Com recorde de internações, covid lota unidades de saúde dia e noite em SP
Fila do lado de fora, lotação lá dentro. Esta cena tem se tornado cada vez mais comum em unidades de saúde de diferentes tipos em São Paulo na última semana. Com explosão de casos de covid-19, os funcionários narram alta procura até na madrugada.
Em uma semana, a ocupação das UTIs (unidades de terapia intensiva) na capital paulista subiu de 70% no dia 1º para 82% na última segunda (8); e a ocupação de enfermarias de 65% para 67%, mesmo com o aumento geral de 257 leitos, de 1.973 para 2.230.
O crescimento é visto em todo o estado e no Brasil. Nesta terça (9), o estado de São Paulo registrou 517 mortes por causa da covid-19 em 24 horas, um recorde, e ultrapassou 62 mil óbitos pela doença. Atualmente, também registra a maior taxa de internação em UTI desde o começo da pandemia: 82%, quase 8.300 leitos ocupados.
Ontem à tarde, a reportagem foi até a UBS Ilza Hutzler, na Vila Roque, zona norte da capital. Um funcionário da triagem disse que a unidade estava "completamente lotada", e que as fichas para registro de pacientes acabaram. Segundo ele, a procura "explodiu" na última semana.
O local, voltado à baixa complexidade, não oferece testes, mas tem sido a porta de entrada para muitos moradores da região que sentem sintomas da covid, como febre, cansaço e tosse seca. De lá, os médicos encaminham os pacientes com suspeita a unidades que atendem casos mais complexos, como UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e hospitais.
Internamente, médicos e enfermeiros corriam de um lado para o outro. Do lado de fora, pessoas de diferentes idades aguardavam serem chamados para o atendimento.
Não muito longe dali, a AMA (Assistência Médica Ambulatorial) Jardim Peri, também na zona norte, funcionava de forma semelhante, mas com lotação maior. No andar de cima, consultas de maior complexidade continuavam a ocorrer enquanto a triagem do covid ocupava toda a parte debaixo.
Com lotação interna, os casos suspeitos aguardavam na parte de fora, para então serem examinados. No lado de dentro, eles recebem o encaminhamento do médico —se devem fazer o teste ou se precisam ou não ir a um centro hospitalar para acompanhamento.
"Cheguei tem duas horas. Peguei essa fila de fora. A doutora me examinou, mas disse que meus sintomas não são de covid, mas meu marido, sim. Ele está lá dentro. Não sei se já fez o teste ou não, estava com muita falta de ar", conta a motorista autônoma Janice Souza, 41, que diz fazer a quarentena "quando dá".
"Como eu trabalho com aplicativo, não paro, né? Ele trabalha em uma distribuidora, também não parou. Temos ficado em casa mais à noite mesmo", relatou a motorista, que confessou ter ido à praia há dois finais de semana. "O problema é o dia a dia. Se eu me mato de trabalhar, não posso descansar? Não está certo isso."
"De madrugada também está assim"
"Vai demorar, viu?", informa um funcionário a quem vai retirar uma senha na triagem para a covid no pronto-socorro do Hospital Municipal da Lapa, na zona oeste. "Lá dentro está tudo lotado, muita, muita gente", justifica.
Como a AMA Jardim Peri, o PS Lapa funciona 24 horas e, segundo os funcionários do local, tem tido alta procura em todos os horários. "À noite, de madrugada, agora está tudo assim", afirma o funcionário.
No meio da tarde desta terça, pelo menos oito pessoas esperavam na parte de fora. Por cima, a reportagem pôde contar pelo menos mais 11 —todos com suspeita de covid, à espera do primeiro atendimento. Se chegava algum caso mais grave, como o de uma mãe com um recém-nascido, furava a fila.
Lúcia Andrade, 34, disse que estava esperando há "mais de uma hora", mas tinha ouvido relatos de que a espera "lá dentro" era de mais três horas. A reportagem, que não teve acesso ao interior do hospital, não pode confirmar essa informação.
Atualmente, a triagem para covid no PS funciona na parte de trás do prédio, separada dos pacientes que buscam atendimento por outros motivos. Em novembro, o UOL denunciou que idosos estavam ocupando o mesmo espaço de suspeitos e infectados. Agora, é separado.
"A cidade conta, atualmente, com 1.154 leitos de UTI e 1.116 de enfermaria para covid-19. Antes da pandemia, a cidade contava com 507 leitos de UTI e, no auge da pandemia, alcançou 1.340 leitos. A administração municipal atuou de maneira emergencial na ampliação de leitos", respondeu ao UOL a SMS (Secretaria Municipal de Saúde).
O secretário Edson Aparecido tem falado publicamente da preocupação com o aumento de casos e tem defendido as medidas restritivas adotadas pelo governo estadual, como colocar todas as regiões na fase vermelha, a mais rígida do Plano São Paulo.
Para ele, medidas de restrição são fundamentais e precisam ocorrer em todo o estado" para que haja regressão da doença.
O sistema público de saúde, mesmo em uma cidade como São Paulo, pode rapidamente se esgotar se não reduzirmos a velocidade que a doença está se disseminando.
Edson Aparecido, secretário municipal de Saúde, em entrevista na semana passada
"A SMS alerta ser fundamental que as pessoas mantenham distanciamento social, evitem aglomerações e usem máscaras, pois a cidade continua em quarentena e todos os protocolos de biossegurança precisam ser respeitados para garantir a saúde e proteção da população", completou a secretaria.
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