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Covid-19 em SP: "Classes A e B se contaminam em festas", diz Gabbardo

João Gabbardo dos Reis, coordenador do Centro de Contingência do combate ao coronavírus em São Paulo - ROGÉRIO GALASSE/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
João Gabbardo dos Reis, coordenador do Centro de Contingência do combate ao coronavírus em São Paulo Imagem: ROGÉRIO GALASSE/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

17/11/2020 17h36Atualizada em 17/11/2020 18h25

O coordenador executivo do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo, João Gabbardo dos Reis, atribuiu hoje o aumento no número de internações em decorrência da covid-19 no estado a movimentos das classes A e B.

"Hoje pela manhã, nós tivemos uma reunião com médicos do Centro do Contingência que estão na linha de frente nesses hospitais e percebemos que pessoas com uma condição socioeconômica melhor, das classe A e Classe B, que ficaram em casa, trabalhando em casa, permaneceram mais isoladas, estão saindo, inadvertidamente", disse ele, durante entrevista à CNN Brasil.

Segundo Gabbardo, o aumento de 18% no número de internações, já divulgado pelo governador João Doria (PSDB) teria ocorrido principalmente por conta de pessoas que estiveram em confraternizações.

"[São pessoas que se] contaminaram em confraternizações, reuniões, festa de casamento. É exatamente nesses locais onde as pessoas bebem, estão sem máscara, conversam e ficam muito tempo em contato.", prosseguiu.

A frase vai na mesma linha do que já havia informado ao UOL o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, de que a maior parte dos infectados é de adultos das classes A e B, que voltaram para as ruas depois da flexibilização da quarentena.

Em sua fala, Gabbardo apontou uma tendência de comportamento que explicaria parte de como a pandemia se espalhou pelo país.

A primeira vez da epidemia [no Brasil, em março] começou com pessoas que estavam voltando de outros países, via aeroportos. Agora, o que estamos percebendo é que essas pessoas estão saindo para confraternizações. É tudo o que o vírus precisa para atacar a nossa população."
João Gabbardo, coordenador executivo do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo

Ex-Ministério da Saúde

Ex-número dois do então ministro Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde, Gabbardo afirmou que autoridades que fizeram pouco caso da covid-19 devem um pedido de desculpas ao brasileiro.

Mandetta foi exonerado do cargo em abril após discordâncias públicas com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Essas pessoas, autoridades, que por muito tempo minimizaram a covid-19, que isso não era nada, que todo mundo tinha que ir para a rua, deve um pedido de desculpas à população. Ainda dá tempo."
João Gabbardo

São Paulo prorroga quarentena

O governo de São Paulo publicou hoje no Diário Oficial o decreto nº 65.295 que prorroga a quarentena em todo o estado até o dia 16 de dezembro. A medida já havia sido anunciada ontem pelo governador João Doria (PSDB) após a confirmação do aumento no número de internações por causa da covid-19.

O texto de hoje estabelece a possibilidade de suspensão de atividades não essenciais nos termos do decreto nº 64.879, publicado em março deste ano.

Com o novo cenário, o Plano São Paulo, que regulamenta os estágios da quarentena em todo o estado, não será atualizado nesta semana. Doria prometeu uma nova atualização para o dia 30 de novembro.

Afirmando que esperava correções no sistema do Ministério da Saúde, Doria disse que o dado do aumento de internações precisa ser analisado em conjunto com estatísticas de novos diagnósticos e mortes.

A administração estadual acredita na possibilidade de defasagem nos números de casos e mortes na semana que precedeu o primeiro turno das eleições, o que poderia implicar que o aumento nas internações pode ter sido maior por ser em comparação com uma semana anterior "boa", com relativamente poucas internações.

Aumento de internações em hospitais particulares

Apesar de citar nominalmente as classes A e B, Gabbardo disse que o aumento de internações tem ocorrido tanto em hospitais particulares quanto em hospitais públicos.

"Na mesma proporção em que está ocorrendo em hospitais privados, está acontecendo na rede municipal e estadual. Não há muita variação. A gente estava trabalhando com uma redução de 50, 60% no número de paciente. Nesse período, agora, nós tivemos aumento de 18% (em alguns locais de 19%) no número de internações. É lógico que isso preocupa", ressaltou.

Nesta semana, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, fez um alerta para o aumento de internações por covid-19 verificado nos últimos dias, além do crescimento no número de testes realizados e nos diagnósticos positivos para a doença.

Os novos números alertam para a necessidade da manutenção das medidas de prevenção: usar máscaras em qualquer ambiente, fechado ou ao ar livre, respeitar o distanciamento social sempre, não participar de aglomerações e realizar a higienização das mãos com frequência."
Trecho da nota do Hospital Israelita Albert Einstein

Na quinta-feira (12), o governo paulista havia negado o crescimento nas internações. Mas, ao UOL, Gorinchteyn admitiu ontem que houve aumento nos atendimentos na rede particular.

"Há um aumento do número de casos de internações em alguns hospitais, como o Sírio Libanês. Mas pelo menos 45% dos pacientes vêm de fora do estado de São Paulo, pois os hospitais aqui são centro de referência", afirma.