Um ano depois de ter contraído covid, paciente relata dor e falta de olfato
No dia 2 de março de 2020, a bancária alagoana Ana Patricia Bezerra Moura, 44, chegava a São Paulo com febre e dor de garganta. Ela vinha de um passeio pela Europa. Durante a viagem, ela e o marido passaram pela Itália —que vivia um surto de covid-19—, e acabaram infectados pelo novo coronavírus.
No Brasil, não havia nenhum registro de morte pela doença àquela altura. Ela foi uma das primeiras pacientes de covid-19 internadas em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) na capital paulista, onde passou quatro dias e relatou ter a sensação de que iria morrer.
Passado um ano, ela conta que ainda sente os efeitos da covid.
Meu olfato nunca voltou completamente, e o paladar, mais ou menos. Tive dores articulares, que sugeriram fibromialgia, e meu quadro respiratório piorou muito. A rinite e a dermatite atópica pioraram também.
Ana Patricia Bezerra Moura, bancária e um dos primeiros casos de covid no Brasil
Moura afirma que, inicialmente, não associava os sintomas a sequelas da doença. "Mas depois os médicos começaram a associar. Muitos pacientes apresentam sintomas parecidos", diz.
Muita coisa mudou na vida da bancária. As dores musculares são o que mais a incomoda. "Do nada, me sinto com dores no corpo, com dor de cabeça, sintomas gripais. Algumas vezes dura um dia apenas, outras vezes dura dias", relata.
Na tentativa de resolver o problema, ela já usou medicamentos para dor, terapias aromáticas e massagens. Nada resolveu, trazendo apenas algum relativo alívio. "Se eu estiver com dor muito aguda, tomo remédio para fibromialgia."
Ela conta que seu olfato se tornou "instável". "Normalmente sinto um cheiro bem distante, como se estivesse com o nariz muito congestionado. Aí do nada sinto o cheiro bem forte, logo em seguida não sinto mais nada", afirma.
Comprei um xampu que nunca tinha usado. Estava aplicando fazia umas duas semanas, aí um dia estava tomando banho e senti o cheiro dele de verdade, o quanto era cheiroso. Mas durou só um momento.
Ana Patricia Bezerra Moura, bancária e um dos primeiros casos de covid no Brasil
Médica diz que quadro é reversível
A bancária tem seu quadro acompanhado em Maceió pela infectologista Sarah Dominique. A médica explica que os sintomas dela são "reversíveis, ainda que na totalidade não tenha se revertido".
"Por serem sintomas de células nervosas, há variação individual de retorno à plenitude, mas os relatos são de recuperação", diz. "O que ela apresenta agora é tecnicamente uma disfunção, não uma perda mantida [dos sentidos]", diz.
Segundo Sarah Dominique, apresentar sintomas por tanto tempo após a infecção pelo novo coronavírus é raro.
"Só conheço o caso dela que relata recuperação parcial. A maioria retorna [ao normal] dentro de 90 dias. Mas a recuperação é individual, não se deve comparar", afirma.
Aprendizado e medo
Moura resolveu olhar seu caso pelo "que foi bom, focar no aprendizado". Agradece por ter sobrevivido.
"Quando faço uma retrospectiva ou quando tem algum gatilho que remete àqueles dias no hospital, consigo perceber o quanto foi grave e que hoje poderia não estar aqui", diz.
Eu me emociono nesses momentos e já agradeço por ter tido acesso ao melhor atendimento, pela minha família, pelos amigos. Tudo isso só reforçou a minha fé.
Ana Patricia Bezerra Moura, bancária e um dos primeiros casos de covid no Brasil
A bancária diz ter um "medo distante" de ser reinfectada. "Digo 'distante' porque acredito que tive covid-19 de forma severa, possivelmente adquiri imunidade. Uma mutação do vírus —teoricamente— não seria tão forte", afirma.
Apesar da confiança dela, estudos mostram que a imunidade para covid-19 é temporária. Dura, em regra, bem menos de um ano. Além disso, casos de nova doença podem apresentar sintomas tão ou mais graves do que a primeira infecção.
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