'Isso vai se alastrar pelo país', diz governo do AM sobre falta de oxigênio
O estado do Amazonas segue sob risco de desabastecimento de oxigênio e alertou o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) de que a crise pode se espalhar pelo restante do País. Essas informações foram apresentadas hoje, durante coletiva de imprensa em Manaus, pelo secretário de Saúde do Estado, Marcellus Campêlo, e pelo governador Wilson Lima (PSC).
Ambos reforçaram que a crise deve ser encarada e administrada no âmbito nacional e que o Amazonas precisa do apoio do governo federal e de todas as alternativas logísticas para envio de oxigênio ao estado.
O secretário Campêlo afirmou que a ameaça do desabastecimento entra numa nova fase, em função da crescente demanda no interior do estado e da não diminuição da necessidade em Manaus.
Vai ter que ter uma força nacional, uma estratégia nacional, porque eu alerto, e alertei hoje na reunião do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o Conas: aqui é só o começo. Isso vai se alastrar para o Brasil, e a crise de oxigênio tem que ser uma estratégia nacional."
Marcellus Campêlo, secretário de Saúde do Amazonas
O estado do Amazonas chegou ao 13º dia de crise de desabastecimento de oxigênio. Funcionários de unidades hospitalares e familiares de pacientes seguem apresentando denúncias de falta do insumo para pacientes.
Demanda crescente por oxigênio
A necessidade diária de oxigênio no Amazonas explodiu em função da subida acelerada de casos de covid-19, desde as festas de final de ano. Wilson Lima cogita que a nova variante identificada em pacientes de Manaus possa ser a responsável pelo novo colapso do sistema de saúde do estado.
Segundo informação divulgada pelo Governo do Amazonas e Ministério da Saúde, a rede hospitalar pública e privada precisa hoje de cerca de 80 metros cúbicos. A capacidade de produção da White Martins, Carbox e Nitron, que fornecem o insumo para o estado, é quase três vezes menor: 33 mil metros cúbicos.
"Há um crescimento de oxigênio variável, de 2% ao dia. Portanto, precisamos do apoio do Governo Federal e continuar com estratégias de manter o que está tendo e buscar todas as formas alternativas", declarou o secretário.
Campêlo disse que o interior demanda atualmente cerca de 1.200 cilindros de oxigênio de 10 mil metros cúbicos por dia e estima que a demanda vai dobrar nos próximos dias. "Há aumento de casos em várias macrorregiões. O pico está vertical. [Levar os cilindros para o interior] é uma logística quase insana. Levamos de madrugada, de noite, de voo, de lancha", disse.
O governador Wilson Lima destacou que todas as cargas extras que chegaram ao estado por doações, pela Venezuela e pelo Governo Federal foram distribuídas às unidades de saúde que estão abastecidas, mas também destacou que Manaus não desfruta de uma condição de estabilidade.
"Manaus ainda não tem condições de produzir oxigênio na quantidade que precisamos. A principal empresa ainda não tem condições de nos fazer este abastecimento. Por isso, continuamos dependendo de cargas extras que estão vindo da Venezuela, do Nordeste, de empresas que fizeram doações, de compras que foram feitas pelo Governo Federal, de carretas que inclusive vieram pela BR-319", disse.
Os dois destacaram a aquisição de mini-usinas que serão enviadas ao interior e instaladas em unidades hospitalares em Manaus. Duas delas entraram em funcionamento, segundo o governador, no hospital de campanha inaugurado hoje na área externa do Hospital Delphina Aziz, com 57 leitos clínicos para pacientes que já passaram da fase mais grave da doença, cedendo assim vagas para outros doentes. O problema é que hoje o Amazonas tem uma lista de espera por leitos com mais de 500 pessoas, mesmo com uma semana de transferências de pacientes para outros estados.
Ajuda internacional para o Amazonas
Wilson Lima foi questionado por jornalistas a respeito de informações publicadas hoje pelo colunista do UOL Rubens Valente, de que diplomatas culpam o governo do Amazonas pela demora em aceitar uma aeronave da embaixada dos Estados Unidos para apoiar no transporte de oxigênio ao estado. Os diplomatas acusam o governo estadual de não dar celeridade ao enviar informações básicas para que a ajuda seja colocada em execução.
O governador declarou que o estado tem limitações, quando se trata de ajuda internacional, porque a relação requer ação do ente federal. "São os países que fazem esta relação. Aí a gente encaminha, como tem encaminhado, esta demanda para o governo federal, e ele decide em que momento é interessante a gente ter ajuda dessas aeronaves e como isso deve se dar", declarou o governador.
Lima disse ainda que todas as decisões referentes à pandemia têm sido tomadas em conjunto com os representares do governo federal. Na véspera do colapso de oxigênio no estado, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, passou três dias em Manaus — ele retornou à capital amazonense no último sábado, e deve permanecer lá até sexta-feira (29).
"Todas as decisões a gente tem tomado em conjunto com o comitê montado com representantes do governo federal, do governo estadual, da FAB, do Exército e da Prefeitura de Manaus. Enfim, todos os envolvidos neste processo têm conhecimento do que a gente está fazendo. E temos também uma relação de diálogo constante e contínuo com os órgãos de controle", declarou.
O UOL revelou na segunda-feira (25) que o Ministério da Saúde e o governo do Amazonas receberam nos dias 16 e 18 de janeiro as ofertas de três aeronaves, duas da ONU (Organização das Nações Unidas) e uma do governo dos Estados Unidos (EUA), para transportar de forma mais rápida oxigênio até o Amazonas. O Ministério da Saúde informou que a oferta segue sob análise, e o Ministério das Relações Exteriores não se posicionou sobre a solicitação de informação.
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