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Amigo de Osmar Terra, Gabbardo virou braço direito de Doria na pandemia

05.02.2021 - O coordenador-executivo do Centro de Contingência ao Coronavírus, João Gabbardo dos Reis, durante entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
05.02.2021 - O coordenador-executivo do Centro de Contingência ao Coronavírus, João Gabbardo dos Reis, durante entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo
Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Leonardo Martins

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/02/2021 04h00

Coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus, o médico pediatra João Gabbardo dos Reis participa de todas as coletivas ao lado do governador João Doria (PSDB), é considerado "muito influente" no Palácio dos Bandeirantes e uma peça importante nas definições das ações de combate à pandemia.

A visibilidade já trouxe propostas para que ele se aventurasse em uma carreira política em São Paulo ou no Rio Grande do Sul, sua terra natal.

Para essas pessoas sempre disse que nunca fui, não sou e não serei candidato a nada. Não cogito a possibilidade, nunca serei.
João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus

Apesar de negar os convites dos partidos, Gabbardo tem uma longa trajetória em órgãos públicos. Na pandemia, seu nome começou a aparecer no noticiário porque ele era o braço direito do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) —e fazia parte do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), atual rival político de Doria.

Eu votei no Bolsonaro, fiz campanha, tinha até camiseta. Acreditava piamente que, com a saída do PT e da [ex-presidente] Dilma [Rousseff, do PT], teríamos apoio à Operação Lava Jato e tudo aquilo que a gente viu que ele não fez.
João Gabbardo, coornador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus

Desgaste no ministério

Gabbardo entrou no governo Bolsonaro por indicação de um de seus melhores amigos, Osmar Terra (MDB-RS), deputado estadual e ex-ministro da Cidadania. Em novembro de 2018, Mandetta havia pedido ajuda para encontrar um "nome técnico" para a pasta e Terra indicou Gabbardo.

O pediatra demorou três dias para o "sim". Vivia bem no Rio Grande do Sul, com a esposa, a churrasqueira e um bom salário como presidente do IPE Saúde (Instituto de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos). Mas a ideia de ir à Brasília para ser o "ministro-substituto", com "carta branca" para escolher os melhores nomes para a pasta, o agradou.

O "ministério independente", reclama, não durou muito tempo. A chegada da pandemia criou um racha entre Jair Bolsonaro e o então ministro da Saúde. Mandetta e Gabbardo saíram pouco mais de um ano depois de assumirem seus cargos.

Ele diz que o desgaste se deu, principalmente, por causa da comunicação da pasta e de João Doria.

"O primeiro ponto foi a forma como nos comunicamos. Todo mundo elogiava o ministério, as coletivas. Até que o presidente passou a não gostar mais da visibilidade que o próprio ministro [Mandetta] estava tendo. O segundo fato é que o Doria estava ganhando espaço na mídia. Não era mais Mandetta, não era mais ministério, era o Doria."

Equipe antiga do Ministério da Saúde: Wanderson de Oliveira, Luiz Henrique Mandetta e João Gabbardo - José Dias/PR - José Dias/PR
Equipe antiga do Ministério da Saúde: Wanderson de Oliveira, Luiz Henrique Mandetta e João Gabbardo
Imagem: José Dias/PR

Carreira na gestão pública

Gabbardo e Terra atuaram juntos, em 1986, como superintendentes do Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social), em Porto Alegre.

Por indicação do colega, Gabbardo foi pela primeira vez trabalhar em Brasília, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) em secretarias do Ministério da Saúde. Ficou por lá nos dois mandatos de FHC.

Gabbardo e Terra - Divulgação/ABP - Divulgação/ABP
31.01.2019 - João Gabbardo e Osmar Terra em reunião na Associação Brasileira de Psiquiatria
Imagem: Divulgação/ABP

Depois, Gabbardo rodou pela direção de entidades públicas de saúde no Rio Grande do Sul até 2018, quando foi chamado pro Terra para assumir a vaga no Ministério da Saúde.

Apesar de terem opiniões absolutamente contrárias sobre a pandemia, Gabbardo diz que os dois conversam até hoje. "Continuo falando com Osmar toda semana. Só que a gente não fala mais sobre pandemia porque ele sabe que não vai me convencer, assim como sei que não vou convencê-lo. Ele fazia projeções, a gente rebatia, fazíamos apostas até valendo churrasco. Ele perdeu todas."

Rumo ao Bandeirantes

Pouco tempo depois de sair do ministério. Mandetta e Gabbardo pegaram a ponte aérea São Paulo-Brasília para almoçar com João Doria em sua casa, na zona oeste da capital paulista.

Doria convidou Mandetta para integrar o governo, sem oferecer um cargo específico. Ele gostou da ideia, mas recusou por medo de "acirrar os ânimos". "Então, o governador disse: 'mas eu gostaria que o Gabbardo viesse'. Eu não tinha o mesmo problema do Mandetta e topei", conta o pediatra.

Gabbardo mudou para São Paulo com a família e só voltou a Porto Alegre duas vezes, para ver a mãe.

Entre as reuniões diárias, aproveita o tempo livre para correr ou se informar. "Corro todos os dias, faço musculação. Outra coisa que tenho feito é ver notícias e entrevistas. Procuro ler tudo o que sai sobre pandemia", afirma.

Agora, está ansioso para tomar a vacina contra covid-19. "Tenho 65 anos, estou esperando minha vez. Não vejo a hora".