Aposta da Saúde, tratamento com cloroquina responsabiliza médico e paciente
O Ministério da Saúde forneceu novas explicações a respeito do protocolo para uso da cloroquina em tratamentos para covid-19, publicado hoje pela pasta. Diante da possibilidade de efeitos colaterais como arritmia cardíaca e disfunção de órgãos, o ministério reforça que a decisão de utilizar a medicação é de inteira responsabilidade do médico e do paciente.
Em mais uma coletiva sem a presença do ministro interino da pasta, Eduardo Pazuello, o protocolo foi apresentado à imprensa junto de um termo de consentimento para ser assinado tanto pelo médico quanto pelo paciente. O país chegou a 291.579 diagnósticos e 18.859 mortes pelo coronavírus.
No texto, ambos são alertados sobre possíveis efeitos da medicação e de que ela não é garantia de "resultados positivos". Da mesma forma, a cloroquina e a hidroxicloroquina podem agravar o quadro do paciente.
Apesar da ausência de estudos clínicos que comprovem a eficácia dos fármacos no tratamento para o novo coronavírus, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, declarou mais de uma vez que se trata de oferecer "livre arbítrio" à possibilidade do tratamento em casos "suspeitos ou comprovados".
"O que a gente hoje pode dizer é que não retardaremos o início da possibilidade dos brasileiros terem acesso a esses medicamentos enquanto se aguarda o resultado dos exames que devem ser feitos", declarou ela nesta tarde.
Mesmo falando em usar a medicação em casos suspeitos de covid, Mayra acrescentou que isso não exime os pacientes de realizarem exames para a detecção da doença e afirmou que a pasta não estimula a autoprescrição da cloroquina.
No entanto, a pasta não citou nenhuma medida para aumentar a quantidade de testes disponíveis à população, considerando que o Brasil apresenta baixíssima testagem.
O secretário-executivo substituto, Élcio Franco, também declarou que o governo investiu no aumento da produção de cloroquina para garantir mais de 365 mil tratamentos. Ele observou que a pasta se preocupou em manter o fornecimento da medicação para casos em que ela já é utilizada, como lúpus, malária e artrite.
Acompanhamento médico
Segundo o ministério, o paciente que for submetido ao uso da cloroquina deve realizar exames eletrocardiográficos no primeiro, no terceiro e no quinto dia do tratamento.
A pasta não afirmou se a estrutura dos hospitais públicos do país será adaptada para lidar com a maior demanda de exames.
O governo diz ter firmado uma parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia para disponibilizar o serviço de telemedicina para eletrocardiograma. Não foi detalhado como as consultas serão feitas, uma vez que o exame é presencial.
"O termo de conhecimento livre e esclarecido deixa o paciente estabelecido que ele tem acesso a todas as informações e riscos", disse Mayra sobre a possibilidade de pacientes tentarem processar a União em caso de efeitos adversos pelo uso da cloroquina.
Demanda Mundial
Ao longo da coletiva, foi dito mais de uma vez que "outros centros fora do Brasil já usam essas medicações" e que isso serviu de base para estudos utilizados na elaboração do protocolo.
"O mundo vem usando. A prova maior é que o mundo inteiro está vivendo o desabastecimento mundial do mercado de cloroquina e hidroxicloroquina", declarou a secretária.
Novamente, a pasta não deixou claro quais seriam os países que vêm utilizando a hidroxicloroquina e a cloroquina em tratamentos para covid-19.
A Saúde alegou contar com o apoio da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) na elaboração do protocolo. Mas ainda ontem a organização havia desaconselhado o uso dos medicamentos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) foi outra a reforçar a falta de estudos que comprovem a eficácia dos fármacos em tratamentos para covid-19.
Sociedades médicas também demonstraram ceticismo sobre o uso dos medicamentos. Na coletiva de hoje, o Ministério da Saúde disse ter recebido o aval do Conselho Federal de Medicina e da Sociedade Brasileira de Cardiologia para formular as diretrizes.
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