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Todos nós vamos morrer um dia: veja falas de Bolsonaro sobre o coronavírus

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

01/05/2020 20h47

Imerso em uma crise que envolve a Polícia Federal e a possibilidade de que seus seus filhos estejam envolvidos em um esquema de divulgação de ataques e notícias falsas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dá sinais de que considera a pandemia do novo coronavírus pauta secundária no país — chegou a equiparar a crise econômica à sanitária e disse diversas vezes que o Brasil tem outros problemas a resolver.

O presidente não arrefeceu sua posição nem com a escalada de mortes no país, que já ultrapassam 5 mil.

Da "gripezinha" ao "o que eu posso fazer?", relembre os principais comentários do presidente em relação ao novo coronavírus:

9 de março: "Vírus superdimensionado" - 25 casos

Em evento com a comunidade brasileira em Miami, Bolsonaro minimizou o potencial do novo coronavírus, que já havia causado mais de 3.000 mortes no mundo — hoje, são mais de 230 mil.

Tem a questão do coronavírus também que, no meu entender, está superdimensionado, o poder destruidor desse vírus. Então talvez esteja sendo potencializado até por questão econômica, mas acredito que o Brasil, não é que vai dar certo, já deu certo

15 de março: "Não podemos entrar numa neurose" - 200 casos

Naquele dia, Bolsonaro estava em monitoramento recomendado pelo ministério da Saúde, pois boa parte de sua comissão nos Estados Unidos havia sido contaminada. Ele, no entanto, apoiou e participou de atos pró-governo, tocando nos manifestantes e manuseando o celular de alguns deles para fazer fotografias. Depois, disse à CNN Brasil:

Não podemos entrar em uma neurose como se fosse o fim do mundo. Outros vírus mais perigosos aconteceram no passado e não tivemos essa crise toda. Com toda certeza há um interesse econômico nisso tudo para que se chegue a essa histeria

17 de março: "Vírus trouxe histeria" - 291 casos e 1 morte

Antes de seu aniversário de 65 anos, Bolsonaro afirmou que existia uma "histeria" em relação à crise da covid-19 e disse que faria uma "festinha tradicional" para celebrar. No mesmo dia foi registrada a primeira vítima da covid-19 no país, e o presidente fez a seguinte declaração à rádio Super Tupi:

Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia

20 de março: "Gripezinha não vai me derrubar" - 904 casos e 11 mortes

Pouco depois de terminar uma entrevista coletiva com o então ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM), chamou a doença de "gripezinha" — termo que já havia utilizado anteriormente para falar da covid-19.

Depois da facada, não vai ser gripezinha que vai me derrubar, não, tá ok? Se o médico ou o Ministério da Saúde recomendar um novo exame, eu farei. Caso contrário, me comportarei como qualquer um de vocês aqui presentes.

27 de março: "Não estou acreditando nesses números" - 3.417 casos e 92 mortes

Apesar do consenso em relação à subnotificação de dados referentes à doença, Bolsonaro colocou em dúvida o alto número de mortes e casos. Ele disse, sem provas, que estados estavam fraudando as causas das mortes das pessoas.

Se for todo mundo com coronavírus, é sinal de que tem estado que está fraudando a causa mortis daquela pessoas, querendo fazer um uso político de números. (...) Em São Paulo não estou acreditando nesses números

29 de março: "Todos nós iremos morrer um dia" - 4.256 casos e 136 mortes

Contrariando todas as orientações, incluindo do Ministério da Saúde e da OMS (Organização Mundial da Saúde), Bolsonaro saiu para um passeio nos arredores de Brasília. Ele gravou vídeo com apoiadores em Ceilândia e visitou um açougue em Taguatinga. Depois do passeio, disse:

Essa é uma realidade, o vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra, não como um moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós iremos morrer um dia

12 de abril: "Vírus está indo embora" - 22.169 casos e 1.223 mortes

Em uma live com lideranças religiosas, Bolsonaro voltou a minimizar o novo coronavírus. Dois dias antes, o país havia ultrapassado a marca de mil mortos pela covid-19. No mundo, eram mais de 100 mil mortos.

Parece que está começando a ir embora essa questão do vírus, mas está chegando e batendo forte a questão do desemprego

20 de abril: "Eu não sou coveiro, tá?" - 40.581 casos e 2.575 mortes

Em frente ao Palácio do Planalto, o presidente interrompeu um jornalista que perguntava sobre a quantidade de mortos por conta do novo coronavírus. O país havia contabilizado, apenas em um dia, dois mil casos e 113 vítimas.

Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?

28 de abril: "E daí? Quer que eu faça o quê?" - 71.886 casos e 5.017 mortes

Com mais de 5 mil mortes registradas, o país ultrapassou a China, que registra oficialmente 4.643 vítimas da covid-19. O presidente reagiu desta forma ao ser indagado sobre os dados:

E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre