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Foco de covid reabre comércio e prefeito diz: 'Não tenho bola de cristal'

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

26/05/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Prefeito de Duque de Caxias (RJ) diz ter 50% dos leitos disponíveis
  • Reis diz ter prejuízo de R$ 100 milhões desde o começo da pandemia
  • Com 187 óbitos, município é o 2º no Rio com o maior número de mortes
  • Justiça derrubou medida. Prefeito se baseia em autonomia para recorrer

Washington Reis (MDB), prefeito de Duque de Caxias (RJ), disse que decidiu reabrir o comércio em razão da disponibilidade de leitos hospitalares e do prejuízo estimado em R$ 100 milhões nos cofres públicos desde o começo da pandemia. "Não tenho bola de cristal", afirmou em entrevista ao UOL após ser questionado sobre o impacto da medida na população. Ele admitiu contudo reaver a decisão se houver aumento de mortes e internações.

Com 187 óbitos, o município da Baixada Fluminense é o 2º no estado do Rio com o maior número de mortes por covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Na tarde de ontem, a Justiça do Rio derrubou a reabertura do comércio. O prefeito disse que irá recorrer com base em decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que deu autonomia a prefeitos e governadores no combate ao vírus. O Rio já contabiliza mais de 4.000 mortes pelo vírus.

Movimentação no centro de Duque de Caxias nesta segunda-feira - ESTEFAN RADOVICZ/ESTADÃO CONTEÚDO - ESTEFAN RADOVICZ/ESTADÃO CONTEÚDO
25.mai.2020 - Movimentação no centro de Duque de Caxias nesta segunda-feira
Imagem: ESTEFAN RADOVICZ/ESTADÃO CONTEÚDO

Hoje, nós temos 50% dos nossos leitos disponíveis. Temos aparelhos respiradores e leitos de CTIs [para atender a população]. Compreendemos que chegou o momento de dar oportunidade de sobrevivência ao comércio. Muitas pessoas estão sendo demitidas

Washington Reis (MDB), prefeito de Duque de Caxias (RJ)

Religioso, Reis, que chegou a ser internado após contrair covid-19, relacionou o combate ao coronavírus com a fé. "Governar é um ato de coragem. Não tenho bola de cristal para saber o que vai acontecer. Tenho muita fé em Deus que isso [a pandemia] vai acabar", disse.

"[O combate ao coronavírus] não é uma equação exata. Mas estamos acompanhando de perto, com muita responsabilidade. Aqui não tem esse negócio de adivinhação. Caxias não teve nenhum caso de paciente abandonado, precisando de respirador ou leito de CTI. Nós garantimos toda a infraestrutura de medicamentos, de insumos. Fizemos o dever de casa", completou.

25.mai.2020 - Washington Reis (MDB), prefeito de Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense, decretou a reabertura do comércio em meio à pandemia - Herculano Barreto Filho/UOL - Herculano Barreto Filho/UOL
25.mai.2020 - Washington Reis (MDB), prefeito de Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense, decretou a reabertura do comércio em meio à pandemia
Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Ele também falou sobre os riscos de atrasar os salários dos profissionais de saúde por causa do prejuízo nos cofres públicos.

"Já perdi mais de R$ 100 milhões de arrecadação. E, talvez, daqui a 20 dias, o senhor, como repórter, me pergunte sobre o pagamento dos salários dos médicos. Dinheiro não dá em pé de árvore. Não adianta a gente matar a economia. A quarentena ajudou, mas o maior problema é a falta de leitos. E nós temos vagas disponíveis para pacientes com a covid", disse o prefeito.

O emedebista também afirmou que a sua gestão não pode se limitar apenas ao combate à pandemia.

Precisamos atender a sociedade no tocante ao emprego, à fome, à quebradeira. Governo é engrenagem. Não governo um tema só. Eu tenho a consciência de que é um risco. Se estivesse preocupado só com o meu interesse político, ficaria na 'embromoterapia' e entraria na manada. O governante tem que ter a capacidade de decidir

Conversa com o ex-ministro Mandetta

Reis também revelou ter tido uma conversa com Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde e seu ex-colega na Câmara dos Deputados, em Brasília. O prefeito foi deputado federal entre 2011 e 2017; Mandetta, entre 2011 e 2019.

Ele me disse: 'Abra depressa o seu hospital [para tratar pacientes com a covid-19] porque teremos choros e ranger de dentes. O negócio é feio'. Muitas pessoas perderam os seus parentes e os seus amigos (...). É um holocausto. O comentário do Mandetta foi dentro da normalidade

O UOL circulou ontem por ruas de Duque de Caxias e verificou os comércios com as portas abertas e filas. Mas nem todo mundo parecia estar disposto a aderir à reabertura.

"As pessoas precisam ficar nas suas casas. Só saí para comprar o que estava faltando em casa", disse Robson de Souza Schevenck, 27, acompanhado da esposa e com o filho de 1 ano no colo. "Não gosto de ver o comércio aberto, porque o povo fica meio sem noção", concordou a maquiadora Andressa Nascimento, 32.