Covid: cientista da USP estima 507 mil infectados no Rio e critica Crivella
Resumo da notícia
- Número equivale a um caso de covid-19 a cada 13 moradores do Rio
- Com 5.236 mortes segundo pesquisa, índice é 167% maior que o da prefeitura
- "O prefeito do Rio só quer reabrir igreja", critica pesquisador da USP
- Prefeitura do Rio diz que mudança foi feita para dar mais transparência
A cidade do Rio já registra mais de 507 mil infectados, número 18 vezes maior em comparação aos dados oficiais, estima o cientista Domingos Alves, professor de Medicina da USP e integrante do Covid-19 Brasil, grupo de pesquisadores que monitora dados sobre o novo coronavírus no país.
Trata-se do equivalente a um caso a cada 13 moradores da capital fluminense. A mesma projeção aponta para mais de 5.200 mortes por covid-19 na cidade, enquanto os dados oficiais davam conta de 3.430 mortes até ontem. As estimativas foram feitas a pedido do UOL após o "sumiço" de mais de mil mortes por covid-19 das estatísticas da Prefeitura do Rio.
Alves criticou o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), por decreto que liberou cultos presenciais em templos e igrejas —a medida foi derrubada ontem pelo Tribunal de Justiça do Rio. "O prefeito quer reabrir igreja. Ele não está interessado na saúde da população", critica Domingos.
As decisões estão sendo tomadas do ponto de vista econômico, eleitoreiro e político, sem levar em consideração as evidências científicas. Os gestores estão enganando a população. O Brasil é hoje o epicentro da epidemia no mundo por causa desse tipo de postura
Domingos Alves, professor de Medicina da USP e pesquisador
Para ele, o plano de Crivella de mudar a metodologia de contagem das mortes indica "uma tentativa clara do prefeito de esconder os dados porque queria abrir o município".
O número de infectados é estimado pelo Covid-19 Brasil com base em um cálculo que leva em consideração os óbitos, o atraso na notificação, a vulnerabilidade social e a taxa de letalidade.
Essa discrepância é óbvia. Somos um dos países que menos testam para covid no mundo. Estamos olhando para as consequências da epidemia, e não as causas. Temos uma grande quantidade de pessoas assintomáticas, que deveriam ser isoladas. Mas estão mantendo o vírus em todo o território nacional. Não existe mecanismo para controlar a epidemia no Brasil
O cientista explica o abismo entre os registros oficiais, que apontam 27.311 infectados na cidade do Rio, e a projeção que supera os 500 mil casos. "Os dados oficiais se referem aos internados, que não representam perigo para a população, porque estão isolados."
Para levantar o número de mortes por covid-19 nas cidades e estados do país, os pesquisadores somam dados de cartórios e mortes por síndrome respiratória aguda grave, índice que teve alta fora do comum.
Para se ter uma ideia, foram 590 mortes por síndrome respiratória aguda grave entre 16 de março e 29 de maio na cidade do Rio —53 vezes mais do que no ano anterior (11 óbitos). O número, levado em consideração na análise de mortos feita pelos cientistas, tem sido ignorado pelas autoridades, segundo Domingos.
Na cidade do Rio, a inclusão de todos esses dados indicam 5.236 mortes, um aumento de 53% em relação às mortes registradas pelo Ministério da Saúde até ontem (29).
Se comparadas aos novos dados do portal da prefeitura —registros de mortes por covid em cemitérios—, o indício de subnotificação é ainda maior: aumento de 167% em comparação às 1.964 mortes confirmadas pela plataforma da administração municipal.
"É óbvio que esses casos estão relacionados à covid. A outra hipótese seria a existência de uma outra epidemia em cada município do Brasil ligada à síndrome respiratória aguda grave. Mas isso está sendo ignorado pelas autoridades. Falta transparência", critica o pesquisador.
Domingos diz acreditar que um afrouxamento na quarentena no país vai causar um caos ainda maior ao já enfrentado pelo sistema de saúde pública em colapso. A previsão, segundo ele, é de aumento de 160% no número de infectados em apenas uma semana. "Essa tentativa de implantar medidas de relaxamento vai causar uma catástrofe na saúde pública", prevê.
O que diz a Prefeitura do Rio
Em nota, a SMS (Secretaria Municipal de Saúde) disse que o painel Rio Covid passa por alterações desde a sua implantação, "para tornar a informação mais transparente".
"A inclusão dos dados de sepultamentos por covid-19 na plataforma também teve o objetivo de tornar mais ágil o acompanhamento das mortes pela doença —-o grupo populacional analisado é o mesmo", escreveu a pasta, em nota.
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