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A jornalista Carla Bigatto conduz com analistas um papo sobre temas que dominam a pauta política.


Baixo Clero #78 | Nicolelis: Vamos passar 3.000 mortos diários pela covid como um foguete

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Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/03/2021 21h48

O cenário da pandemia de covid-19 no Brasil vai mudar rapidamente —e para pior. Não há previsão de retorno ao que era a vida antes da descoberta do novo coronavírus. É o que explica o médico e neurocientista Miguel Nicolelis no episódio #78 do Baixo Clero, o podcast de política do UOL.

Junto dos colunistas Diogo Schelp e Maria Carolina Trevisan e da apresentadora Carla Bigatto, o especialista apresentou um cenário pessimista, apesar de já contarmos com uma média móvel de mais de 2.000 óbitos por dia.

"Nós vamos passar 3.000 que nem um foguete. Onde vai parar se nada for feito? Hoje, com todas as pessoas do Brasil com que conversei, ninguém tem ideia", analisa Nicolelis (ver a partir de 5:10 no vídeo acima).

Há colapso nos sistemas de saúde em todas as regiões do país, com São Paulo, por exemplo, tendo fila superior a 400 pacientes à espera de um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Depois de ser questionado pela jornalista Maria Carolina Trevisan se há alguma medida que evite tal catástrofe, o médico explicou ser difícil. "É mais provável termos outros colapsos antes disso."

"Vi imagens de uma cidade no interior de Pernambuco, com corpos [amontoados]. A região está inundada com casos e não se está dando conta das mortes naturais. A próxima previsão é o colapso funerário", diz (ver a partir de 6:00 no vídeo acima).

Nicolelis reforça o perigo de chegarmos ao ponto de os cemitérios não comportarem tantas mortes: "Começamos a falar de infecções secundárias, contaminação do solo, lençóis freáticos... Entra em uma escala das batalhas da Segunda Guerra Mundial", cita (ver a partir de 7:00 no vídeo acima).

Schelp trouxe a informação de medicamentos em falta nos hospitais, citando casos em São Paulo de pessoas serem intubadas sem sedativos. Para isso, elas são amarradas. Nicolelis considera um absurdo.

"Intubar um paciente é um procedimento extremamente delicado e difícil. Fazer com paciente amarrado, não consigo conceber. É o registro do colapso do sistema de saúde", define (ver a partir de 15:10 do vídeo acima).

Frigideira

Após a entrevista com Nicolelis (mais trechos serão publicados amanhã e sábado), os colunistas debateram sobre a queda da popularidade de Jair Bolsonaro, mostrado por pesquisa desta semana do Instituto Datafolha.

Ambos consideram natural um impacto por conta da crise nacional na saúde. "A negligência no combate à pandemia consolida a rejeição a Bolsonaro", avalia Trevisan, citando que a pandemia "expôs mais rápido a incapacidade de gestão do presidente" (ver a partir de 55:30 no vídeo acima).

Schelp foi além: a falta de uma sustentação financeira para a população desde o término nas parcelas de R$ 600 do auxílio emergencial também interfere na popularidade do mandatário. "Um novo auxílio emergencial não ajudará na popularidade de Bolsonaro", afirma (ver a partir de 57:30 no vídeo acima).

Os dois ainda elegeram seus nomes para a frigideira da semana, quadro do Baixo Clero em que nomes da política são apontados como o ponto mais lastimável da semana.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, entrou na frigideira de Schelp por instaurar inquérito contra pessoas que protestaram contrariamente ao governo federal e a Bolsonaro.

"Um sociólogo coloca num outdoor que Bolsonaro não vale um pequi roído e o governo resolve intimidar as pessoas. Assim, Mendonça torna um ministro da censura", classifica (ver a partir de 1:03:20 no vídeo acima).

Trevisan, que também escolheria o ministro como o nome a ser fritado, optou por colocar o presidente nacional do PSDB, o ex-deputado Bruno Araújo, por falar que preferia "tomar um tiro" caso o segundo turno da eleição presidencial de 2022 fique entre Bolsonaro e Lula.

"É uma fala muito equivocada. Ainda mais em um país cada vez mais armado, que produz cada vez mais o ódio. O eleitor do PSDB quer mais diálogo, não bala", defende a colunista (ver a partir de 1:05:10 no vídeo acima).

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