Hidroxicloroquina deve ser retirada 'com urgência' do tratamento, diz SBI
A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) alertou hoje que o país deve retirar "imediatamente e com urgência" a hidroxicloroquina de todas as fases do tratamento do novo coronavírus. A cobrança foi escrita com base em estudos recentes sobre a ineficácia da droga contra a covid-19.
A entidade demanda que o Ministério da Saúde, os estados e municípios reavaliem suas orientações de tratamento, "não gastando dinheiro público em tratamentos que são comprovadamente ineficazes e que podem causar efeitos colaterais", afirma a SBI em nota.
Além disso, a Sociedade Brasileira de Infectologia cobra que estes recursos financeiros, tecnológicos e humanos sejam empregados em tratamentos que são comprovadamente eficazes e seguros para pacientes com coronavírus, como os listados abaixo:
- Anestésicos para intubação orotraqueal de pacientes que precisam ser submetidos à ventilação mecânica;
- Bloqueadores neuromusculares para pacientes que estão em ventilação mecânica;
- Aparelhos que permitem diagnóstico precoce da covid grave, como oxímetros para diagnóstico de hipóxia silenciosa;
- Testes diagnósticos de RT-PCR da nasofaringe para pacientes sintomáticos;
- Leitos de Unidade de Terapia Intensiva;
- Recursos humanos (profissionais de saúde) e respiradores.
Um estudo publicado pela revista médica da ACP Journals (American College of Physicians), por exemplo, avaliou pacientes com coronavírus em 40 estados americanos e três províncias do Canadá; o grupo que fez uso da hidroxicloroquina não teve qualquer benefício clínico a mais do que os que receberam placebo (preparação neutra sem efeitos farmacológicos).
Outra pesquisa feita na Espanha e publicada pela revista acadêmica de Oxford, no Reino Unido, mostrou que não houve benefício virológico (redução da carga viral na nasofaringe) ou clínico (redução da duração dos sintomas e da hospitalização) em pacientes que tiveram administração de hidroxicloroquina.
"Com essas evidências científicas, a SBI acompanha a orientação que está sendo dada por todas as sociedades médicas científicas dos países desenvolvidos e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de que a hidroxicloroquina deve ser abandonada em qualquer fase do tratamento da covid-19", diz a SBI, que trata a cobrança como "urgente e necessária".
O documento foi assinado por Clóvis Arns da Cunha, médico infectologista e presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, e elaborado em conjunto com outros especialistas: os infectologistas Alberto Chebabo, Sergio Cimerman, Christiane Reis Kobal, Lessandra Michelin, Antonio Carlos de Albuquerque Bandeira, Priscila Rosalba Domingos de Oliveira, Marcos Antonio Cyrillo, Estevão Urbano Silva e Leonardo Weissmann.
Embora Jair Bolsonaro (sem partido), presidente da República, diga que tem tomado hidroxicloroquina e o vermífugo Annita para tratamento da covid-19, vale ressaltar que nenhuma das duas substâncias tem eficácia comprovada para o combate ao coronavírus. A cloroquina é um medicamento para malária.
Ministério da Saúde volta a defender cloroquina
O Ministério da Saúde voltou a defender hoje, em coletiva de imprensa, o uso da cloroquina para o tratamento contra o coronavírus. O governo afirmou que a "polarização" atrapalha o tema e ainda pediu que é necessário que as pessoas aprendam a "ler ciência".
Segundo o secretário Hélio Angotti Neto, a maioria dos artigos científicos que reprovam o uso do medicamento é baseada em estudos com pacientes na fase tardia, quando o vírus praticamente não está mais ali, o que está uma reação inflamatória muito grave.
"Há evidências contrárias a essa e outras drogas, mas como disse, são pacientes que podem estar na fase leve, inicial, intermediária ou tardia. Como foi dito inúmeras vezes, e, infelizmente, as pessoas parecem não ter com muito zelo os artigos publicados", acrescentou.
O governo indicou que não há problema em mudar a orientação sobre o uso do medicamento, mas que é preciso "ir aos fatos" e olhar evidências no que estão trazendo na ciência e entender que a doença tem várias fases e cada pesquisa aborda uma fase diferente.
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