MPT investiga denúncia de máscaras sem filtro para covid em hospitais do RJ
Resumo da notícia
- Em vídeo, enfermeira de hospital do RJ mostra máscara sem filtro
- Profissionais de outros dois hospitais dizem receber material inadequado
- Especialista procurada pelo UOL e Cofen confirmam versão de enfermeiros
- Prefeitura e fornecedora afirmam fornecer máscaras adequadas aos profissionais
Profissionais de enfermagem de ao menos três hospitais do Rio dizem que máscaras de proteção distribuídas pela prefeitura não têm filtro e são insuficientes para garantir proteção contra o novo coronavírus. Os relatos foram repassados ao MPT-RJ (Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro), que move ação civil pública contra o município, exigindo melhores condições de trabalho nas unidades de saúde.
A Alliance Respiradores, que produz as máscaras, afirma que o produto tem "qualidade indubitável" para a proteção dos profissionais que as utilizam, possuindo aprovação do Inmetro e do Ministério do Trabalho. Procurada pelo UOL para se manifestar sobre o caso, a Prefeitura do Rio contestou as informações contidas na denúncia do MPT-RJ.
Em nota, disse que o hospital Miguel Couto recebeu 2.000 máscaras N-95 e outros equipamentos de proteção individual neste mês. "Todos os itens estão dentro dos padrões e normas técnicas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério da Saúde", disse a Secretaria Municipal de Saúde, em nota.
O Rio de Janeiro é o estado com mais óbitos de enfermeiros e técnicos de enfermagem no país —37 mortes, segundo o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem). Até ontem (22), foram contabilizadas 150 mortes de profissionais de saúde por covid-19 ou com suspeita da doença e mais de 16 mil afastamentos.
Uma enfermeira do hospital Miguel Couto, no Leblon, zona sul, enviou vídeo ao UOL para exibir máscara recebida na mesma unidade onde foi denunciado risco de contágio em ala para covid-19. As imagens foram anexadas à ação civil pública do MPT-RJ, que também exige melhorias nos hospitais Souza Aguiar, Lourenço Jorge e Salgado Filho.
"A máscara não tem filtro. Tem só a camada do TNT e essa camada azul [diz, enquanto a manuseia]. Não é uma máscara N-95", critica.
À reportagem, ela deu mais detalhes sobre o equipamento. "Essa máscara não tem a especificação adequada contra a covid. Ela só serve para partículas, como fumaça e poeira. E é imprópria para impedir infecções. Os profissionais estão trabalhando com a ideia de que estão dentro dos padrões. Mas não é o que está acontecendo", denuncia.
Sob a condição do anonimato, uma técnica de enfermagem do hospital Lourenço Jorge, na Barra, zona oeste do Rio, disse que usa uma máscara N-95, adquirida por conta própria. "Recebi uma máscara azul para trabalhar, mas ela não é a recomendada pelo Ministério da Saúde e Vigilância Sanitária."
A situação ainda foi relatada por profissionais em atividade no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, zona norte do Rio, onde o MPT-RJ também já revelou superlotação e acúmulo de corpos sem refrigeração.
'Máscara inadequada', diz especialista após ver o vídeo
A pedido do UOL, a enfermeira Lilian Behring, coordenadora nacional do grupo de alta complexidade da Rede Universitária de Telemedicina, do Ministério de Ciência e Tecnologia, analisou o vídeo que mostra a máscara usada nos hospitais do Rio.
A máscara é inadequada. Ela é insuficiente, por não conter os filtros apropriados para a retenção de micropartículas relacionadas à covid. Há máscaras que não filtram o coronavírus. O profissional passa o plantão achando que está com a máscara adequada, mas acaba correndo o risco de ser contaminado
Lilian Behring, enfermeira
Ela atribui o alto número de mortes de enfermeiros e técnicos de enfermagem no país à falta de EPIs (equipamentos de proteção individual), cargas horárias exaustivas e contato com pacientes infectados nos leitos.
Para ela, o uso de máscaras inadequadas pode agravar a situação. "O ideal seria que o gestor testasse a eficácia das máscaras. Mas, na prática, quem está fazendo isso é o profissional de saúde, lá na ponta", lamenta.
Manoel Neri, presidente do Cofen, critica o fornecimento de máscaras insuficientes para minimizar o risco de contágio. "Isso é uma irresponsabilidade, porque coloca os profissionais de saúde em risco de contaminação. As máscaras indicadas são as cirúrgicas, N-95 ou PFF-2, conforme os protocolos indicados pela Anvisa", explica.
Leia íntegra da Alliance, fornecedora da prefeitura
Sobre a matéria "Hospitais cariocas recebem máscaras sem filtro para Covid-19, afirma MPT", a Alliance Respiradores, responsável pela fabricação do material, esclarece que a informação não procede, de forma alguma.
As máscaras N-95, fabricadas pela Alliance, possuem duas camadas internas acopladas. A primeira, mais grossa, é uma mantra filtrante do tipo "Melt-Blown". Essa tecnologia é utilizada em diversos países, incluindo China e EUA, por exemplo. A segunda camada, mais fina, visa evitar que os pacientes tenham desconfortos como coceira.
Desta forma, as máscaras da Alliance, disponibilizadas para a rede municipal de Saúde do Rio de Janeiro, são de qualidade indubitável para a proteção dos profissionais de saúde que as utilizam, possuindo aprovação do Inmetro e do Ministério do Trabalho.
A reportagem do UOL está convidada a conferir presencialmente a fabricação do produto.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.