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Coronavírus: Últimas notícias e o que sabemos até esta sexta-feira (5)

Testes de coronavírus em frente à bandeira do Brasil - Mehmet Emin Menguarslan / Anadolu Agency
Testes de coronavírus em frente à bandeira do Brasil Imagem: Mehmet Emin Menguarslan / Anadolu Agency

Do UOL, em São Paulo

05/06/2020 12h56

Enquanto o número de mortes causadas pelo novo coronavírus cresce, o Ministério da Saúde foi na contramão e mudou a forma de divulgar os dados. Hoje, o Brasil alcançou a marca de 35.026 óbitos em decorrência da covid-19, com 1.005 confirmados nas últimas 24 horas.

Os atrasos na divulgação continuam, a exemplo do que já havia ocorrido nos últimos dias. Hoje, os números foram tornados públicos pelo governo federal pouco antes das 22h. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegou a dizer que esta seria uma maneira de "acabar com a matéria para o Jornal Nacional" e, nas palavras dele, "não atender a TV Globo".

O registro mais recente do governo federal indica uma queda nas confirmações diárias de mortes. Ontem, o país teve 1.473, alta recorde no período pelo terceiro dia consecutivo. Com a inclusão de 30.830 novos diagnósticos, o país ainda contabiliza no total 645.771 casos em todo o seu território.

O Brasil já é o país que soma mais casos novos da covid-19, em dados das duas últimas semanas. Neste período, superou os Estados Unidos no registro de novos diagnósticos, o que só o confirma como novo epicentro da crise na saúde que começou na China, se espalhou pela Europa e afetou gravemente os norte-americanos.

Levantamento mostrado pelo colunista do UOL Jamil Chade mostra que, pela primeira vez, os indicadores da agência oficial da UE mostram o Brasil à frente dos EUA em números de novos casos registrados do coronavírus nas últimas duas semanas.

Globo interrompe novela com plantão

A Globo interrompeu a novela "Fina Estampa" na noite de hoje e, com a vinheta de plantão, divulgou os números oficiais de novos casos do coronavírus no Brasil, pouco antes das 22h. O anúncio foi feito pelo jornalista William Bonner.

"Nós dissemos que vocês [telespectadores] teriam esses números assim que eles fossem anunciados. E estamos aqui cumprindo o que nós dissemos", afirmou Bonner.

Na edição de ontem, o Jornal Nacional já havia anunciado que mudaria a forma de apresentação dos números de casos e óbitos provocados pela covid-19 no Brasil. O telejornal citou os atrasos recentes do Ministério da Saúde na totalização dos dados para justificar a mudança no procedimento.

Em tom de deboche, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) citou os novos horários para a divulgação do boletim e disse: "Acabou a matéria para o JN".

"É para pegar o dado mais consolidado. E tem que divulgar os mortos no dia. Ontem, por exemplo, dois terços dos mortos eram de dias anteriores. Tem que divulgar o do dia", afirmou o mandatário, chamando a emissora de "TV Funerária."

A Globo respondeu no Jornal Nacional, dizendo que o público saberá avaliar por que o governo mudou o horário. "O público saberá julgar se o governo agia certo antes ou se age certo agora. Saberá se age por motivação técnica, como alega, ou se age por propósitos que não pode confessar mais claramente."

Trump cita Brasil como exemplo negativo

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, citou hoje o Brasil como exemplo de país com dificuldades para lidar com a pandemia do coronavírus ao defender a estratégia adotada por seu governo contra a doença.

Trump disse que o Brasil está seguindo o mesmo caminho da Suécia, país que não impôs quarentenas e decidiu se basear principalmente em medidas voluntárias de distanciamento social e higiene pessoal, mantendo a maioria das escolas, restaurantes e empresas abertas. Como resultado, a Suécia tem um número muito maior de casos de covid-19 do que seus vizinhos nórdicos.

"Se você olhar para o Brasil, eles estão passando por dificuldades. A propósito, eles estão seguindo o exemplo da Suécia. A Suécia está passando por um momento terrível. Se tivéssemos feito isso, teríamos perdido 1 milhão, 1 milhão e meio, talvez até 2 milhões ou mais de vidas", disse Trump na Casa Branca, acrescentando que agora é hora de acelerar a reabertura.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Imagem: Alex Wong/Getty Images

OMS soa alerta

Margaret Harris, porta-voz da OMS, declarou nesta manhã em Genebra que a situação no Brasil e na região é "profundamente, profundamente preocupante".

A OMS, porém, alerta que só haverá um controle da doença se governos conseguirem saber onde está o vírus. Para isso, porém, testes serão necessários. No caso brasileiro, o número de testes é considerado como baixo.

"Testem, rastreiem", insistiu. "Encontrem a todos que tem potencialmente o vírus", afirmou Harris. Segundo ela, em locais com intensa transmissão, uma opção para governos é a de realizar testes direcionados, com a população que poderia ser mais afetada e nas áreas onde o vírus poderia se mover mais rapidamente.

Números brasileiros: atraso, desencontro e a Itália

O Ministério da Saúde divulgou na noite de ontem, com o mesmo atraso de hoje, o boletim diário da pandemia do coronavírus no Brasil.

Os números atualizados já fazem do Brasil o terceiro país que mais perdeu vidas para a covid-19 nesta pandemia. O país ultrapassou a Itália e agora está atrás apenas de Reino Unido e Estados Unidos.

Há uma diferença: se a Itália está do lado de lá do pico da pandemia, o Brasil ainda vive a escalada da doença.

Há um descompasso no número divulgado pelo governo federal e os estados. Especialistas consideram que há um problema de comunicação com a população e também um entrave no combate à própria pandemia, conforme explica o infectologista Natanael Adiwardana, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas

Teríamos uma dinâmica muito melhor se o ministério atualizasse os dados mais rapidamente e de forma mais transparente. Isso pode passar uma falsa sensação do estado atual das coisas"

Atrasos nos dados causam reação

O movimento de reação aos atrasos foi além da Globo. Adriana Araújo, âncora do Jornal da Record, criticou o atraso e a falta de transparência na divulgação dos dados.

"É uma questão de saúde pública saber o que está acontecendo no Brasil agora. É muito importante para todos nós", disse Adriana em uma publicação em seu perfil no Instagram. Ela explicou que fez o post porque os números só foram divulgados após o Jornal da Record.

O Ministério da Saúde negou que o atraso na divulgação dos dados de ontem tenha sido proposital. Antes de Bolsonaro dizer que pretendia "acabar com a Globo", a pasta manteve a justificativa de que se tratava de um problema técnico.

Bolsonaro inaugura hospital e leva escorregão

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) escorregou antes de entrar no hospital de campanha de Águas Lindas de Goiás (GO). Bolsonaro esteve hoje no local para participar da cerimônia de inauguração do hospital que irá receber pacientes com coronavírus.

Bolsonaro leva tombo antes de inauguração de hospital em Goiás

O hospital, entregue pelo governador Ronaldo Caiado (DEM), já estava pronto há 40 dias. Bolsonaro chegou ao evento de helicóptero e sem máscara. O presidente apertou a mão de algumas pessoas que esperavam por ele no local.

Deputados invadem hospital em São Paulo

Um grupo de deputados e assessores entrou hoje à tarde no hospital de campanha do Anhembi, montado de forma emergencial pela prefeitura de São Paulo para atender às vítimas da covid-19. Eles alegaram estar mostrando que o local funciona sem condições básicas.

De acordo com a Prefeitura, os políticos entraram no hospital sem autorização e filmaram pacientes e profissionais também sem permissão. O secretário municipal da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, afirmou que a gestão de Bruno Covas (PSDB) vai registrar amanhã queixa-crime contra o grupo de políticos.

Estiveram no hospital os deputados estaduais Coronel Telhada (PP), Letícia Aguiar (PSL), Adriana Borgo (PROS), Marcio Nakashima (PDT) e Sargento Neri (Avante). A ação foi filmada e publicada pelos próprios parlamentares em suas redes sociais. Em nota, o grupo afirmou que tinha autorização para entrar.

"Cinco deputados e assessores invadiram nesta tarde, quinta-feira (04/06), o HMCamp do Anhembi de maneira desrespeitosa, agredindo pacientes e funcionários verbal e moralmente, colocando em risco a própria saúde porque inicialmente não estavam usando EPI e a própria vida dos cidadãos que estão internados e em tratamento na unidade", diz a Prefeitura, em nota divulgada para a imprensa.

Reabertura em SP: Escolas e ônibus

A volta às aulas em São Paulo será feita de forma híbrida e em fases. O anúncio foi feito hoje pelo secretário executivo de educação do estado, Haroldo Rocha. Mesmo sem data definida para um retorno, o governo estuda a retomada com ações combinadas com o Plano São Paulo. Em um primeiro momento, as escolas vão funcionar com apenas 20% da capacidade. A segunda etapa terá 50% dos alunos e, depois, 100%.

Além disso, os estudantes terão um ensino híbrido, com períodos presenciais e on-line. "As crianças vão ter tempo presencial na escola e oportunidade de ampliar e ter o apoio do centro de mídias para poderem avançar no conhecimento. Além do treinamento dos professores, fizemos aprimoramento tecnológico para haver mais interação. Tem uma evolução extraordinária e estamos convencidos de que teremos uma ferramenta importante", afirmou Haroldo Rocha.

O secretário de Mobilidade e Transportes da cidade de São Paulo, Edson Caram, disse que os ônibus circularão com capacidade máxima de passageiros sentados a partir de amanhã para manter o distanciamento social com a reabertura de algumas atividades comerciais.

"Isso está sendo colocando no protocolo que estamos criando hoje para publicar no portal hoje para a partir de amanhã isso começar a funcionar. Vai ser obrigação"

Segundo o secretário, ônibus estão sendo preparados para sair vazios dos terminais para atender passageiros que consigam pegar a condução anterior porque já havia atingido sua capacidade de passageiros sentados.

RJ: Não usar máscara renderá multa

Wilson Witzel (PSC), governador do Rio de Janeiro, sancionou hoje uma lei que trata da obrigatoriedade do uso de máscara em locais públicos durante o estado de calamidade pública e prevê multa de até R$ 1.065 "em caso de descumprimento reiterado".

A lei já foi publicada no Diário Oficial de hoje. A primeira autuação gerará multa de R$ 106 para pessoas físicas; em caso de reincidência, o valor sobe para R$ 213,30 (na segunda vez), R$ 426,60 (na terceira), R$ 639,90 (na quarta) e, por fim, R$ 1.065 (na quinta e demais vezes).

O secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Fernando Ferry, minimizou hoje os números da pandemia do coronavírus no estado. Mesmo com a federação sendo a segunda mais afetada do país, atrás apenas de São Paulo, e tendo ultrapassado as 6 mil mortes anteontem, Ferry disse que o impacto no estado foi "hiperdimensionado".

"O que estava acontecendo na Europa fez com que nós tivéssemos muito medo. Foi hiperdimensionado. Não só nos hospitais de campanha, mas nos regulares. Todo mundo ficou preocupado", alegou ele.

Nicolelis: Erros do Brasil são históricos

O médico e neurocientista Miguel Nicolelis disse em entrevista ao UOL que a quantidade de erros que o Brasil cometeu no combate à pandemia vai "entrar para a história" e que os números de casos e óbitos registrados, apesar da subnotificação, já demonstram que o país vive a maior tragédia de sua história.

"A quantidade de erros é um caso histórico. Vai entrar para a história, vai haver uma descrição do grande fracasso do governo federal em lidar com a maior crise sanitária. Eu ouso dizer que esse evento vai entrar como a maior guerra da história do Brasil porque é uma guerra biológica e as pessoas não se deram conta", afirmou ele.

Eu estou falando, a gente vai contar essa história daqui a 50 anos e os erros crassos vão ser tão claros que as pessoas vão ler o livro e dizer 'eu não acredito nisso aqui"

Vacina terá conclusão em setembro

O grupo farmacêutico britânico AstraZeneca afirmou que espera para setembro os resultados sobre a eficácia da vacina contra o coronavírus em que está trabalhando com a Universidade de Oxford.

"Em setembro devemos saber se temos ou não uma vacina eficaz", disse à BBC o diretor executivo da empresa, Pascal Soriot.

Os ensaios clínicos com humanos começaram no final de abril no Reino Unido e devem ser realizados este mês no Brasil, que é agora "o epicentro da epidemia", afirmou Soriot. Para ganhar tempo, foi decidido não esperar pelos resultados antes de começar a produção.

Estudo: Hidroxicloroquina não previne covid

O uso da hidroxicloroquina para prevenção da covid-19 tem sido defendido por membros do governo como Carlos Wizard, novo secretário do Ministério da Saúde. Apesar da aposta na droga, que é usada para tratamento de doenças como lúpus e artrite reumatoide, de forma preventiva, ela parece não funcionar bem.

A conclusão é de um estudo recente publicado na última quarta-feira (3), no periódico científico New England Journal of Medicine. Para o estudo, os pesquisadores designaram aleatoriamente mais de 800 pessoas nos Estados Unidos e no Canadá para tomar hidroxicloroquina ou um remédio placebo por cinco dias.

Todos os participantes foram expostos a pessoas com covid-19.Cerca de 12% daqueles que tomaram hidroxicloroquina desenvolveram covid-19 contra 14% daqueles que tomaram o placebo, mostraram os resultados. Com isso, a análise aponta que a hidroxicloroquina não é significativamente mais efetiva para prevenir o covid-19 do que, por exemplo, uma pílula de açúcar.

Drama indígena: Raoni ataca Bolsonaro

O novo coronavírus, que atinge mortalmente o Brasil, não poupa os indígenas da Amazônia em uma pandemia na qual seu porta-voz emblemático, o cacique Raoni, acusa Bolsonaro de querer "se aproveitar" para eliminar seu povo.

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Imagem: Nicolas Tucat/AFP

"O presidente Bolsonaro quer aproveitar e está falando que o índio tem que morrer, que os índios têm que acabar", acusa Raoni Metuktire, cacique do povo Kayapó, em entrevista à AFP feita por vídeo de sua aldeia na Amazônia.

"Eu me preocupo muito com meu povo agora. Falo muito com meu povo para permanecer aqui dentro da aldeia e não estou deixando ninguém ir para as cidades"

Segundo a Associação de Povos Indígenas do Brasil (APIB), ao menos 211 indígenas morreram de coronavírus de um total de 2.178 contágios.