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Estadual, Butantan cogita exportar vacinas antes de acabar imunização em SP

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, recebem doses da CoronaVac no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo - Governo de São Paulo/Divulgação
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, recebem doses da CoronaVac no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo Imagem: Governo de São Paulo/Divulgação

Lucas Borges Teixeira*

Do UOL, em São Paulo

27/01/2021 16h23Atualizada em 27/01/2021 20h58

O Instituto Butantan, ligado à USP (Universidade de São Paulo) e financiado pelo Governo de São Paulo, poderá vender doses a outros países da América do Sul mesmo que a vacinação dos grupos prioritários não tenha sido concluída no Brasil ou no estado.

De acordo com o diretor do instituto, Dimas Covas, tudo dependerá se o Ministério da Saúde comprar ou não as 54 milhões de doses da CoronaVac, acordadas previamente. Se não, as remessas podem ser destinadas à Argentina.

Antes da incorporação da CoronaVac ao PNI (Plano Nacional de Imunização), o governador João Doria (PSDB-SP) chegou a anunciar a possibilidade de disponibilizar 4 milhões de doses do imunizante para outros estados brasileiros. Governadores e prefeitos demonstraram interesse na compra, além dos países da América Latina, segundo o tucano.

Em janeiro, o contrato de compra das 46 milhões de da CoronaVac pelo Ministério da Saúde brasileiro incluía a possibilidade de mais 54 milhões de doses a serem entregas posteriormente, ainda neste ano. O contrato deste segundo lote, diz o Butantan, ainda não foi firmado.

"Ofereci [as vacinas] ao ministério na semana passada, aguardo resposta até o final dessa semana, porque semana que vem vou fechar contrato com países, iniciando pela Argentina. Essa manifestação é importante para que não possa alegar que não houve essa oferta. Essa oferta está sendo feita via contrato", afirmou Covas, em coletiva no Palácio dos Bandeirantes nesta quarta-feira (27).

A jornalistas, ele referendou que, se o governo federal não realizar a compra, acordos podem ser assinados com outros países já na semana que vem, sem citar datas de envio nem confirmar a quantidade de doses, que poderão ser distribuídas mesmo que a vacinação do grupo prioritário no estado não tenha sido concluída.

O tom de Dimas Covas marca uma mudança de posição do instituto. Em outubro, após o vaivém do Ministério da Saúde sobre a CoronaVac, Dimas falou à imprensa que a vacina estaria disponível e poderia até ser doada ao PNI, como já foi feito no passado.

Tudo depende de financiamento, explicou o diretor à época. Ao UOL, o Butantan afirmou que "tem capacidade para produzir outras 40 milhões de doses extras para atender a demanda de outros países da América Latina".

Na coletiva, Doria, que vive uma longa disputa com a gestão de Jair Bolsonaro (sem partido) em relação às vacinas, reafirmou a posição de Covas.

"Precisamos de mais vacinas. O Butantan disponibiliza mais 54 milhões de doses da vacina do Butantan para o ministério. O ministério fará ou não opção de compra dessas vacinas para vacinar os brasileiros", afirmou o governador, que fala com orgulho sobre a produção paulista do imunizante.

Decisão está dentro do prazo do contrato, diz Ministério

Ao UOL, o Ministério da Saúde diz estar dentro do prazo de decisão para aquisição ou não das 54 milhões de doses. Segundo uma das cláusulas, o órgão precisa "apresentar seu interesse no prazo de até 30 dias após a entrega da última parcela", prevista para o final de abril.

"Sobre o ofício, o Ministério da Saúde informa que irá se pronunciar no prazo oficial do contrato", declarou a Pasta. De acordo com o documento, as quatro parcelas de entrega da CoronaVac ao órgão findam, respectivamente, nos últimos dias de janeiro, fevereiro, março e abril.

Em resposta, o Butantan afirmou ter enviado um ofício ao Ministério da Saúde "para que possa planejar logisticamente a sua produção com a devida antecedência" e disse esperar que o órgão "se manifeste o quanto antes".

"Durante a urgência de uma pandemia, não é possível se limitar à frieza da burocracia enquanto as ações de combate ao coronavírus podem ser mais ágeis", declarou o instituto, que disse ter como prioridade atender à demanda brasileira, ao UOL.

Guerra das vacinas

A estratégia do governo paulista pode marcar uma tentativa de agilizar as decisões do Ministério da Saúde, que não tem mostrado celeridade na organização da imunização nacional. Desde outubro, o estado e o governo têm travado uma batalha sobre o assunto. Bolsonaro chegou a desautorizar o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, um dia depois de ele ter anunciado intenção de comprar doses da CoronaVac.

Procurado, o governo do estado não explicou, no entanto, se pretende tomar alguma atitude, caso o governo federal não efetue a compra, para que as doses não sejam remetidas a outros países antes que os grupos prioritários daqui sejam contemplados.

*Colaboraram Rafael Bragança e Allan Brito