Mortes entre crianças, jovens e adultos crescem mais que a de idosos em SP
Resumo da notícia
- Em SP, mortes de crianças, jovens e adultos cresceram proporcionalmente mais do que os óbitos entre idosos no período de um mês
- Até o começo de abril, nenhuma criança havia morrido em decorrência da covid-19; um mês depois, são quatro crianças vítimas da doença
- A maior incidência da covid-19 nas periferias explica o aumento da mortalidade entre os mais jovens, dizem médicos ouvidos pelo UOL
O mês de abril marcou uma mudança na faixa etária das vítimas do novo coronavírus no estado de São Paulo. A despeito da concentração ainda predominante nas pessoas com mais de 60 anos, as mortes de crianças, jovens e adultos cresceram proporcionalmente mais do que os óbitos entre idosos no período de um mês.
Entre 11 de abril e 11 de maio, o número de mortes entre pessoas com mais de 60 anos passou de 460 para 2.739, um aumento proporcional de seis vezes. Entre crianças, jovens e adultos, subiu de cem óbitos há um mês para 1.004 vítimas na última segunda-feira (11) — aumento de dez vezes.
Até o começo de abril, nenhuma criança havia morrido em decorrência da covid-19; um mês depois, são quatro crianças vítimas da doença, a última delas de 4 anos em Francisco Morato (Grande São Paulo).
A maior incidência da covid-19 nas periferias explica o aumento da mortalidade entre os mais jovens, conforme médicos ouvidos pelo UOL.
"A pandemia chegou onde a densidade populacional é muito grande, onde é impossível fazer distanciamento. Aquela premissa de que o jovem vai bem e os velhos vão morrer pode fazer sentido nos países europeus, mas não em um país subdesenvolvido que conta com um dos maiores índices de desigualdade no mundo", observa o médico infectologista Caio Caio Rosenthal.
Desigualdade social
A mudança nos números tem contornos mais relacionados à desigualdade social do que a questões de saúde pública. A covid-19 chegou ao país por meio das classes altas, mas hoje há consenso de que as periferias estão sendo mais afetadas.
Até o dia 30 de abril, data de divulgação do último boletim detalhado pela Prefeitura da capital paulista, Brasilândia figurava como o bairro com o maior número de vítimas da doença, seguida por Sapopemba e São Mateus.
Óbitos de quem tem menos de 60 anos também castigam os bairros mais pobres. Até aquela data, Campo Limpo, Parelheiros, Itaim Paulista, São Miguel e Cidade Tiradentes concentravam a maior proporção de mortes entre crianças, jovens e adultos.
"Já estamos observando o vírus circulando nas áreas menos favorecidas, que infelizmente têm menos acesso a condições como água e esgoto. As secretarias do município já têm trabalhado nesse sentido, com oferecimento de água, tentando trazer também uma melhoria das condições de saneamento básico. Nesses locais, por vezes não há nem a condição adequada para lavar as mãos, que é o mais fundamental", diz Helena Sato, doutora em Medicina e diretora do centro de vigilância epidemiológica de São Paulo.
O que estamos fazendo é tentar levar a informação adequada para as pessoas. Falamos em isolamento, em regras, mas sabemos que é difícil se isolar em casas onde moram cinco ou seis pessoas juntas
Helena Sato, diretora do centro de vigilância epidemiológica de São Paulo
Leitos de UTI ocupados
Anteontem, o estado São Paulo registrou taxa de ocupação de 69,1% nos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) — um dos pontos mais sensíveis no combate à pandemia. A capital tem 85,7% dos leitos intensivos ocupados, parte considerável na periferia.
Na sexta (8), o UOL reportou que já há hospitais completamente saturados nos bairros distantes do centro.
No Hospital Municipal Josias Castanha Braga, em Parelheiros (zona sul), por exemplo, todas as 20 vagas de UTI disponibilizadas para atendimento aos pacientes com covid-19 estão ocupadas. O Hospital Municipal Waldomiro de Paula, localizado em Itaquera (zona leste), possui 95% dos leitos de UTI ocupados. No hospital de Parelheiros, a prefeitura prometeu entregar 268 novos leitos até o fim deste mês.
"Os brasileiros mais pobres têm uma questão de vulnerabilidade muito grave, principalmente os jovens e não brancos. Se não há água para lavar as mãos e tratamento de esgoto, como vai se proteger? Não só da covid, mas de outras viroses também. Com uma enorme desigualdade de acesso, incluindo à saúde pública, os jovens das periferias se comportam epidemiologicamente diferente", diz o infectologista Rosenthal.
Limbo de informações
Ele cita ainda que não há uma convergência no país em relação ao combate à pandemia. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) critica o isolamento, os municípios e estados tentam convencer a população do oposto. O limbo de informações e esse embate dificultam a comunicação com as pessoas, que são influenciadas por posições muitas vezes contrárias à sua própria saúde.
Traçando um paralelo com a Europa — onde boa parte dos países cumpriu as regras rigorosas de distanciamento —, Rosenthal afirma que não há como comparar com a situação brasileira, em termos de mortalidade, por conta das condições para que o isolamento seja respeitado.
É mais do que esperado que os não brancos, as pessoas que não têm estabilidade financeira, os informais e os mais pobres serão os que mais vão sofrer com a pandemia
Caio Rosenthal, médico infectologista
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