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Rubens Valente

Diplomatas atribuem ao governo do AM dificuldade para receber avião dos EUA

Colunista do UOL

27/01/2021 11h17Atualizada em 27/01/2021 18h53

Diplomatas do Itamaraty em Brasília têm atribuído, em conversas reservadas, ao governo do Amazonas as dificuldades para obter um avião emprestado dos Estados Unidos (EUA) a fim de ajudar no transporte de oxigênio medicinal para o estado durante a crise do coronavírus.

No Itamaraty, os diplomatas dizem que o governo estadual pediu apoio aéreo para transporte do produto no dia 14 de janeiro, o pior momento da crise, quando pacientes morreram em hospitais por falta de oxigênio. No mesmo dia, conforme a coluna revelou no último sábado (23), o chanceler Ernesto Araújo conversou por telefone com o então secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, braço direito do então presidente Donald Trump — ambos deixaram o governo americano seis dias depois.

De acordo com fontes diplomáticas, na conversa Pompeo se colocou à disposição para colaborar. O Brasil ficou de encaminhar os detalhes sobre a ajuda, como o local em que o avião pousaria, a especificação exata da carga que carregaria e para onde levaria. Sem esses dados básicos, a colaboração teria dificuldade para ser organizada. A primeira resposta foi considerada genérica demais: o governo do Amazonas pediu que a carga fosse trazida de Fortaleza, sem maiores detalhes.

Segundo os diplomatas, a partir daí Brasília pediu diversas vezes a representantes do governo estadual, incluindo a Defesa Civil estadual e o gabinete do governador Wilson Lima (PSC), que apresentassem resposta ao questionário. As respostas, porém, não vieram ao longo de vários dias. Nesse meio tempo, Venezuela e China fizeram doações de oxigênio ao Amazonas.

De acordo com uma fonte diplomática, o governo estadual chegou a ser instado pelo governo federal a se explicar diretamente à embaixada dos EUA, já que o Itamaraty dizia estar fazendo tudo ao seu alcance e queria demonstrar aos norte-americanos que o problema não estava em Brasília.

A coluna apurou que, de fato, no dia 18 de janeiro o governador Wilson Lima dirigiu uma carta oficial por email ao embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, para dizer que havia subsidiado com informações o deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM) a fim de que ele esclarecesse publicamente que a embaixada estava colaborando com o Brasil. O UOL noticiou o anúncio de Ramos nas redes sociais, bem como uma oferta de dois aviões feita pelo Unicef, que também aguarda definição do governo federal.

"Em nome do povo do Amazonas, gostaria de agradecer os esforços realizados até aqui pela Embaixada, em relação às negociações ora em andamento, no sentido de estabelecer uma cooperação entre EUA, o Brasil e o Estado do Amazonas, no sentido de providenciar e operacionalizar ações para ajudar os cidadãos amazonenses frente à séria crise sanitária, resultante da pandemia do novo coronavírus em nosso território, eu lhe comunico [...] que já repassamos ao parlamentar a informação atualizada sobre as negociações em andamento. Nesse sentido, o parlamentar fez o reconhecimento público e o agradecimento à Embaixada e ao governo norte-americano", diz a carta do governador.

No mesmo dia da carta, 18 de janeiro, o deputado postou em rede social que a embaixada americana "já havia disponibilizado a aeronave para o transporte de oxigênio" e que estava "faltando apenas o Ministério da Saúde confirmar a necessidade da aeronave".

De acordo com uma fonte diplomática, os norte-americanos "não mandaram avião ou coisa alguma porque não se conseguiu arrancar do Amazonas os dados básicos necessários para a missão". "Não basta dizer, 'me mandem um avião', eram necessários os detalhes que não foram enviados aos EUA. Os americanos estavam dispostos a ajudar."

Procurada pela coluna na tarde desta terça-feira (26), a assessoria do governo do Amazonas afirmou, em nota: "As tratativas de apoio entre duas nações devem ser acertadas pelos órgãos vinculados ao governo central dos dois países. O Governo do Amazonas se colocou à disposição para fornecer todas as informações técnicas das necessidades locais, porém não houve demanda oficial do Governo Federal a respeito de tais necessidades".