Topo

Nicolelis: Mortes vão continuar subindo e situação do país é "imprevisível"

O neurocientista Miguel Nicolelis - Bruno Santos/ Folhapress
O neurocientista Miguel Nicolelis Imagem: Bruno Santos/ Folhapress

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

23/03/2021 20h38

No final de fevereiro, o neurocientista Miguel Nicolelis previu que o Brasil alcançaria 3.000 óbitos pela covid-19 caso não fossem tomadas medidas radicais de isolamento social.

Apesar das críticas pela aposta, o país chegou a esse dia hoje, com o registro de 3.158 mortes em 24 horas, segundo dados do consórcio de imprensa do qual o UOL faz parte.

"Acho que a situação do Brasil é imprevisível. O colapso nacional já tinha ocorrido há alguns dias e agora tudo pode acontecer", afirma.

Ele lembra que, só em São Paulo, são mais de mil pessoas em fila de espera por um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Para Nicolelis, não há dúvida de que muitas pessoas vão morrer sem o devido atendimento, o que deve aumentar a mortalidade da doença.

"Não temos esse dado nacional, mas temos uma fila de espera que aumenta dramaticamente em muitos locais. Ninguém consegue fazer mais uma previsão muito apurada, mas será um número explosivo de mortes nos próximos dias", diz.

Ele defende que a única solução para reduzir os óbitos em médio prazo é que o país entre em um fechamento total.

"Mas, pelo tamanho do colapso que atingimos, teria de ser mais que os 21 dias de lockdown que tinha imaginado um mês atrás. Teria de ser ao menos um mês. Foram empurrando com a barriga, não fizeram lockdown quando cruzou os 80% de ocupação de UTI. Não poderia esperar 95%", completa.

Apesar do momento delicado, diz que tem sentido uma mudança de comportamento social, com mais cobrança a medidas de contenção da pandemia.

"A minha sensação, vendo ou conversando com as pessoas, é que está havendo uma virada da própria falta de empatia humana com o desastre. Ouso dizer que há um aumento da temperatura [em relação a cobranças]", afirma.

"Torço que não piore, que algo aconteça. Mas o que vemos no horizonte federal e com um inverno chegando trazendo aumento de outras doenças respiratórias é uma situação dramática", finaliza.