rota".
A ONG trabalha também na captação de doações e cestas básicas.
"Aqui está assim: cheio de gente. E, quanto mais você entra em Brasilândia, mais sente o clima de normalidade. As pessoas estão desinformadas, estão vivendo normalmente", afirma Veronica.
Visitantes usam ligação com vídeo para falar com internados
A subprefeitura local tem dois hospitais gerais: o de Cachoeirinha e o da Vila Penteado, ambos administrados pelo governo do estado. O segundo se tornou referência no tratamento do coronavírus. O hospital abriu uma tenda móvel pela qual o paciente passa caso chegue com sintomas gripais, antes mesmo de entrar na unidade.
De acordo com o diretor da unidade, Carlos Alberto de Castro Soares, o hospital tem limite de 100 testes diários e, como recomendação do Ministério da Saúde, são testados apenas pacientes que deverão ficar internados.
O espaço está aumentando sua estrutura: eram 10 leitos de UTI até março. Hoje, são 20, e até o fim da semana que vem, o diretor explica, serão 35.
Dos 20 leitos de UTI, 16 estão preenchidos por pessoas com covid-19. Entre os pacientes em estado grave, havia uma adolescente.
Na porta do hospital, familiares aguardavam o boletim médico. Enquanto uma médica passava informações, outra dispunha de um celular. Por ligação de vídeo, conectava os familiares aos pacientes que estavam conscientes --não era o caso da jovem citada acima.
O comportamento na hora da ligação era padrão: filhos tentavam acalmar as mães, internadas, sorriam, com positividade. A ligação durava mais ou menos um minuto.
Quando a médica desligava e passava para o próximo paciente, os familiares, que pareciam estar esperançosos, desabavam. Aos prantos, andavam de um lado para o outro, desnorteados.
Hospital-referência com 46 mortes
O hospital da Vila Penteado teve 46 óbitos por covid-19 desde 23 de março. Registrou ao mesmo tempo 77 altas.
Por ter sido designado a focar em coronavírus, a unidade tem recebido pacientes não apenas de Brasilândia e de Freguesia do Ó, mas das regiões adjacentes, segundo o diretor.
Em Cachoeirinha, os números são menores: 17 óbitos. Entre as outras 19 vítimas do vírus que passaram por ali, três tiveram alta e outras três foram transferidas para o hospital de campanha do Anhembi. Segundo a diretora de enfermagem Sandra Araújo, a rotatividade, em Cachoeirinha, é bastante alta.
Sandra explica que a falta de cumprimento da medida de isolamento entre os moradores de Brasilândia é o principal motivo do grande número de casos fatais por ali.
"A gente solicita o tempo todo que as pessoas fiquem em casa, mas não tem acontecido, principalmente nas comunidades. Não é só o comércio que tem funcionado, tanto o centro como a comunidade funcionam normalmente; as crianças estão correndo nas ruas, os adultos caminhando como se nada estivesse acontecendo. Não acredito que seja desinformação, mas, sim displicência."
Segundo a prefeitura, está prevista para maio a abertura do Hospital Municipal da Brasilândia, na Zona Norte, com 150 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para tratamento de pacientes atingidos pelo coronavírus na capital. No mesmo local, também serão instalados 30 leitos de enfermaria exclusivamente para o tratamento de pacientes de covid-19.
Questionada sobre o movimento e o comércio, a subprefeitura de Brasilândia e Freguesia do Ó garantiu que a fiscalização tem sido feita.
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