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Empresas de oxigênio criticam estados e pedem prioridade na vacinação

Representantes das empresas acreditam que encarregados que fazem a entrega do insumo são como funcionários dos hospitais - TARLA WOLSKI/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Representantes das empresas acreditam que encarregados que fazem a entrega do insumo são como funcionários dos hospitais Imagem: TARLA WOLSKI/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Natália Lázaro

Colaboração para o UOL, em Brasília

18/03/2021 12h21

A CT (Comissão Temporária) da covid-19 no Senado debateu hoje as dificuldades de suprimento de oxigênio hospitalar para tratamento de pacientes com a doença. Segundo representantes das empresas de produção e distribuição do gás, a falta de planejamento das secretarias de saúde quanto à demanda do produto impede a fabricação do material de acordo com a necessidade. Além disso, elas alegam a dificuldade em transportar o insumo e pedem prioridade aos motoristas e técnicos na fila de vacinação.

"Com o aumento da pandemia muitas vezes algumas unidades que eram prontas para trabalhar com cilindros, unidade de pequeno atendimento, que denominamos as UPAs [Unidade de Pronto Atendimento], muitas vezes passa a se tornar centro de tratamento de covid-19, o que muda bastante o seu perfil de consumo. Na medida que a gente tem essas informações previamente a gente pode nos preparar melhor, expandir redes de oxigênios centralizados, instalar tanques", disse o diretor-executivo de negócios da produtora White Martins, Paulo César Gomes.

"Como fornecedor não temos a capacidade de prever a demanda, temos a condição de conhecê-la, prepará-la, mas os dados epidemiológicos são obtidos pelas secretarias dos estados", continuou.

De acordo com Rafael Montagner, representante da Air Products, houve um aumento em dez vezes da demanda dos hospitais acima do que estava previsto. "A dificuldade é a falta de previsibilidade para produção para que a empresa possa se organizar", disse.

Para ele, a falta de planejamento implica também na estrutura de armazenamento do gás pelas unidades de saúde. "É um desafio de transporte e estocagem dos hospitais. As estocagens são projetadas com o consumo esperado dos hospitais, e quando esse consumo tem aumento brutalmente cria uma pressão em toda a cadeira de produção", seguiu.

O sócio da Oxiacre Comércio e Distribuição de Gases, Luis Antônio Lopes , concorda com os empresários. "A nossa dificuldade no Acre é que tínhamos um cenário e esse produto de repente triplicou e a cada dia vem aumentando mais", afirmou.

Dificuldade de transporte e treinamento de equipe

Entre as principais reclamações dos produtores e distribuidores do produto está a particularidade do transporte da carga. Segundo Ridauto Lúcio Fernandes, do departamento de logística do Ministério da Saúde, para transportar o oxigênio é preciso manter uma temperatura específica dos caminhões, processo "bastante trabalhoso". "Se não tiver nessa temperatura, ele pode imbuir e se perder", explicou.

De acordo com Paulo César, para que o oxigênio chegue ao hospital é preciso treinar assistentes técnicos e motoristas que estão "na linha de frente entregando o produto". "É preciso ressaltar que os motoristas dos nossos caminhões, eles não são somente motoristas, mas também são operadores técnicos. Não é mão de obra fácil para ser contratada e treinada", pontuou.

Ele afirmou que o aumento da demanda não veio somente de Manaus, mas também do Acre, Ceará e Distrito Federal. Segundo ele, levar o produto em perfeitas condições para diferentes centros é um trabalho que demanda maior tempo e organização das empresas e dos estados. "Certas circunstâncias de atendimento demoram mais do que estavam previstas justamente para poder salvar vidas", concluiu.

Montagner reforçou as palavras do empresário quanto aos protocolos de segurança dos funcionários envolvidos. "Houve ações relacionadas a produção e distribuição, aos novos protocolos de segurança para proteger os funcionários, principalmente os de linha de frente, que estão todos os dias em hospitais fazendo entregar", comentou. "Eles precisam ser protegidos", disse.

Com este ponto de vista, o presidente da Indústria Brasileira de Gases, Newton de Oliveira, sugeriu que a categoria seja considerada como prioritária na fila de vacinação. "Queria sugerir que esse grupo que entra nos hospitais, que fosse considerado na fase de vacinação, eles funcionam como funcionários dos hospitais. Então pedimos por essa preferência na fase", defendeu.

"Existe bastante restrição, principalmente quanto ao pessoal. São transportes especializados, requer pessoal treinado e preparado. Esse pessoal não é fácil de encontrar no mercado", continuou.

A sugestão foi referendada pelo relator da Comissão, o senador Wellington Fagundes (PL-MT). "Vamos analisar o aspecto de prioridade dessas pessoas na fila de vacinação. Essas pessoas têm que entrar lá, ficar nos hospitais", defendeu.

Na fala, o parlamentar ressaltou que estava prevista a presença do ministro da Saúde na reunião de hoje. Porém, devido à transição da chefia no Ministério, a Comissão optou por postergar a data do convite para debater primeiramente a questão do oxigênio hospitalar.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que constava na primeira versão do texto, Rafael Montagner é representante da Air Products, e não da Air Liquide. A informação foi corrigida.